Only one

94 10 1
                                    

Na verdade tudo o que Changgu queria naquele dia era continuar na da cama e ignorar mais uma vez o mundo real que o esperava naquela manhã de segunda-feira, mas na noite anterior havia recebido uma ligação furiosa de seu chefe dizendo que se ele não comparecesse no escritório mais uma vez na próxima semana ele seria demitido. E não, ele não conseguiria manter um apartamento sem o mísero salário que recebia da digitação, e deixar Seul e voltar para a pequena cidade no interior e confessar para sua família que era um fracassado não era uma opção.
Desde que saira da cidade natal com a promessa de fazer uma boa faculdade e voltar com dinheiro suficiente para bancar seus pais e irmãos, Yeo Changgu nunca se sentirá tão inútil e desprezível. Nem mesmo quando perceberá que já se passará um ano e ele continuava morando no mesmo apartamento decadente e trabalhava no mesmo emprego que não bancava nem um bom almoço coreano. Não, aquele dia era pior. Porque, apesar de tudo estar desmoronando e ele continuar mentindo para sua família dizendo que tinha a vida perfeita sendo que vivia totalmente o contrário, por mais que tudo parecesse tóxico, tê-la tornava tudo um pouco mais estabilizado, ela era sua balança que sempre pendia pro lado positivo.
Porém, como tudo de bom em sua vida uma hora sempre acabava, aquele relacionamento ilusório não durou o quanto ele precisasse que durasse. Não foi um longo período de tempo, eles estavam prestes a completar 100 dias. E nem mesmo a separação foi como uma grande briga, ela apenas disse que não sentia mais aquele amor de antes e ele simplesmente aceitou. E isso era o que  mais o irritava, por mais que tivesse sido verdadeiro, naquele momento não significava mais nada e isso o fazia não querer mais levantar da cama. Aquilo tinha definitivamente tirado toda a sua motivação restante.
Na verdade ele tinha finalmente completado sua auto-reflexão e chegado à conclusão de que sim, havia algo de errado com ele. Ele fora tão sonhador, fizera tantos planos, teve tantas idéias geniais. Como pode ter acabado morando em um apartamento do tamanho de um quarto infantil e ainda por cima sofrendo pelo fim de um relacionamento mesmo tendo tantos outros problemas maiores?
E foi esse pensamento que o fez colocar as pernas para fora e ir cambaleante em direção ao banheiro, e encaravasse no espelho escovando os dentes. Os cabelos estavam grandes demais e uma leve barba começava a surgir-lhe no rosto. Deplorável, era como ele se definia mentalmente em reprovação. E mesmo depois de ter feito a barba e já ter o rosto limpinho, as marcas embaixo dos olhos ainda revelavam um relaxamento que ele sabia que não poderia esconder. Resolveu passar um creme qualquer para se tornar no mínimo apresentável, mas quando abriu o pequeno armário encontrou-o vazio. Claro, todos os produtos que um dia estiveram ali e ele acostumou a usar eram dela, e ela já não estava mais lá para compartilhar. E fechando a porta forte o suficiente para quebrar as dobradiças, saiu do banheiro pisando duro e passando as mãos pelo cabelo.
E foi na cozinha, enquanto pegava uma xícara para tomar o café que teve a segunda lembrança, pois suas xícaras de casal continuavam ali no mesmo lugar, onde ela mesma tinha colocado. E num momento de loucura a que dizia "She" em letras rosas e grandes foi atirada na parede, e chão se encheu de cacos de porcelana. Deslizou para o chão e ficou um tempo sentado encarando a parede, e teria ficado ali durante a tarde toda se a campainha não tivesse tocado.
Tentou se levantar, mas quando colocou as mãos no chão para ter sustentação para se içar para cima sentiu uma dos cacos perfurar sua mão esquerda. Arrancou o caco e segurando entre a palma que sangrava sua camiseta, foi em direção a porta. E quando abriu, viu o sorriso mais lindo que já vira na vida em sua frente, segurando um pequeno recipiente vazio.
-Meu Deus, o que aconteceu? Sua camiseta está quase completa de sangue! Vamos, você precisa dar um jeito nessa mão.



Mensagem visualizada ✔
Yeo One, Sexta-feira 10:40
"Oi Hyung, como vão as coisas ai? Pois então, eu tenho certeza que a mamãe deve estar pirando com aquela mensagem de voz que eu deixei para ele dizendo que eu estava vivendo uma merda de vida aqui em Seul e que como já não tinha mais motivo para viver iria voltar finalmente e assumir que era um grande idiota. Você pode explicar que eu estava bêbado e que não era nem um pouco verdade? Estou muito feliz, e acho que vou continuar aqui por bem mais tempo. Sabe, a nova faculdade está ocupando muito meu tempo."

Only OneOnde histórias criam vida. Descubra agora