Minha vida mudou muito durante esses últimos meses.
As coisas aqui em casa não estão das melhores. O salário da minha mãe é baixo e minha irmãzinha de 4 anos vive doente. As vezes o dinheiro não dá para suprir nossas necessidades.
Hoje faz 8 meses que meu pai faleceu, eu sinto tanta falta dele, sabe, eu amo minha mãe, porém eu fui criada a vida toda pelo o meu pai que agora está enterrado na cidade vizinha. Eu sinto tanta falta dele. Meus irmãos por parte de pai não estão falando comigo por causa da herança, é uma longa história e eu não estou disposta a contar agora.
— Énila, você vai se atrasar. — Minha mãe diz do banheiro que fica no quarto dela que é ao lado do meu.
Me olho pelo espelho. Bocejo e pego minha mochila.
Fecho a porta do meu quarto e vou para a sala esperar por minha mãe.
— Mayle? – Chamo carinhosamente ao ver ela ir para a cozinha com cara de sapeca.
Ela olha para mim e sorri.
– Vem aqui dá um cheiro na maninha. – Peço rindo.
Ela nega e vai para cozinha...
— Vem aqui, Énila. – Escuto minha mãe chamar-me.
Deixo minha mochila em cima do sofá e vou para o quarto da minha mãe.
— Oi. — Tento soar animada.
— Faz uma trança no meu cabelo?
Assinto e começo a fazer.
– Eu levo a Mayle na creche.
Vejo a expressão confusa da minha mãe através do espelho.
— Tem certeza? É muito longe.
— Minha primeira aula é vaga. – Preciso me distrair, não quero chegar na escola com expressão triste. — Então dá tempo de levá-la.
Minha mãe suspira.
— Mãe! Eu já me acostumei, não precisa se preocupar. Gosto de viver aqui. — Digo mais para convencer a mim do que à ela.
Ela balança a cabeça e sorri amarelo.
— A Decla me disse que talvez vai arrumar um estágio para mim. – Informo.
— Onde?
— No local que ela estagia. Hoje na verdade, ela vai me dizer se eu posso estagiar junto com ela.
— Espero que consiga. – Ela sibila se levantando da cama, a trança está pronta. Minha mãe se olha no espelho. – Obrigada, ficou linda.
Sorrio. Ela sempre diz isso.
— Já vou. – Falo me espreguiçando. — Tchau, mãe.
— Tchau. — Ela responde sem olhar para mim.
Vou para a cozinha procurar a sapeca da minha irmãzinha.
— Vamos, Mayle. – Chamo, ela olha para mim com a boca cheia de margarina. – Eco, você não pode comer isso, faz mal!
Ela pisca várias vezes e sorri. Pego ela no colo e à levo para meu quarto, limpo a boca dela com uma blusa minha suja.
– Hoje você vai comigo para a creche. – Ela faz careta. – Nem vem dar pití.
Entro no quarto da minha mãe, ela está no banheiro, pego a bolsa da Mayle que está sobre a cama. É uma bolsa lilás de tamanho médio, tem uns desenhos de árvores. Ao chegar na sala vejo Mayle sentada no sofá, quieta, isso me deixa intrigada.
— Vamos, sapeca da maninha. – Digo calmamente. – Mãe, já estamos indo. – Grito daqui da sala.
– Vão na sombra. – Escuto minha mãe dizer, fecho a porta e começo a descer as escadas sujas e feias do prédio antigo que moramos.
Estou segurando a mãozinha da minha irmã, no meu ombro esquerdo estou levando a bolsa da Mayle e estou carregando minha mochila nas costas.
Minha irmã quase não fala, minha mãe já levou ela no médico; ele disse que ela não tem perigo de ser muda, mas que talvez ela demore a falar por causa de um trauma que vivenciou ano passado.
Aqui no prédio antigo que eu moro e que precisa de uma reforma urgente, mora umas pessoas legais e estranhas. Desço mais umas escadas e andares. Não tem elevador aqui, somente escadas e mais escadas.
– Bom dia, Ousada. — A senhora Jojo me cumprimenta com um caloroso sorriso.
– Bom Dia. – Digo sem parar para conversarmos, sinceramente, hoje eu não estou para dialogar com ninguém, somente comigo mentalmente.
Descemos mais escadas...
- Oi. – Rodrigo diz.
- Oi. – Respondo sem jeito.
Ele é muito bonito e educado. Rodrigo sempre me tratou bem desde que comecei a morar aqui no prédio, porém, anteontem eu e ele tivemos um discussão por causa do nosso beijo.
- Tenha um bom dia.
- O mesmo para você! – Exclamo.
Respiro fundo e sigo para uma direção e ele outra.
Mayle se cansou e eu à peguei no colo. Normal, ela sempre cansa. Depois eu conto mais sobre o prédio "Lindo" que eu moro.
***
Estou no ônibus que leva até perto da creche Sara, Mayle está sentada no meu colo encostada sua cabecinha sobre meus seios. Ela está muito quieta.
– Você está sentindo algo? — Pergunto.
Ela nega. Acaricio os cabelos cacheados dela.
O ônibus hoje não está cheio, ainda bem. Às vezes eu fico em pé quando chego tarde, pois está cheio. Teve uma vez que eu fiquei em pé carregando minha mochila, a bolsa da Mayle e com a mesma no colo por 25min, foi um dia estressante para mim, mas eu não reclamo para minha mãe. Trabalho de faxineira não é fácil, limpar privada de riquinhos debochados é complicado. As vezes minha mãe reclama do serviço dela, porque lá um dos filhos da patroa dela é muito chato.
***
— Fique de olho nela, acho que, talvez ela dê febre. – Informo apreensiva a Marcela, ela é responsável pela turma de 3 a 4 anos, que é a turma da minha irmã.
— Fique tranquila. Ela está em boas mãos. – Ela diz calmamente.
Sorrio fraco e dou a Mayle para a marcela.
— Aqui a bolsa. — Digo e beijo no rosto da minha irmãzinha.
— Dá tchau para ela. – Marcela diz para a Mayle.
Faço o tchauzinho e me viro para sair da creche.
Passo pelo portão e ando rumo ao ponto mais próximo para ir a minha escola. O dia está nublado. Olho para meu relógio no meu pulso que marcam exatamente 06:40h. Eu entro 07:30min, porém como eu tenho a primeira aula vaga vou ter aula só às 08:20min.
Oito meses. HoJE. Que meu papai morreu. Que dor na alma. Que saudade dos conselhos e risadas dele. Eu não vou chorar, não quero chorar. Argh! Por quê?
Por que você se foi papai?
Respiro fundo e atravesso a rua cabisbaixa, escuto um grito de longe, porém é tarde para volta para à calçada.
Sinto um baque enorme sobre meu corpo e só sei que eu fui jogada para bem longe.
Minha visão está embaçada e sinto gosto de sangue na minha boca, vejo um bando de rostos desconhecidos sobre mim.— Você está bem?
Olho para o rapaz que me perguntou, tento ver o rosto dele com nitidez, mas não consigo. Meu corpo está estranho.
Então sou engolida pela escuridão.
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TE ENCONTRO NO PRÓXIMO CAPÍTULO E MUITO OBRIGADO POR TER LIDO ATE AQUI<3
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Ousada
RomanceApós a morte de seu pai, Énila se encontra despedaçada, e terá que viver em um bairro pobre em Londres com sua mãe e irmãzinha. A garota é pura de corpo e alma, ela terá que aprender a viver com regalias simples pois quando ela morava com seu pai, e...