Beatriz

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Éramos jovens, devíamos ter no máximo vinte anos. Estava indo visitar uma tia em outra cidade quando conheci a pessoa que mudou meu jeito de ver as pessoas diferentes ao meu redor, logo eu que era uma menina que era fútil e ligava para aparências, porém hoje sempre busca o melhor.

Como de costume, sentei no acento que ficava próximo a janela, fitava a cidade enquanto o ônibus saía. Pensava em minha vida amorosa, toda desgostosa, achava que nunca encontraria alguém perfeito para mim, inteligente e atraente. Todos os meus relacionamentos tinham dado errado, nunca admiti que a culpa fosse minha, sabia que exigia coisas que não devia.

Na parada seguinte entrou um homem alto e magro, tinha cabelos longos e vestimentas na cor preta com a estampa da banda Slipknot na camisa. Seus óculos escuros escondiam seus olhos que depois descobri serem castanhos. Sua pele era lisa, mas havia alguns fios no lugar de uma barba. Não me leve a mal, mas não é o tipo de homem que poderia me atrair. Só de olhar ara camisa, já imaginava que ele devia ter feito um pacto com o diabo. Não conhecia todas as músicas da banda, porém uma vez ouvi uma ou outra por curiosidade e realmente achava que as letras evocavam alguma coisa ruim.

O magrelo de preto, sentou-se ao meu lado sem dizer uma palavra ou sequer me olhar, achei melhor, assim poderia dormir tranqüila, assim ele não falaria sobre coisas do demônio comigo. Ficamos em silêncio por um bom tempo até que pareceu me notar, pediu desculpa por não ter me cumprimentado assim que chegou, disse que estava preocupado e sorriu. Não perguntei nada, apenas sorri de volta por educação, imaginei que se não fizesse isso ele faria alguma coisa contra mim. Mas seu sorriso era lindo, eu jamais poderia me esquecer do quanto era sincero e não parecia que adorava o diabo. A partir daí comecei a reparar mais nele, parecia ser um cara legal, mas ainda fiquei com o pé atrás. Sempre gostei de coisas coloridas e ele comentou que preferia cores escuras.

Trocamos frases curtas durante alguns minutos, ele era inteligente e pela forma como falava parecia ser nerd, coisa que eu nunca iria imaginar apenas olhando-o. O estranho disse que se chamava Leon e que viva de consertar computadores, percebi que poderia ter uma conversa civilizada e sem gírias já que ele demonstrava ser bem culto, mas me enganei completamente. Logo vieram as gírias e parei de entender o que ele falava, comecei a prestar atenção nos seus lábios para ver se conseguia lê-los e tirar alguma informação útil, mas acho que encarei tempo demais. Leon me pegou de surpresa com um beijo, no começo pensei em me afastar, xingá-lo de todos os piores nomes que conhecia, mas o beijo era bom, suave no começo e logo se tornou intenso. Se não estivesse sentada, seria bem provável que minhas pernas fraquejassem.

Foi delicado, porém firme, me fez sentir desejada como há tempos não sentia. Me fez esquecer de tudo o que havia pensado a seu respeito e perceber o quanto estava sendo preconceituosa. Depois do primeiro beijo, vieram vários outros e assim ficamos durante todo o trajeto. Enquanto todos ao nosso redor dormiam, nós nos conhecíamos cada vez mais.

Carícias trocadas, palavras confidenciadas e os sorrisos que não deixavam nossos rostos. Leon me contou sobre a banda e afirmou que não fazia nada haver com demônios e essas coisas, pedi desculpas a ele que riu e disse que era comum isso acontecer. Fiquei envergonhada e ele me fez acreditar que estava tudo bem. Anotei seu telefone antes que ele descesse do ônibus para que nos encontrássemos novamente. Imaginei que o veria de novo e começaríamos um relacionamento, já que adorava fantasiar. Um homem que jamais vi e que nunca diria que pensaria em ter algo com alguém de suas características.

Quando desci do ônibus corri para a casa de minha tia, para conversar com Leon como disse que faria, mas ao olhar na agenda telefônica a fim de lhe mandar mensagem, meu sorriso desapareceu quando notei que havia me esquecido de salvar seu número. Fiquei com raiva de minha burrice e decepcionada por perceber que não o encontraria mais.

Nunca mais vi Leon, porém aquele dia ficaria em minha mente eternamente, junto com a imagem de seu sorriso. Algumas pessoas podem chamar de destino ou algo parecido, digo apenas que foi um dia feliz e inusitado. Depois dele, parei de me importar com aparências e me deixei conhecer várias outras pessoas. Ainda não encontrei o que procuro, mas não desistirei até encontrar.

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