02 - Máscaras 🎭

202 31 20
                                        


HÁ 16 ANOS ATRÁS

Aos 15 anos, Ingrid já carregava nas costas um fardo que ninguém da sua idade deveria suportar. Sua mãe desapareceu sem deixar vestígios — uma ausência súbita que virou a vida da família de cabeça para baixo. Não havia bilhete. Nada que explicasse seu sumiço. Durante semanas, buscas foram feitas, perguntas foram lançadas no vazio e esperança foi alimentada em vão. Até que, silenciosamente, o pai delas desistiu. Derrotado pela dor e pela frustração, entregou-se ao álcool, afundando-se em tentativas fracassadas de esquecer o que havia acontecido — e, com isso, esqueceu também das filhas.

Foi então que Ingrid, ainda uma menina, se viu forçada a amadurecer. Enterrou o pouco que restava de sua infância e assumiu as rédeas da casa para cuidar de si mesma e da irmã mais nova, de apenas 8 anos. A única referência de afeto e estabilidade que conhecera havia desaparecido, e agora ela precisava ser tudo aquilo que lhe faltava: forte, presente e incansável.

Moravam em Caieiras, uma cidadezinha esquecida no interior do estado, onde os sonhos pareciam morrer antes mesmo de serem sonhados. As ruas de terra, o transporte escasso, as oportunidades inexistentes... Tudo ali era limite. Um lugar onde a esperança se arrastava devagar e o futuro parecia sempre do outro lado do morro, inalcançável.

A cada noite mal dormida, a cada prato improvisado com o pouco que restava na despensa ou do dia anterior, uma chama começava a se acender dentro de Ingrid. Uma revolta silenciosa, mas persistente. Ela olhava para os cantos mofados da casa, para o olhar vazio do pai, para os pés descalços da irmã — e fazia promessas a si mesma. Não era ali que ia terminar. Não era aquela a vida que merecia.

Ingrid se perguntava se era assim que sua mãe se sentia — e se foi esse o motivo que a levou a abandoná-los.

[música de cena]
Team - Iggy Azalea

E assim, pouco a pouco, sua dor foi dando lugar a algo mais frio, mais calculado. Ingrid começou a cultivar em silêncio um desejo voraz de ascender, de deixar para trás a miséria e a impotência. E, no fundo dos olhos, onde antes havia apenas tristeza, nasceu um brilho duro, quase cruel. Estava decidida: subiria na vida, sim — sem freios, sem arrependimentos. E, principalmente, sem empecilhos.

Porque, a partir dali, Ingrid já não queria apenas escapar da pobreza. Ela queria vencer. Quisessem os outros ou não. E ela realizaria esse desejo, custasse o que custasse.

Se sua mãe foi capaz, por que ela não seria?

**

Aos poucos, ela foi deixando de ser apenas uma adolescente sobrecarregada. Tornou-se uma observadora afiada do mundo à sua volta. Passou a perceber as fraquezas dos outros, a explorar silenciosamente as brechas que se abriam nas relações humanas e sociais. Sabia que não podia contar com ninguém e, por isso, aprendeu a usar as pessoas como peças de um tabuleiro que só ela sabia jogar.

No colégio público onde estudava, mantinha a aparência de aluna esforçada, retraída, sempre correta. Mas por trás da fachada, calculava cada passo. Aprendeu a se aproximar dos professores certos, a conseguir favores sem parecer que pedia, a ganhar confiança apenas para colher informações que poderiam ser úteis mais tarde. Era encantadora quando queria. Sabia exatamente quando chorar, quando sorrir e quando calar. E isso a tornava perigosa.

Desejo Proibido 💋Onde histórias criam vida. Descubra agora