NÓS

Capitulo 3

- Senta-te, o pequeno-almoço está pronto- disse a minha mãe, enquanto fritava algo na frigideira.

Obedeci, e sentei-me no canto da mesa, olhando para a caneca de leite que se encontrava à minha frente.

Eu odeio leite... sempre odiei.

-Mãe... - comecei a falar- Hoje é a apresentação dos...

-Cala-te e come- falou a minha mãe interrompendo-me, enquanto se sentava no canto oposto da mesa. Suspirei e voltei a olhar para a mesa. Quando dei a primeira trinca no pão seco que era obrigada a comer, senti uma nova presença na cozinha.

Era o meu irmão.

Ele imediatamente olhou para mim, e um pequeno sorriso nasceu nos seus lábios, fazendo-me sorrir de volta. Apesar de tudo o que aconteceu, o meu irmão sempre se preocupou comigo, e embora estejamos proibidos de falar, nós sempre damos a volta.

-Dylan!- repreendeu a minha mãe- Pára de sorrir para a Alexia, e come o teu pequeno-almoço.

Dylan sentou-se, e nenhuma palavra foi mais ouvida. O clima na cozinha tornou-se pesado e sufocante.

O silêncio dominou a sala, e tudo o que se ouvia era o barulho irritante dos talheres a bater nos pratos. Eu permaneci a olhar para o chão, enquanto esperava a permissão para me levantar.

-Sabes Alexia... - começou a minha mãe enquanto olhava atentamente para mim- Tu até que és bonita.

Espanto dominou o meu corpo, enquanto ouvia as palavras da minha mãe. Ela nunca me elogiava.

-Se não fosses maluca e doente, sabes...-continuou- Tinhas qualquer rapaz aos teus pés.

Respirei fundo e fechei os olhos com força.

Eu não queria responder.

Não queria insultá-la.

Não queria que me batessem à noite.

Portanto, apenas me limitei a levantar e sair o mais rápido possível daquela divisão.

Eu estava cansada de ouvir o que a minha mãe me dizia. Estava cansada de me sentir julgada todos os dias. Eu sabia que era verdade, que eu era doente... mas ela era minha mãe.

Fechei a porta do meu quarto com força e deitei-me brutamente na cama. Enquanto olhava directamente para o tecto, novos pensamentos começaram a surgir.

Hoje era a recepção aos caloiros na minha nova Universidade, e por isso tinha de marcar presença no Campus na parte da tarde.

Secretamente, lá no fundo, eu estava muito satisfeita comigo própria por ter conseguido entrar numa das melhores Universidades do país. A verdade é que, tirando os meus distúrbios ocasionais, eu era uma aluna com excelentes notas.

Olhei para o despertador que estava em cima da minha mesinha de cabeceira e decidi que estava na hora de me preparar.

Estava na hora de mudar.

Peguei numas calças pretas justas, numas botas e numa blusa cor-de-vinho e vesti-me o mais rapidamente possível.

Queria sair o mais rápido possível desta casa.

Provavelmente, os meus pais nem se lembravam que eu de facto tinha entrado numa Universidade, no entanto, eu não dava a mínima.

Não mais.

Coloquei o máximo de roupa possível dentro da minha mochila, não esquecendo também das minhas higienes. Eu estava pronta para abandonar esta casa, e era esse o meu objectivo enquanto descia as escadas a correr, no entanto fui parada pela minha mãe, que se encontrava em frente à porta principal.