A morte do Jabuti

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Sabemos, pelo que desde os antigos dizem, e os mais novos confirmam, é que dos menores frascos se obtêm os melhores perfumes, mas, porque não que, dos menores contos obtivermos as piores histórias, como esta da qual narraremos.

Pior pois triste, desde que o boato sobre o nobre e suntuoso Jabuti espalhara-se, contavam que partira desta para uma melhor, que batera as botas, vestira o pijama de madeira, viajara para a terra do pé junto, cavara a própria cova.

Funesta tornou-se a floresta, com o sumiço do bicho, e todos os animais puseram-se a chorar. O Jabuti (diferente do leão, conforme fomos obrigados a pensar) era o rei da mata, imiscuído da honrosa incumbência de outorgar títulos de notoriedade àqueles que fizeram da língua portuguesa brasileira mister de excelsa profusão. O outros animais, de divulgarem as premiações.

No pretérito, bebeu da Água preta, ainda ontem comeu da Amora, deliciou-se com a Grabriela, Cravo e Canela, chegando à Resistência, mas (Óh!), diziam morto nosso galardão Jabuti. Alguns proferiam que não de agora, já morrera há algum tempo, notavam (segundo eles) consideráveis diferenças entre avaliações das obras antigas e das contemporâneas, todavia, tanto faz quando o animal (possivelmente) está morto, não há como julgá-lo, é mera especulação.

Mas como toda história, esta era de boato, nada confirmado, mistura de crença e suposição. Passado alguns dias, em que os animais misturavam lágrimas com esperança, perceberam, ao longe, num passo vagaroso, surgir de repente um réptil, provido de carapaça, exclusivamente terrestre, nativo do Brasil, do gênero Chenoloids, da ordem dos quelônios, da família dos testudinídeos.

Alegraram-se, aguardaram, esperançosos, pois (exatamente) era dia de se avaliar grandes obras literárias, haviam pilhas e pilhas de alfarrábios a lhe esperar. Em algumas horas ele, o (ansiado) Jabuti, chegou. Todavia, estava estranho, sua carapaça não ajustava-lhe ao molengo corpo, parecendo que a qualquer momento escapar-lhe-ia.

Sua cor verde-amarronzada estava mais para sujo de barro, suas unhas menores do que comumente, seus olhos duma matiz diferente. Ninguém obtemperou. Haviam saudades, haviam as necessidades do julgo do melhor, haviam as pressas do premiar em títulos.

O Jabuti ergueu-se em duas patas, o que fez a todos estranhar. De dentro de sua carapaça, arrancou um saco com um monte de livros, em idiomas estrangeiros, nenhum brasileiro, porém os tais melhores-vendidos.

Eu ser Jabuti, não ser!? Estes ser the news best sellers of literatura brasileira! Of course, merecem prêmio em my nome! The end! – e se retirou.

Muitos obedeceram ao pedido e divulgaram os prêmios aos indicados, assim como a toda população brasileira. Alguns outros, poucos crentes, disseram “está morto”, ainda outros “e não é de agora!”.

A morte do JabutiOnde histórias criam vida. Descubra agora