Recomeço - Acampamento Semideus

Fingir, ou Morrer.

Acordei em um lugar fechado, três cortinas me cercando. À minha direita tinha um criado-mudo de mármore, uma pilha de remédios estava exposta em uma prateleira alta. À esquerda uma cadeira de sala de espera, e uma garota estava sentada nela.

-Chris? - disse tentando me levantar, uma péssima ideia.

Minha cabeça latejava e minha visão ficou turva. Até que Chris, provavelmente com expressão de desaprovação, encostou seus dedos na minha cabeça, em uma sequência (que eu conhecia muito bem), o que me fez voltar ao "normal".

- O Toque Santo! -falamos em uníssono, e caímos na risada.

-Não se esforce muito mocinha, recomendações médicas! - ela me olhou séria.

-Você quis dizer recomendações suas, não é?

Chris não me respondeu. Ela olhava atentamente algo atrás de mim. Olhei na mesma direção.

Mesmo através do vidro embaçado, era possível ver o corpo exato de Eknotey. Ele acenou para que Chris saísse, ela o fez.

Em menos de 20 segundos, Eknotey estava dentro da ala hospitalar que eu me encontrava. Ele me olhou sério.

-Você não se lembrará da profecia, nem de quem é seu pai - ele falou cantando. Ele estava querendo me hipnotizar? - Você viverá por 1 ano no chalé de Hermes, sem nem ao menos saber da existência da profecia. Esquecerá seu nome, esquecerá quem você é. A partir de agora você é Eduarda Alves. Nunca foi Mayra Mitchell.

- Desculpe Eknotey, mas esse lance de hipnose, não colou. Eu sei da profecia, sei quem eu sou, sem quem é meu pai. Eduarda Alves? Sério?

Ele me olhou confuso. Quantas pessoas ele já havia hipnotizado para esquecerem quem são? Ele se aproximou, ainda mais irritado.

-Você teva Alta. Quando sair, vá direto para a Casa Grande. - ele saiu deixando o ar tenso.

***

Estava a caminho da Casa Grande, observando as pessoas ao meu redor. Algumas jogavam vôlei, outras treinavam técnicas de luta. Ainda sim um ou outro olhava para mim.

Quando estava quase chegando, vi Eknotey me encarando. Ele entrou e eu o segui.
Já não aguentava mais subir escadas, quando finalmente cheguei ao último andar. Uma sala que cheirava a mofo, teias de aranha se estendiam pelas quinas das paredes, roseiras murchas e ressecadas no centro de uma mesa.

A mesa de madeira rangia conforme as pessoas ao redor se movimentavam. Consegui ver no breu do lugar: Chris, Lena, Myre, Steh e mais algumas pessoas que eu não reconhecia.

Um garoto me parecia familiar. Quando ele olhou para mim pude reconhecer os olhos esmeralda. Ele sorriu para mim, e eu sorri de volta.

Um estrondo se fez, passos pesados. Olhei para a entrada e vi Rafa ofegante, segurando no batente da porta.

-Eu estava na floresta e... Fui atacado e...

-Não precisa inventar desculpas, Mayra também chegou agora. Sentem-se. -  disse Eknotey.

Todos nós sentamos à mesa. Eknotey começou a falar.

-O plano inicial não funcionou. Mayra Mitchell tem alguma proteção mágica contra feitiços deste porte.

-Talvez algo mais forte funcionasse -Castiel se pronunciou - eu poderia...

-Melhor não. Da última vez, deu no que deu. - Myre falou pela primeira vez.

Estava confusa. Estavam falando sobre a hipnose falhada? Por que não queriam que eu me lembrasse?

-Por que não querem que eu me lembre?

-Sua profecia, ela é muito antiga. Se ela se concretizar, o mundo provavelmente estará em ruínas. - Começou Chris.

-Se descobrirem que você é filha de Zeus, a profecia se iniciará. - completou um garoto que eu não reconhecia.

- Se eu não posso esquecer, como proceder? Me matar?

-Claro que não! - disse um garoto que nem percebi que estava la. Ele estava no canto mais escuro da sala. Quando ele viu que eu o olhava, ele virou e se encolheu em um canto.

-O que você sugere?-Rafa perguntou.

-Poderíamos... Fingir que ninguém sabe de quem ela é filha. Podemos dizer que Zeus lhe concedeu uma beliche de seu chalé, por que o de Hermes estava lotado.- Ele parou um pouco para ver se não estávamos achando que ele estava louco. - Quem sabe consideirando-a Indefinida, consigamos mais tempo para nos preparar para a Gue.. Profecia.

Todos olharam para mim, esperando uma aprovação.

-Acho que posso tentar.