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As luzes coloridas o cegavam. A música invadia seus ouvidos. Ele via, por entre as várias cores, garotas dançando. Elas seguravam copos de bebida enquanto olhavam para ele. Cobiça. Ele sabia. Mas não estava interessado. Ali, diante dele, estava um cardápio completo: ruivas, morenas, loiras. De cabelos curtos, compridos, cacheados. Apesar da luz escassa, elas eram lindas. Mas ele não estava interessado. Não.

Sua atenção estava voltada para a ponta mais distante, no sofá esquecido num canto daquele local esfumaçado e difuso. Seu interesse estava de pernas cruzadas, olhava para tudo aquilo, mas não parecia enxergar nada. Seus suspiros eram interrompidos pelos grandes tragos no cigarro orgânico, seguidos da fumaça que ela soltava no ambiente ao seu redor. Ela tinha olhos de desprezo. Lindos olhos de desprezo. Cabelos curtos, cacheados, moldados como se ela estivesse saído de um filme dos anos 60.

Ele mordia os lábios enquanto se aproximava devagar. Parou no meio do caminho. Não sabia se estava bem, toda sua autoconfiança parecia cair conforme chegava mais perto. Então, seus olhares se cruzaram. Ele tentou parecer distante, com aqueles cabelos penteados e aquela camisa social com os primeiros botões de cima abertos. O mundo pareceu parar por alguns instantes. Mas só alguns. Logo depois, ela voltou sua atenção para o cigarro, esquecido em sua mão direita, e continuou a soltar fumaça. Ele respirou fundo.

Considerou voltar ao bar. Pegar uma bebida e oferecê-la. Entretanto, não sabia direito o que fazer. Tinha a impressão de parecer idiota parado no meio daquele cenário tão convidativo. Mas era ela. Tinha que ir em frente. Ou não. Ou poderia apenas voltar ao balcão, pegar uma bebida, e continuar a admirá-la. De longe. Como costumava fazer sempre.

Uma morena magra com um decote gigante estava desfilando na frente dele. Ela segurava uma batida de frutas qualquer e sorriu quando recebeu a devida atenção, quando os olhos dele se desviaram por segundos do sofá a alguns metros. Ele sorriu para a morena, porém, voltou a olhar para a parte mais interessante daquele pequeno submundo. E teve uma surpresa: ela sumira. Olhou ao redor, mas não a encontrou.

Virou-se e foi até o balcão e, de novo, surpreendeu-se. A morena não desistira. Lá estava ela ao seu lado, com aquela roupa provocante e aquele olhar que praticamente implorava por ele. E aí, não teve jeito. Os dois pegaram mais bebida, conversaram um pouco enquanto ela, ocasionalmente, botava os cabelos por trás da orelha e desviava o olhar para o copo apoiado no grande retângulo de madeira à frente deles.

Depois, dançaram e se beijaram embaixo das luzes coloridas. Não demorou muito e ela disse para continuarem em seu apartamento ali perto. E então, saíram. Ele segurava a cintura dela enquanto a beijava no pescoço. Passaram pela porta pequena e respiraram o ar frio da noite. Entretanto, numa única virada de cabeça para a esquerda, ele a viu. Ela estava parada ali fora com um sobretudo jogado nos ombros, escondendo um vestido cinza colado no corpo. Ele mal teve tempo de raciocinar depois que seus olhares se cruzaram mais uma vez.

Um táxi parou. Ela entrou. Nem olhou para ele novamente. Não esboçou nenhuma despedida. Ele seguiu o carro amarelo com o olhar até esse virar a esquina mais a diante. Encarou aquilo como destino, ou como, talvez, um grande azar. Deu de ombros. Não queria pensar nisso agora. Mas se culparia na manhã seguinte. Nas semanas seguintes. Se culparia, pois a garota dos olhos de desprezo já morava em seus pensamentos. Porque ela talvez tenha explorado sua mente e sua alma, ele não tinha certeza. Ainda assim, encarou suas possibilidades e beijou a morena, a levando para casa naquela fatídica noite.

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