Entre domingo e segunda

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A mesa do bar está lavada. É possível ver cada partícula de gelo derretendo, gota a gota, cria-se uma poça que reflete o brilho alaranjado do sol de fim de tarde. A nossa mesa não está embaixo do toldo, chegamos tarde e nos sobraram apenas esses pedaços de madeira quente fora do bar — Quase na calçada. Apesar de estar derretendo, a cerveja ainda garante o nosso bom humor.

– Ahhh cara, que inferno! Odeio calor — um amigo com o copo meio vazio comentou enquanto eu reparava nas gotículas em volta da cerveja

– Hahaha, mano! No frio reclamamos do frio, no calor, falamos mal do calor e quando faltam os dois, suplicamos para que algum apareça por aí para que possamos reclamar. E na boa, ta faltando assunto? Bebe a merda da cerveja até pensar em um assunto decente. — Outro respondeu com um sorriso imbecil no rosto, esse, ironicamente com o copo meio cheio.

Olho para os dois, abro um sorriso e ignoro o papo, eu estou esgotado — A caminhada do metrô para o bar, por mais curta que tenha sido, me derrubou. Bebo minha cerveja e volto a reparar na mesa, cada vez mais úmida, ensopada a ponto de transportar minha mente para um banho gelado em um banheiro estranho, daqueles de hotel, com um chuveiro irregular que apedreja as costas.

O Banho mental está ótimo, perfeito para o calor do momento e é para o meu corpo, o que uma cerveja gelada é para minha garganta. Alívio, prazer, felicidade, e de certa forma até esperança. Em seguida ouço:

– Velho, imagina se tivéssemos que trabalhar hoje, em plena segunda-feira, PQP! — Vomitou o cara do copo meio vazio

– Mano, pelo menos teríamos ar condicionado hahaha — retrucou o copo meio cheio.

Ao ouvir a palavra "trabalho", minha mente sai do banho gelado e se abre lentamente ao universo, começo a perceber que água passa a me grudar em algum tipo de tecido. Aos poucos vou percebendo que estou vestido, e a umidade não vem da mesa do bar e muito menos do banho mental, ela é puro suor, que sai do meu corpo enquanto durmo no meu quarto — Um cubículo extremamente abafado que está com todas as janelas e portas fechadas. Ao abrir os olhos, começo a ouvir gradativamente o grito desesperado do meu despertador, ele me tira na hora a sensação de refrescância que a cerveja trouxe para minha garganta e arranha de forma cruel os meus tímpanos.

Num súbito, após o desespero de lembrar que é segunda-feira e tenho que ir trabalhar, não pude deixar de pensar que ao menos lá, eu terei ar condicionado.

Entre domingo e segundaOnde histórias criam vida. Descubra agora