4| Just dance

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Valentina não tinha a mínima intenção de mentir, e é bem possível que ninguém tenha quando resolve incrementar uma história ou se safar de apenas uma coisinha. Tudo seria bem mais fácil se mentira não tivesse pernas curtas, mas aí qual seria a graça de tudo?

Val estava sentada dentro do vagão, as pernas cruzadas em posição de índio, minutos antes de desembarcar na estação próxima do Nuno. Os cabelos loiros presos em um rabo de cavalo e nas mãos uma mochila que havia ganhado da mãe de Diana no mês passado, vantagens de ser a melhor amiga da filha da dona de uma das lojas mais caras de Liverpool. Val tinha dispensado o motorista da família e se misturado aos outros cidadãos ingleses, mas parecia que o selo do ducado de sua família estava estampado na sua testa.

Quando mostrou o crachá na portaria do conservatório de música e deu meia-volta pelo jardim, se sentiu como que indo a um encontro clandestino, mas na verdade a loira apenas tirou uma escada do meio dos arbustos e a posicionou cuidadosamente. Jogou a mochila na sacada e subiu, sentindo seu coração parar toda vez que parecia escutar passos.

Aquela era a sua mentirinha.

Val entrou na sala dos olheiros, e ficou feliz ao observar que nenhum dos outros alunos ainda estava dançando. Não que seus pais não pudessem pagar para que ela assistisse às aulas como todo mundo, mas eles não aprovavam nada que não fosse clássico ou não desse status.

— Vamos começar em quatro minutos? — Guilherme lançou um olhar de advertência para os alunos parados. — Quero todo mundo dançando com a alma, entenderam? Esplêndido.

A loira colocou sua mochila em cima da cadeira, pegou uma presilha para prender os fios ainda soltos e se posicionou com a mão na cintura. Era incrível como ela podia vê-los, mas eles não faziam a mínima ideia da sua presença.

— Aisha e Daniel aqui na frente, um no lado esquerdo e um no centro, respectivamente. — Aisha era uma intercambista de seis meses vinda da Irlanda e Daniel, um brasileiro que morava em Liverpool desde o primeiro ano do ensino médio. — Ainda vai amarrar os tênis, Aisha? Eu vou enfartar qualquer dia desses.— Gui colocou as mãos no coração dramaticamente.

Valentina sorriu quando escutou a música das meninas do Fifth Harmony, Work From Home. Eles estavam ensaiando aquela coreografia há meses e mesmo que ela não fosse participar do show de talentos com o pessoal da dança urbana e sim com as pessoas do Ballet clássico, ainda torcia. A primeira parte foi bem mais tranquilo, era como se seus pés e seus braços estivessem de acordo em tudo, Valentina Gilbert parecia dançar com a alma e isso era inspirador. Seus quadris se mexiam por vontade própria e ela cantarolava a música baixinho.

Era esse o efeito que a música fazia com as pessoas, elas se sentiam poderosas.

— 3...2...1 — Gui gritou.

"You don't gotta go to work, work, Work..."

Todos caíram, giraram e se levantaram com maestria, quando ela olhou para frente, Daniel não estava mais, ele votou apenas 2 minutos depois e ela podia jurar que ele estava vendo-a.

Impossível.

Daniel era um dos melhores alunos da academia, praticamente uma lenda. Ele dizia que não estava muito acostumado a dançar no Brasil, mas ninguém acreditava que ele não tinha tido sequer anos de experiência. Dan usava uma regata branca com uma frase em português que eu não conseguia entender, os músculos expostos, os cabelos encaracolados molhados por causa do jato de água que ele jogou.

Conta outra.

— Vocês foram ótimos, mas Jake, deixa para fazer o carão só no refrão, por favor! — Gui aplaudiu, antes que todos, um a um, fossem saindo rapidamente para as outras aulas.

A música acabou?

Val estava completamente atrasada para a aula de violino, então jogou a mochila pela janela novamente e se posicionou para descer pela escada.

— Cadê? — Se desesperou. — No creo!

— Procurando por isso, Rapunzel? — Escutou uma voz grossa e viu alguém carregando exatamente a sua escada de madeira. — Desce. Gilbert, precisamos conversar.

***

Havia uma Starbucks no lado do Nuno, mas como os alunos não haviam sido liberados ainda das aulas, o local estava sem muito movimento. Val e Dan se sentaram em uma das mesas mais longes de tudo, a loira ficou brincando com o seu café, até ter a coragem de falar alguma coisa.

— O que você quer? — Valentina bebeu um gole do frappuccino e mal esperou que ele respondesse, antes de jogar outra pergunta. — Como você descobriu que era eu?

Daniel jogou alguma coisa na mesa.

— Você não tira essa pulseira desde que ganhou no primeiro ano. — A pulseira tinha vários pingentes, e alguns com a letra do alfabeto, que formavam "CARPE DIEM" em letras douradas e estilosas, Val ganhou isso da sua avó quando foi à Espanha. — Eu que limpo algumas salas, é como eu pago os 50% da bolsa.

— Achei que tinha perdido... — Valentina se lamentou. — Mas como eu posso te ajudar?

— Por enquanto? Com nada. — Daniel se levantou, jogando o dinheiro em cima da mesa. — Vai pela sombra, tá? Fui eu que descobri agora, mas o Nuno não perdoa erros.

Uma hora depois uma mensagem foi postada no Twitter pelo "Quem me contou?"

"Cuidado princesa, nem sempre o vilão da história é o dragão"

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Oi, gente.

Desculpa pela demora, mas por causa de alguns compromissos na escola, eu não consegui terminar o capítulo logo.


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⏰ Last updated: May 06, 2017 ⏰

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