Feliz Natal

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O ano de 2050 havia trazido novidades para os humanos. A possibilidade de compartilhar pensamentos apenas com um olhar ainda era luxo de poucos, mas agora algo mais acessível chegara ao mercado: compartilhar as próprias emoções com um toque.

Apesar das inovações o Natal ainda continuava sendo uma data comemorativa. As ruas da cidade de Kellstone ficavam abarrotadas de pessoas felizes com gorros de papai Noel. Mas aquele ano era especial... Completava uma década do lançamento da "tecnologia imaterial". As pessoas ainda se perguntavam como, dez anos atrás, no ano de 2040, conseguiram viver sem todos aqueles produtos.

E, desde que foram lançados pela fabricante "QStone" um novo mundo havia surgido. Novas formas de comunicação, novas identidades, novas culturas. Culturas baseadas apenas na tecnologia, com tradições baseadas nela unicamente. O mundo fervilhava, mas para ter acesso a tantas inovações era necessário ter dinheiro. E quem detinha a maior parte do dinheiro eram os Caçadores.

Eles possuíam todas as inovações mais recentes porque eram seus criadores ou trabalhavam para quem as criara. A maioria trabalhava na QStone, mas todos tinham uma mesma função: encontrar humanos dispostos a testarem seus produtos. As lendas urbanas sobre eles cresciam a cada ano, boatos, fofocas, histórias, ninguém sabia ao certo. Todos queriam casar-se com um, o caminho mais fácil para uma vida confortável.

Mas a realidade era que os Caçadores gostavam de brincar com os humanos e testá-los, iludi-los e depois descartá-los, usá-los apenas para seus experimentos. Embora não existissem provas disso, já que a mídia insistia em endeusa-los, as histórias eram passadas adiante de boca em boca, algumas aterrorizantes demais ou românticas demais.

Nada inspirava mais medo e ao mesmo tempo fascínio do que os Caçadores. Eles eram identificados pela letra 'Q' fundida na pele, na lateral do pescoço.

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Oliver dançava na pista de dança com seu amigo Kale. A batida da música embalava seu corpo no ritmo certo, os ouvidos pulsavam com o volume do som, mas ele não ligava, estava se divertindo muito.

Era Natal e finalmente estava comemorando do jeito que sempre quis: com os amigos, se divertindo de verdade. Tocou em Kale e compartilhou suas emoções com ele. O amigo recebeu-as com uma risada. Oliver sentia-se animado demais, sentiu o sentimento de euforia como se fosse dele e respondeu-o novamente com um toque. Compreensão, o amigo também sentia-se assim!

As luzes da boate piscavam insanamente, coloridas, fazendo as pessoas brilharem. Vários corpos se mexiam de acordo com a música e as roupas cintilantes tornavam aquele ambiente ainda mais incrível para se estar. Oliver tocou Kale de novo no braço, agora ofegante. Cansado, com sede. Ele assentiu com a cabeça e indicou o bar para Oliver.

Olhou-o nos olhos e a mensagem foi enviada "tome alguma coisa lá, te espero aqui assim que se sentir melhor". Oliver sorriu e foi abrindo espaço pela multidão até o bar.

-Uma água. -sentiu a boca seca por estar usando palavras.

A tecnologia só funcionava com pessoas com quem você tinha um laço, uma intimidade. O barman olhou-o com estranheza por pedir algo não-alcóolico naquele lugar, virou-se, pegou uma garrafinha e coloco-a na frente do garoto. Oliver não ligou para aquele olhar, precisava se hidratar.

Tomou em goles rápidos enquanto analisava o lugar a sua volta. Não enxergava Kale na pista, provavelmente porque estava muito longe.

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Na porta da boate, Viktor adentrou o antro de humanos malucos. Ele realmente odiava o Natal e como a data fazia as pessoas mudarem de personalidade. Suspirou. Todos estavam com roupas coloridas, exceto ele, todo de preto.

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