Começo a gostar de filmes de terror

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Semanas depois

Olho, impaciente para o celular, e vejo que horas são. Ela deveria estar aqui! Assim que penso em ligar, recebo uma mensagem dela. Teríamos que cancelar ... mais uma vez!

- E depois sou eu que não colaboro – resmungo, colocando o celular no bolso e saio andando pelo shopping.

Tá legal, ela teve um compromisso de última hora. Isso acontece! Mas quando é a terceira vez seguida, acho que eu tenho direito de ficar um pouco irritado!

Viro o corredor, pronto para ir para o estacionamento, quando dou de cara, literalmente, com uma morena de olhos azuis que eu conhecia muito bem.

- Será que vamos trombar toda vez que nos encontrarmos? – Camile levanta uma sobrancelha.

Dou risada.

- Foi mal ... Veio com as meninas? – pergunto.

Ela nega com a cabeça.

- Todas estão ocupadas, então decidi vir ao cinema sozinha!

- Sozinha?

- Algum problema? – ela cruza os braços.

- Não, é que não deve ser nada legal não ter companhia ...

Ela olha bem pra mim por um segundo e depois da de ombros.

- Então por que não vem comigo?

Olho hesitante para ela e depois para o celular em minha mão. Ela respira fundo e dá as costas para mim, dizendo:

- Nos vemos depois, Fells ...

Vejo-a se afastar. Quer saber? Que se dane ...

- Que filme? – pergunto e ela para. Percebo em sua voz que ela está sorrindo quando diz:

- Espero que não tenha medo de filmes de terror!

Compramos os ingressos e pipoca. Escolhemos dois lugares bem no meio e esperamos começar. Tenho que admitir que nunca vi filmes assim ... Sei lá, nunca tive muito interesse! Quando disse isso para ela, a resposta não foi muito boa.

- Como não? – disse, indignada – Nunca viu "O Chamado", ou "Atividade Paranormal"?

- Não ...

- Nem mesmo "Pânico"? Até minha prima de 10 anos viu!

- Eu não tenho medo, eu só não vejo graça! – dou risada e alguém atrás de nós manda eu ficar quieto.

Depois de alguns segundos, ela sussurra:

- Talvez por não ser uma comédia, e sim filme de terror!

Nos encaramos no escuro por um tempo. Tudo que eu via era um lado do seu rosto, iluminado pela tela. Ela lança um olhar provocando e aperto os olhos. Jogo uma pipoca nela e antes que ela pudesse revidar, viro para frente. Posso vê-la revirando os olhos e continuamos a ver o filme.

Admito que não era ruim. Mesmo sendo previsível!

- É obvio que ela vai estar ali e ... – não consigo terminar a frase, pois a garota pulou na frente da câmera, o que fez todos, inclusive nós, nos assustarmos. Sem que eu perceba, seguro sua mão, e ela meu braço. Logo depois relaxamos e ela tira a mão do meu braço, sorrindo.

- O que você ia dizer mesmo?

Dou risada e reviro os olhos. O resto do filme passou rápido, mas uma coisa não saia da minha cabeça. O fato de ela não ter feito nenhuma tentativa de soltar minha mão...

...

Fecho a porta do quarto com cuidado e respiro fundo. Assim que me viro, vejo Isaac apoiado na janela.

- Isaac! –digo, um pouco alto demais – O que faz aqui?

- Isso é hora para voltar para casa, mocinho? – ele zomba, com as mão na cintura.

- Cara, você está parecendo minha avó, falando assim! – me jogo na cadeira de rodinhas.

- Como foi com a Camile? – ele senta na cama

- Foi ... Espera! Como sabe? – viro pra ele.

- Talvez porque minha namorada e elas são melhores amigas ... Quanto tempo achou que ia demorar para eu ficar sabendo? – ele me olha como se isso fosse a coisa mais óbvia do mundo.

Levanto as mãos, me rendendo e fico girando na cadeira.

- Foi ... legal! – dou de ombros.

Ele ri.

- Becky desmarcou de novo – olho para o celular. Nada.

- Imaginei – ele sussurra – Mas então ... Você ... Ela ... cinema... – ele levanta a sobrancelha.

- Não rolou nada! – paro de girar

- HA! Sei ... – ele cruza os braços – Pff... Por favor! Vai dizer que não teve nem um climinha?

Não respondo e ele comemora.

- Sabia! Esse é meu garoto! – ele bate no meu ombro e jogo um papel amaçado nele.

- Cala a boca! Não foi nada... E eu tenho namorada, lembra?

- Lembro sim, mas ... E digo isso sem querer ofender ... ela não ta dando a mínima para você! Sério!

Bufo e tombo a cabeça para trás, voltando a girar.

- Eu sei – fecho os olhos – Achei que depois que esclarecemos tudo, ia melhorar, mas parece que só piorou.

- Talvez esteja na hora de, você sabe ... Seguir a vida! – ele segura a cadeira, virando-me para ele– Dar uma chance para a Camile...

- Chance? Cara, eu nem gosto dela assim! – empurro ele.

- Ah, e você demonstra isso muito bem ... – ele resmunga.

- Como assim?

Ele da de ombros e aponta para minha mesa. Sei exatamente o que tem lá. O pendrive dela. Confesso que tenho passado tempo demais ouvindo suas músicas e não comentei com ela sobre ele. Nem me pergunte o motivo ...

Começo a negar, mas ele diz:

- Sem essa de "não significa nada"! Vítor, te conheço desde sempre... Somos praticamente irmãos! E eu sei que tem algo mais aí. Algo nessa garota faz você gostar dela!

Não digo nada e ele vai até a janela. Antes de sair, diz:

- Quanto antes admitir isso para si mesmo, melhor vai ser!

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