31 de Outubro

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Atravesso a porta dupla de vidro com o logo da Gravidez Copenhague colado no centro e o ar-condicionado esvoaça meus cabelos negros. O consultório, chique e de dois andares fica no meio da floresta Amazônica, na Colômbia, escondido entre as árvores e próximo ao Rio Guaviare.

Cheguei até aqui inteiramente com a ajuda da equipe da GC, que custearam minha viagem das Filipinas até a capital do país, Bogotá, onde peguei um helicóptero e voei até a sede da companhia, chafurdada em meio à paisagem tropical amazônica.

Eu poderia ter ido até o consultório da Gravidez Copenhague no meu próprio país (também escondido em meio a uma floresta), mas não restava mais vagas, assim como o da China e o nos países da África. Eu precisava do dinheiro, então aceitei fazer parte do da Colômbia. A primeira viagem aconteceu em abril desse ano. Deixei meu filho Jaira de apenas 2 anos e minha mãe Angela para trás e voei sozinha para a Colômbia, com a ajuda da equipe da GC, sempre me tratando muito bem.

A viagem foi para fazer a inseminação.

Fiquei 7 dias no país. Foram vários processos e reuniões e palestras e enfim no penúltimo dia fui para a cirurgia, que levou 11 horas. Um novo tipo de inseminação.

Um novo passo para mim.

E para o mundo.

De volta às Filipinas, vi a gestação mudar meu modo de ver o mundo e fazer a esperança de uma vida melhor crescer e aflorar em meu corpo. Com todos os processos envolvidos na inseminação, e tendo de tomar alguns comprimidos diariamente como parte do procedimento, o feto em meu útero se viu somar aos meses necessários para se desenvolver, mais alguns. Seriam 6 meses de gestação.

Foi bizarro como a gestação mexeu não só com meu corpo, mas com minha mente e espírito. Foi surreal e intenso.

Então, em outubro, chegou a hora de voltar ao consultório da Gravidez Copenhague para dar a luz. E aqui estou eu.

Assim que passo pelas portas, uma moça loira se aproxima, sorrindo com seus dentes extremamente brancos.

- Olá - ela diz em inglês. - Angelyn, certo?

Confirmo com a cabeça.

- Prazer, sou Rebecca, e vou te acompanhar no processo de parto, okay?

Apenas confirmo com a cabeça novamente.

Ela faz um sinal para que eu a acompanhe e entramos em um corredor repleto de portas. Há vários retratos nas paredes de diversas mulheres, de diversas nacionalidades, todas sorrindo muito.

- Já começou a sentir as contrações? - ela me pergunta, caminhando na minha frente.

- Hm, não. Nada ainda - respondo com meu inglês carregado de sotaque.

Chegamos a uma sala de paredes brancas com vários sofás de couro, revistas em cima de mesinhas, televisão e um bebedouro.

- Fique a vontade. Verei se o Dr. Otto está pronto para vê-la - e deixa a salinha.

Estou nervosa e tamborilo os dedos em cima das minhas coxas. Minha grande barriga redonda se projeta a minha frente. Rebecca então resurge e pede para eu segui-la. Entramos na sala do Dr. Otto, um senhor calvo de nariz grande e olhos azuis.

- Pode se sentar - ele oferece a chique cadeira para mim, sorrindo muito. Obedeço e me sento. Rebecca fica parada atrás de mim. Dr. Otto folheia alguns papéis. - Oh, certo. Bem interessante. Angelyn Fujimori.... Trinta e um anos... Okay.

Balanço uma de minhas pernas em um tique nervoso. Dr. Otto deixa de encarar os papéis e olha para mim.

- Okay, hã... Você já conhece todo o processo do parto?

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