Sons de batidas à porta despertaram Ana. Antes que ela pudesse levantar, Tânia, a funcionária da manhã, invadiu o quarto.
- Levanta e se troca, você tem visita.
Ana calçou um par de cada tênis, dos dois únicos pares que tinha. Resultado do despertar repentino.Todas as crianças passavam por reuniões antes de sair. Essas reuniões buscavam encaminhá-los para cursos profissionalizantes e para abrigos. Preparavam, embora de maneira superficial, para a vida fora do orfanato.
Lavou o rosto, fez um bochecho e prendeu os cabelos encaracolados.
Saiu do quatro e deu de encontro com Tânia.
- Ela está aguardando no jardim dos fundos.
Jardim dos fundos. Essas palavras ecoaram na cabeça de Ana. O jardim dos fundos era uma área proibida. Nunca uma criança entrava lá. Pelo menos nenhuma da qual Ana pudesse lembrar. "Ou era lá a última entrevista de todas as que saíram, mas não comentavam na despedida por assinarem um contrato de confidencialidade?"Ela caminhava pelo corredor mal iluminado em direção à resposta.A porta fechou atrás de Ana. Ela estava num ambiente totalmente diferente do habitual: um lugar bem cuidado, com flores, gramado, árvores. Um lugar bonito e intocado pelas crianças. "A beleza existe até nos piores lugares". Ana inspirou o ar que emanava o cheiro das flores. Uma experiência totalmente nova para ela.Avistou uma mulher, sentada de costas para ela num banco de madeira. "Que lugar maravilhoso para fazer uma reunião".Ana se aproximou e a mulher, ao ver a garota, levantou num impulso.- Ah, oi, meu nome é Denise.- Ana, mas isso você já sabe.- Quer se sentar ou ficar em pé?- É a minha primeira entrevista, é você quem manda.- Entrevista? Elas não contaram? Ana eu sou a sua mãe.Por um instante o coração de Ana parou.Os inúmeros aniversários, dias das mães, dos pais, das crianças... Tantas datas especiais nas quais Ana subia à laje e procurava com afinco por uma estrela cadente que lhe concedesse um pedido: ter sua família de volta. Ela precisava de uma única chance, conquistaria todos eles numa visita. Mas eles nunca vieram, até agora. E agora era tarde.
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A distância das estrelas
Teen FictionAna viveu em um orfanato até os 16 anos. Quando está prestes a conseguir a tão aguardada "liberdade", uma visita muda totalmente os seus planos. Pelo menos, agora ela não está tão sozinha no mundo como sempre imaginou.