1 - Encanto

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O sol estava pra se por naquela tarde e em alguns minutos escureceria. As nuvens ganhavam um tom alaranjado e o tempo ficava mais ameno, retirando aquele calor de quase quarenta que fez hoje.

Sentei-me em uma mesa de uma lanchonete do lado de fora, aguardando ser atendido e quando ocorreu, apenas pedi um copo de suco de laranja.

A mesa era quadrada e vermelha, uma das minhas cores prediletas, pois nesse momento eu usava as minhas costumeiras roupas pretas.

Apoiei minhas costas no assento e observei as nuvens acima de mim, passarem devagar e me instigando a sonhar acordado como sempre.

Duas moças jaziam sentadas e conversavam animadamente sobre algum livro que eu ainda não conhecia. Custei a prestar atenção na conversa, mas, se tornara impossível não reparar no sorriso de uma delas, a única que estava de frente pra mim.

Seus olhos castanhos brilhavam com o dialogo que eu pouco notava agora. Seus cabelos amarrados em um coque pra amenizar o calor da tarde, davam a sua aparência algo a mais.

Seu pescoço e nuca completamente expostos me faziam imaginar cenas das quais não me permetia pensar com frequência. Seus lábios. Sim, os seus lábios eram delicados e quando sorriam, eu podia ver o quão desejaria fazê-la sorrir todas as manhãs e em todos os momentos de sua vida.

Sua roupa era um vestido floral, simples, longo e bem ajustado ao seu corpo, em tons alegres. Tudo nela erradiava beleza, tanto de sua aparência, tanto de sua forma de pronunciar as palavras.

Sua amiga foi embora e meu suco chegou, sem que eu notasse, pois não tirava os olhos daquela encantadora visão. Admirei-me ao vê-la colocar óculos em sua face, semelhantes aos meus, mas os dela eram quadrados de bordas negras e o meu era redondo de mesma cor.

Dei um gole em meu suco, enquanto ela abria um livro e começava sua leitura. O sol estava agora se pondo e a fina escuridão lutava com a claridade pra tomar o seu posto novamente essa noite.

Em um determinado momento, em que meu suco acabara, sem que eu realmente tenha notado, ela olhou pra mim por cima do óculos e naquele momento eu fiquei sem reação.

Aqueles lindos olhos focados diretamente nos meus, enquanto meu coração acelerava em demasiado compasso, ela fechou o seu livro e veio até mim com um sorriso no rosto.

- Olá. - ela disse em um tom amistoso - Percebi que me olhou desde o momento em que chegou. Posso saber o motivo?

- Perdoe-me, senhorita. - respondi, levantando-me de pronto - Fascinei-me pelo seu sorriso e por sua forma de se expressar, que não tive coragem de desviar o olhar, pois não queria de modo algum esquecer sua feição.

- Encantador. - ela sorriu mais uma vez - Fico lisonjeada com o elogio.

- Encantado estou, pela senhorita. - segurei sua mão e a beijei no dorso, voltando meu olhar direto para o dela - Permita-me a honra de conhecê-la, Milady.

- Como recusar uma oferta tão gentil, de um cavalheiro. - ela segurou as pontas de seu vestido, fazendo uma cortesia - Quem diria que por acaso encontraria alguém interessado em conhecer-me.

O céu ja estava em seus tons azul escuro, pendendo para o negro e pontinhos luminosos começavam a aparecer. Os postes ligaram suas luzes e muitos veículos começavam a transitar pela via, na saída de seus respectivos trabalhos.

- Conhecer é apenas o primeiro passo, senhorita. - disse à ela - É o mais importante. Então assim eu poderei desejar viver os sonhos que permenham minha mente ao vislumbrar sua presença.

- Você é uma peça rara. - ela respondeu ao meu galanteio.

- Raro, Milady, é ter a oportunidade de mudar a sua vida e deixa-la passar. Sabendo disso, convido-te a acompanhar-me pela estrada da vida, pois é lá que iremos ver o que de belo pode acontecer.

Ela sorriu e dessa vez, sem pressa, demorei-me em admirar e ao toque de sua mão em minha face, voltei à olhar em seus olhos.

- Convite aceito, caro cavalheiro...

O sorriso delaOnde histórias criam vida. Descubra agora