House nº 1891

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[Torsdag, 12.01.2017, 19:58 – Casa nº 1891]

A rua da casa de Sonja era silenciosa. Não havia sinal de que morava alguém, além dela. E, de fato, isso era um pouco verdade; muitas casas ali estavam à venda ou com placas enormes indicando que estavam disponíveis para serem alugadas. No fim da rua, lá sim, era possível ver casas habitadas, com luzes na porta, ou sombras, através da cortina, de pessoas assistindo a programas de TV. E risadas. Sim, ouvia-se muitas risadas no fim daquela rua. Provavelmente todos haviam tirado o dia para assistir algum programa de comédia. Talvez eles estivessem prevendo que mais tarde, daqui a poucos minutos, aconteceria algo que chocaria não apenas aquela rua, mas toda a cidade, por um longo tempo.

- Pai? Pai, que horas são? – disse um menino dentro de uma das casas, meio sonolento, caminhando com os braços erguidos em direção ao pai, provavelmente pedindo colo.

- São quase 20:00, filho. Só mais dois minutos, que é o tempo do programa do papai acabar, e eu prometo contar uma história pra...

Foi quando aquele senhor ouviu um barulho. Um único barulho. E ele soube no mesmo instante. Ele sabia manejar o objeto que gerou aquele som, porque fazia uso em suas caçadas nos fins de semana. Uma arma. Alguma pessoa, naquele momento, havia atirado. Em algo, alguém, ou em si mesma.

Em poucos minutos os vizinhos já estavam nas ruas, embora fossem poucos. E havia mais pessoas: amigos de trabalho, familiares, colegas do tempo de escola, curiosos e o namorado da vítima. Todos ali estavam com grandes interrogações rondando suas cabeças: como? Por qual motivo?

Naquela noite morrera Sonja, namorada, grande amiga, professora, excelente profissional, filha exemplar. E o motivo de sua morte não seria revelado tão cedo...


[Søndag, 13.02.2017, 21:35 – Estacionamento da Throndheim IK]


Era fim de noite e, tradicionalmente, lá estavam eles, no fim de mais um domingo rotineiro em que os amigos faziam um passeio pelos pontos turísticos de Throndheim e alguns poucos de Oslo, escolhidos com muito cuidado por Noora Sætre.

- Escute... Você às vezes é bem má com as pessoas, Noora. – disse Magnus, aos risos, enquanto limpava o canto de sua boca, que havia sujado enquanto comia seu delicioso hambúrguer. – "Desculpe, eu ainda não me sinto pronta pra abraçar a ideia patriarcal de um casamento". – imitou a amiga, afetando a voz.

- Nei! Não é ser má, é apenas que eu não concordo com essa ideia de que as mulheres nasceram apenas para se tornarem adultas, casarem, terem filhos e morrerem. – empinou o queixo, olhando de canto de olho para o amigo enquanto permitia que um sorriso discreto aparecesse. Magnus revirou os olhos, provocando-a. – Ok, talvez um pouco má, mas foram tantas pessoas me perguntando sobre casamento, se éramos casados, quando íamos nos casar. A sociedade faz uma pressão enorme em cima disso.

- Me diga então, Noora. – começou o loiro, fazendo uma breve pausa para lamber o resto do molho que havia sobrado em seus dedos -, me diga o que você pretende fazer quando as pessoas fora da escola pararem de achar que somos um casal e começarem a fazer só uma pergunta, só a "você já casou?", uh? – arqueou suas longas sobrancelhas.

- Bom... – Noora fez uma longa pausa, olhando por sobre o vidro do carro em que estava, na direção da entrada da escola. – Aquele não é o professor Næsheim? – franziu o cenho, em estranheza. Após a confirmação de Magnus, virou o rosto para o garoto. – Mas o que ele faz com a Iben?

- E tocando nela... – Magnus completou, sua voz denunciando que ele não achava aquela situação nada comum.

E, como se sentisse que estava sendo observado por alguém dentro de algum daqueles carros, o professor Even desviou o olhar de Iben, olhando em direção aos carros, num ângulo que o permitia ver o carro em que Noora e Magnus estavam. Quase que instantaneamente os amigos se abaixaram, na tentativa de sair do campo de visão do professor.

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