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O dia do meu aniversário

Hoje eu acordei chato e fiz muita manha. Todos os dias eu não posso fazer manha porque a mamãe diz que é feio e às vezes ela briga comigo, mas nos dias que é dia do meu aniversário eu fico bem manhoso porque a mamãe diz que eu posso. Eu não sei por que no dia do meu aniversário eu posso fazer coisas que nos outros dias eu não posso. Eu perguntei para mamãe e ela disse que é porque esse dia é especial, mas eu acho que ela também não sabe o motivo porque não é nada especial. Eu só fiz mais um ano.

Ontem quando eu fui dormir, eu tinha três anos, mas aí eu acordei hoje com quatro anos. Eu também perguntei para mamãe como isso funciona porque não faz sentido a gente dormir de um jeito e acordar de outro, mas ela disse é normal. Eu acho que ela também não sabe como isso funciona.

Os adultos são todos inteligentes, eles sabem de tudo que as crianças não sabem e eles também nunca choram porque chorar é coisa de neném, meu irmão Mycoft que me disse. Mas a mamãe é burra porque ela nunca sabe me ensinar as coisas que eu não sei, ela só sabe falar coisas que não fazem sentido.

O meu irmão Mycoft ainda não é adulto porque ele chora às vezes quando a mamãe não deixa ele comer bolo, mas ele é bastante inteligente. Ele me ensina um montão de coisas. Só que às vezes ele implica muito comigo e eu choro.

O papai só existe às vezes porque ele trabalha muito. A mamãe disse que ele não para de existir quando está viajando, mas o Mycoft disse que sim. Ele me ensinou que o papai para de existir às vezes porque eu encho o saco. Eu não acho que eu encho o saco, mas eu confio mais no que o Mycoft fala porque a mamãe é burra.

Uma vez, na semana passada quando o papai voltou a existir, ele trazeu um presente pra mim e outro pro Mycoft, mas o Mycoft é invejoso e quebrou o meu e eu chorei.

Hoje o papai está existindo desde ontem. Ele ainda está dormindo, mas a mamãe contou que ele deu um presente pra mim. O papai não deu um presente pro Mycoft hoje porque é dia só do meu aniversário. O dia do aniversário do Mycoft é bem depois lá perto do Papai Noel e o Papai Noel mora no Natal.

A mamãe me deu presente também, mas eu gostei mais do presente do papai porque ele sim cabeu direitinho em mim.

Eu gosto de piratas. O papai me deu um chapéu de pirata e uma espada de pirata. A mamãe me deu um barco de pirata, mas eu não cabo dentro dele porque ele é bem pequenininho. A mamãe deve ter achado que eu ia caber nele porque eu sou pequeno também, eu sou o menor da minha casa, mas ela é burra e comprou pequeno demais. Ela disse que não comprou errado nada e me ensinou que ele é pra brincar na piscina da nossa casa temporária, mas eu não sei se acredito.

Todo dia que é dia do meu aniversário o papai existe uma semana toda e a gente vai morar em outra casa. Eu não sei por que a gente sai da nossa casa normal, mas eu não reclamo porque as nossas casas temporárias sempre tem piscina e um monte de amiguinhos. Geralmente eu não falo com meus amiguinhos porque eu tenho guegonha, mas a mamãe diz eu deveria. Meus amiguinhos ficam brincando e eu gosto de ficar olhando.

Ontem quando a gente chegou na casa nova, o papai falou com uma mulher e ela deu uma chave pra ele, é estranho porque lá na nossa outra casa a mamãe que fica com a chave, mas aqui é tudo diferente. A gente subiu no elevador; na nossa outra casa não tem elevador, só escadas, mas a mamãe disse que aqui tem porque é bem mais alto e não dá para subir tudo de escadas. Eu acho que nisso a mamãe está certa porque a gente mora no andar que eu nem sei contar e eu sei contar bastante até vinte. Eu sei porque eu tenho vinte dedinhos.

— Mamãe, quando eu aprender a contar mais, até um milhão, eu vou ter um milhão de dedinhos? — eu perguntei pra mamãe assim que eu tive dúvidas porque se eu esperar pra depois eu esqueço tudinho e fico sem saber, daí eu demoro mais pra virar gente grande.