E foi naquele momento em que o pano caiu suave, lento e frágil de encontro ao alcatrão. Naquele momento, o meu receio tornou-se visão, o meu nervosísmo controlo e a minha hesteria numa adrenalina que percorria o meu corpo e fazia sentir-me mais vivo do que alguma vez.
O carro deslizava cada vez mais, as curvas tornavam-se cada vez mais apertadas, os buracos faziam-me embater com força no teto, as minhas mãos começavam a escorregar-me do volante, mas a meta estava tão próxima, eu não podia parar, eu não conseguia parar.
Gritos ouviam-se, tinha acabado de cruzar a meta, mais uma vitória pensei enquanto gritava de alegria e foi então que aconteceu.
-Olá, está aqui alguém?
Acordei. Estava deitado no chão, mas não no chão de alcatrão, aliás não era bem um chão, era relva. Olhei em volta. Estava num parque, num lago, no sítio mais bonito que alguma vez tinha visto. Levantei-me.
-Olá!?
Repetia enuqnato olhava em volta. Estava tudo deserto. Deis uns paços até o lago. Tinha a água clarinha, nela estava efletido o céu, as nuvens, os raios de sol.
-Leonardo?!
Uma voz soou mesmo atrás de mim, uma figura alta estava refletida na água. Virei-me rapidamente.
-Eu! Quem és tu?
Perguntei desconfiado. O olhar dele vidrou no meu. Não se mexia. Parecia uma estátua imóvel, com uma garbadina preta e uma blusa preta por baixo com gravata azul-escura a fazer contraste. Tinha uma cara séria, uma cara de poucos amigos.
-O meu nome é Dosein.
Respondeu.
-E podes dizer-me onde estou ou vou ter de perguntar?
Disse.
-Podes ser uma ícone de rapaz rebelde lá. -Aproximou-se. -Aqui não! Podes esquecer essa tua atitude arrogante, essa atitude de que não queres saber de nada. Tens uma oportunidade para te redimires, se não o fizeres dentro de 2semanas, esquece a tua vidinha.
Afastou-se e por um segundo virei o meu olhar e ele já não estava em lado nenhum. Nada estava no sítio. Estava noutro local, estava no hospital, e o mais estranho é que estava deitado na cama de hospital, eu estava deitado na cama de hospital e estava a ver-me. Não era possível. *Como é que... O quê? Mas...*
Começei a fastar-me, e foi então que me espetei contra uma mulher, uma enfermeira, mas ela nada fez. Eu não a senti na verdade, ninguém me conseguia ver. Eu estava ali, no corredor do hospital e mesmo assim ninguém me via. *Mas que raio?* Continuava a tocar nas pessoas, a falar com elas, a gritar mas ninguém ouvia, ninguém me via.
-Naaaaaaaaaoooooo!
Gritei de raiva e frustação, não sabia o que estava acontecer e parecia haver ali ninguém para me explicar.
-Estás bem?
Uma voz doce e feminina ouviu-se. Parecia que o som viajava lentamente pelos corredores.
-Consegues ver-me?
-Sim.E ouvi-te!
Sorriu. O seu sorriso iluminava o coredor, era o sorriso mais bonitos que ele alguma vez tinha visto.
-Eu percebi!
E mais uma vez, a sua boca simplesmente não conseguiu ficar fechada e mais uma plavra agressiva e odiosa saiu da boca dele.
-Não me podem obrigar a fazer isto!
Ela exclamou, o seu sorriso desapareceu, assim como ela.