Próximo ao grande Obelisco de Buenos Aires, a movimentação era intensa. O mês de maio estava acabando e o clima estava frio. As pessoas estavam vestidas com casacos, agasalhos, gorros, cachecóis e até luvas, os mais jovens; preferiam vestir moletons bem grossos, com mais uma ou duas camisas por debaixo. O dia estava nublado, com nuvens opacas e cinzentas, enquanto aos poucos a noite chegava.
Sentado em um banco perto dali, Christopher terminava de desenhar um esboço de uma estátua que estava à sua frente. Ele gostava de estar ali; para ele, desenhar era sua paixão desde criança e possuía um talento excepcional para arte. Estava quase terminando, só faltavam mais alguns detalhes e então ele iria embora. Christopher era argentino, nascera e crescera em Buenos Aires; seus pais também eram, vivia com eles não tão longe dali. Seu pai era diretor de uma fábrica do ramo de eletrodomésticos; já sua mãe trabalhava como secretária no funcionalismo público argentino, moravam em um bairro de classe média e eram casados há vinte anos. Christopher nasceu no terceiro ano de casamento deles.
Ele tinha dezessete anos, estava no seu último ano no colégio, e então ele iria para a universidade. As esperanças de seu pai eram que ele optasse por uma carreira produtiva e de alta empregabilidade, como medicina ou administração de empresas, mas Christopher estava decidido a estudar artes. Adorava pinturas, esculturas e arquitetura antiga; contudo, seu pai via isso como algo totalmente infrutífero e nada promissor. Quanto à sua mãe, não demonstrava objeção ou aceitação em relação à sua escolha, pois acreditava que talvez fosse apenas algo passageiro. Sua avó, porém, apoiava a decisão de Christopher; ela adorava todos os seus desenhos, gravuras e quadros. Sua casa continha vários quadros feitos por ele; todos tinham desenhos, cores e formas variadas.
Ao terminar, ele guardou seu material de desenho na mochila, ajeitou seu casaco e o cachecol enrolado em seu pescoço, e seguiu andando para casa. Durante o caminho, ele gostava de observar as antigas construções, as áreas históricas da cidade, os parques, os casarões antigos, as ruas arborizadas e tudo ao seu redor. Tudo lhe causava a impressão de estar em algum lugar da Europa, porém era apenas a gigante, eclética e moderna cidade porteña. A arquitetura eclética antiga se misturava com a modernidade, prédios contemporâneos estavam eretos e podiam ser vistos de muito longe, alguns pertenciam às grandes corporações, já outros eram apartamentos de luxo. Certa vez quando ele e seus pais voltavam de Montevidéu, no Uruguai, ele observara os edifícios e arranha-céus e sua imensidão ao horizonte.
Parando em um cruzamento, do outro lado da rua, ele observou um grupo de turistas estrangeiros, um deles lhe chamou a atenção, pois, diferente dos demais, estava usando um cachecol amarelo com letras verdes que diziam "Brasil"
"Brasileiros", pensou ele, enquanto dava um sorriso com o canto da boca. As duas maiores nações sul-americanas podiam até ter suas rivalidades; porém, Christopher via as coisas de maneira mais amistosa, ele os via como um povo extrovertido e "aquarelado". O semáforo para pedestres abriu e eles atravessaram a rua, ao passar pelos turistas pôde escutar um pouco do que diziam.
- Realmente encantador – disse uma mulher ao lado do homem com o cachecol verde-amarelo.
- São tantos lugares lindos por aqui, quero explorar essas ruas durante esta temporada - disse o homem.
- Esses casarões me lembram quando viajei para Barcelona, é um pedaço da Europa aqui na América do Sul.
Christopher pôde entender um pouco do que falavam; sabia um pouco de português que aprendera na escola e também pela semelhança entre os dois idiomas.
Continuando a andar, viu as luzes dos postes começarem a acender, iluminando as ruas. Alguns eram mais antigos ao estilo da belle époque; outros eram mais atuais e sem graça. Andou por mais um tempo até chegar à casa onde morava.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Um Amor Em Buenos Aires - LIVRO COMPLETO NO SITE DA EDITORA UICLAP
RomanceChristopher é um jovem gay, argentino, que vive em Buenos Aires, adora desenhar, pintar e sonha em ser artista. Seu pai, porém, não concorda muito com essa ideia e tenta convencê-lo de desistir disso. Sua mãe se mantém mais neutra possível para não...