MIA
Aquele não era um bom dia, e eu soube disso assim que acordei para ir trabalhar. Um peso pressionava meu peito, um aviso silencioso de que a dor da ausência da minha mãe voltaria a me consumir. Se ela ainda estivesse viva, eu estaria comprando um bolo confeitado para celebrar mais um ano de vida. Mas o câncer a levou de mim, e com ele, todas as nossas celebrações.
Eu não podia nem visitar seu túmulo.
Por causa do fraco do meu pai. Pensar nele sempre fazia meu coração se contrair. A dor de não ter tido a chance de me despedir era uma ferida aberta. E a raiva... a raiva por Vittorio tê-lo arrancado de mim.
Todos os dias, nos últimos seis meses, eu me perguntei se Vittorio me encontraria. E se encontrasse, se eu também seria morta.
Eu nunca quis matar ninguém.
As minhas noites eram atormentadas por pesadelos, e a imagem de Elijah morrendo por minhas mãos era um fantasma que me perseguia. Eu não era uma assassina, mas naquela noite foi necessário. Eu sabia o que me aguardava se não agarrasse aquela oportunidade. Acabaria presa na boate, como todas aquelas garotas.
Tudo por culpa do vício do meu pai.
Era exaustivo ser a "babá" de um homem adulto, mas só continuei cuidando dele porque havia prometido à minha mãe. Sabia que o homem em que meu pai se transformou era resultado de uma dor que ele não soube suportar: a perda da mulher que amava.
Quem poderia culpá-lo?
Foi por isso que aceitei aquele acordo, por isso continuei com a dívida até descobrir que ele estava morto. Depois disso, não fazia mais sentido. Aquela dívida não era minha. Então, fiz o que minha mãe me ensinou quando eu ainda era criança.
A forma mais eficaz de matar um homem cruel é acertando sua jugular.
E foi exatamente o que eu fiz.
Elijah morreu quase instantaneamente, e eu escapei pelo duto de ventilação até cair de cara no estacionamento. Felizmente, estava vazio, porque todos estavam ocupados me procurando nos lugares óbvios. Aproveitei para me esgueirar pelas sombras até encontrar um lugar onde pudesse me esconder. E encontrei: o baú de um caminhão.
Depois daquele dia, nunca mais voltei para casa.
Guardei em segurança todo o dinheiro que roubei de Elijah e permaneci no caminhão até ele parar na Califórnia. A partir de então, procurei uma forma de viajar sem ser notada. A maneira mais eficaz foi fugir com o circo, que estava de passagem por Los Angeles.
Nos primeiros três meses, vivi com o circo, conheci várias cidades e trabalhei como vendedora de pipoca. Nos três meses seguintes, chegamos a Chicago e, pela primeira vez, senti que poderia estar segura. Talvez ali eu finalmente encontrasse um lugar para mim.
Despedi-me dos meus amigos, e com o dinheiro que tinha, consegui alugar um pequeno apartamento em East Hyde Park, que dividia com Amber. O lugar era bom, e Amber me ajudou a conseguir um emprego na cafeteria. Também estava economizando para cursar Literatura na universidade, algo que minha mãe teria querido para mim, ao invés de me ver como uma prostituta.
Em Chicago, eu me sentia segura, distante de Las Vegas e daquele monstro. Vittorio jamais me procuraria ali.
Ao menos, era o que eu mais desejava.
- Mabel, mesa sete! - gritou Amber. Eu levei um susto e voltei minha atenção ao trabalho.
Caminhei até a mesa a passos rápidos. Soprei a franja que caía sobre meus olhos - eu realmente precisava cortar aquela coisa.
- Já escolheu seu pedido? - perguntei, usando minha voz automática de garçonete, sem sequer olhar para o homem à minha frente. - Devo aconselhá-lo a experimentar o nosso delicioso Frappuccino, a especialidade da casa.
Segurei a vontade de revirar os olhos e esconder minha expressão de desgosto. O Frappuccino era horrível, eu o detestava, mas fazia parte do trabalho vender aquela mentira.
- Você realmente me recomenda essa bebida, ou talvez tenha algo melhor? - o estranho perguntou.
Havia algo de familiar naquela voz, mas optei por ignorar. Tantas pessoas passavam por aquela cafeteria diariamente que as vozes se misturavam na minha mente. Por isso, apenas sorri.
- Não diga que isso saiu da minha boca, mas o... - No exato momento em que olhei para o estranho, as palavras morreram em meus lábios.
Todo o meu esforço, todo o planejamento que fiz para o futuro, desmoronou quando meus olhos encontraram os dele. Um arrepio gelado percorreu meu corpo, e meu coração acelerou ao perceber quem estava à minha frente. Instintivamente, procurei uma rota de fuga, mas era inútil. Lá fora, estacionado em frente à cafeteria, estava o carro preto de Giuseppe.
Um sorriso cruel curvou os lábios do homem à minha frente.
- Pensou que ia fugir de mim para sempre, Mia? - Vittorio disse, aproximando seu rosto perigosamente perto do meu. - Perdão, agora você se chama Mabel, não é?
Meus olhos arderam com a vontade de chorar, e meu peito queimava com a ânsia de gritar. Eu sentia meu corpo tremer de ódio.
Ali estava o homem que eu mais odiava e que jamais esqueceria.
Vittorio, com seus olhos negros, como um poço sem fundo, desprovido de qualquer vestígio de bondade ou compaixão.
Eu nunca poderia esquecer aquele sorriso cruel, quase diabólico.
Jamais poderia esquecer Vittorio e o quanto eu desprezava cada sílaba de seu nome, o nome do homem que mais odiava no mundo.
E agora ele estava aqui, pronto para acabar com tudo o que eu havia construído.
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Envolvida Pelo Diabo Da Máfia (DEGUSTAÇÃO)
RomanceDisponível na Buenovela e Lera. Vittorio Moretti não era o mocinho dos contos de fadas. Ele não era gentil, muito menos alguém que oferecia carinho sem uma segunda intenção. Para Vittorio, as mulheres tinham um único propósito, e certamente não era...