Coffee And Cigarettes

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Ser escritor não é tão fácil quanto algumas pessoas pensam que é. Não é tão difícil quanto outros trabalhos braçais, mas com certeza também é cansativo. Ainda mais quando se está escrevendo um livro e artigos pro jornal ao mesmo tempo.

Passar madrugadas e manhãs escrevendo capítulo e artigos, café sendo tomado em excesso, bloqueios criativos, a insegurança de se ter feito um bom trabalho e a vinda da criatividade nas horas mais inapropriadas.

Porém, no final tudo vale a pena quando se gosta de escrever. O problema é quando se tem um namorado como Johnny, ou melhor, Johnatan Kingsley.

- Rafa... Não acredito que ainda está acordado escrevendo, são três horas da manhã! - Escuto a voz do moreno vindo do corredor e reviro os olhos. - Se te conheço bem, já deve ter tomado umas seis xícaras de café...

O som da voz vai ficando cada vez mais e mais perto, estando ciente de que ele está vindo em minha direção. Sinto seus braços ao redor da minha cintura e sua respiração perto do meu ouvido. - E eu conheço.

Mordo levemente meu lábio inferior e me arrepio ao sentir seu hálito em meu pescoço. - Sim, me conheces muito bem, porém dessa vez eu tomei apenas três xícaras.

O escuto dar uma breve risada, sentido em seguida ele se afastar de mim. - Por qual motivo dessa vez? Muito cansado pra ir fazer mais café?

Solto um riso abafado e reviro novamente meus olhos, voltando nova atenção para o que estou escrevendo.

O pequeno sonido da porta da sacada sendo aberta, se faz presente, seguido da sensação do ar gelado da madrugada, entrando na casa. - Não, dessa vez é porque estou muito, muito concentrado na minha escrita.

- Sei...- Escuto o leve riscar e acender de um dos seus muitos isqueiros e torço o nariz. - Você vai acabar parando no hospital por tomar tanto café.

O cheiro de nicotina sendo queimada começa a impregnar o ar e eu começo a me irritar. - Ha! Olha quem fala, o cara que vive fumando! - Digo sem tirar os olhos da tela do computador. - E você sabe que eu odeio quando começa a fumar dentro de casa.

- E sei sim e por isso estou na sacada. Tecnicamente, eu não estou dentro de casa. - Sua voz é levemente abafada pelo cigarro em sua boca. - Já disse mil vezes e volto a repetir; Só paro de fumar, quando você, senhor Rafael parar de tomar café exageradamente

- Então, temos um impasse querido, pois eu só paro de "tomar café exageradamente", quando você parar de fumar, principalmente dentro de casa! - Bufo e pego minha xícara, tomando um longo gole, apenas para irritá-lo. - E que eu também já disse mil vezes qu-

- Já sei, já sei. Se você não toma café, não fica acordado. Se não fica acordado, não escreve. E se não escreve, não me ajuda a pagar as contas... - Ele faz uma pausa em sua fala, provavelmente para tragar o cigarro. - Vamos mesmo ter essa discussão novamente?

- Creio que não será preciso, não é mesmo? - O olho por cima do ombro rapidamente, vendo o moreno me olhar com cara de tédio e em seguida soprar a fumaça do cigarro, na minha direção. - Que saco, John! Eu detesto o cheiro dessa droga de cigarro!

Viro parcialmente meu corpo na direção de Johnny, vendo o mesmo apagar o cigarro no cinzeiro que está apoiado na grade da sacada. Ele vem até mim e para na minha frente, se apoiando com as mãos no encosto da minha cadeira, deixando seu rosto frente a frente com o meu. - Sim sei, assim como você sabe que eu detesto cheiro de café puro.

Aproximo mais nossos rostos, quase encostando nossos lábios... - Como pode não gostar? O gosto é tão bom. - Mas quando fui o beijar, ele se afastou rindo e foi até a cozinha, pegando minha xícara dali, que já estava vazia.

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