Prólogo

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São tempos difíceis. O mundo está afundado em uma guerra.
Quase seis séculos se passaram desde o seu início, mas parece
não haver nada que indique que as batalhas caminham para
um fim. Seres de todas as raças nascem predestinados a viverem a
guerra até que ela arranque suas vidas. Tanto tempo se passou que
alguns nem se lembram do motivo pelo qual estão lutando. Muitos
morrem pela honra, mas sem saberem ao certo o que estão honran-
do. Anões, humanos, elfos e orcs, não existem diferenças na guerra;
só existem dois lados: daemon e angeli. E tudo o que importa na
guerra é de que lado você luta.
Os daemon são criaturas horríveis e, em alguns casos, é difícil até
de entender o que dizem. Não têm uma forma definida, ou seja, po-
dem se parecer com anões, humanos e até mesmo com animais. Além
disso, podem ser diferenciados pelas grandes armaduras negras que
protegem seus corpos e pelos olhos vermelhos que parecem estar sem-
pre sangrando. Dizem que os daemon vieram do próprio inferno.
Qualquer um que encontrasse um não iria perguntar o porquê. O
único momento em que um daemon parecia estar satisfeito era quan-
do lhe aparecia a oportunidade de matar alguém. Em geral, os dae-
mon eram apoiados por anões, orcs e alguns humanos.
Mas a maldade também pode ser encontrada na flor mais bela e
a prova disso estava no lado oposto, os angeli. Criaturas aparente-
mente divinas, era raro encontrar tanta delicadeza e beleza em um ser.

Em geral, tinham forma de humanos ou elfos, com olhos bem claros
como joias. Assim como os daemon, os mais poderosos tinham habi-
lidades sobrenaturais, como telecinese e telepatia. Diferentemente
dos daemon, sabiam falar diversas línguas e esbanjavam tamanha cor-
tesia que chegavam a surpreender até mesmo os elfos das mais nobres
linhagens. No entanto, tinham a mesma sede por sangue que os dae-
mon. Só que eram mais espertos, pois, antes de matar, sempre tortu-
ravam o inimigo para obter dele alguma informação. Os angeli ti-
nham ao seu lado os elfos e a maioria dos humanos.
Apesar de tantas diferenças e de quase seis séculos lutando uns
contra os outros, os angeli e os daemon já foram aliados e juntos pro-
tagonizaram a maior guerra de todos os tempos. Foi nessa guerra que
tudo mudou. Depois dela, a Ordem Igualitária das Raças passou a ser
chamada apenas de Velha Ordem.
A Ordem Igualitária das Raças era o sistema pré-guerra moldado
pelos donmen e que tinha como principais características a igualdade
e a prosperidade para todas as raças. Os donmen eram portadores de
um poder sobrenatural incrível; eram até mais poderosos que os dae-
mon e os angeli, e tinham uma filosofia altruísta. Sempre queriam
ajudar. Muitos se referiam aos donmen como sábios ou até como
presentes de luz, pois eles sempre esclareciam as coisas. A diplomacia
dos donmen, com muito sacrifício, promoveu a paz e a cooperação
entre as raças nesse período.
Já fazia muito tempo que os donmen não eram vistos e, por
isso, dizia-se que haviam sido extintos pelos daemon e pelos ange-
li na guerra que dera fim à Velha Ordem. Mas também existia
quem acreditasse que todos os donmen haviam fugido para as cha-
madas Terras Virgens e que lá estariam montando um poderoso
exército para surpreender os daemon e os angeli. Assim, liberta-
riam todas as raças e trariam a harmonia de volta ao mundo. Po-
rém, depois de quase seis séculos, essa história ia perdendo a cre-
dibilidade e se tornando cada vez mais uma mera oração.

No entanto, por todas as raças, os donmen eram sempre lembrados em
canções que homenageavam os “Dias Felizes” ou “Dias Ilumina-
dos” referentes à Velha Ordem.
As Terras Virgens, de fato, existiam e quase seiscentos anos de
guerra não tinham sido o suficiente para preencher o mundo todo
com batalhas. “Virgens” é uma referência ao fato de que essas terras
ainda não haviam sido tocadas pela guerra e, para muitos, chegar até
elas era sinônimo de esperança. Entretanto, para alcançar o paraíso, o
mais difícil não era fugir da guerra, mas sim o caminho até ele, que
era muito árduo, pois não havia nenhum mapa para servir de guia. A
fome, a sede e o calor escaldante de um enorme deserto, conhecido
como Deserto dos Ossos, estava à espera de quem se arriscasse.
Esta história começa no paraíso, longe, muito longe da guerra.

Guerra Das Raças-A Caça Aos DesertoresOnde histórias criam vida. Descubra agora