Na minha terra, é normal haver muitos dias de nevoeiro. Aliás, existem mais dias de nevoeiro do que propriamente dias solarentos. Mas este dia parecia diferente. A partir do momento que saí de casa, tudo se tinha tornado enfadonho, as pessoas estavam anormalmente tristes. Era daqueles dias em que não esperava nada, porque nada de extraordinário iria acontecer.
A minha mãe deu-me umas quantas tarefas: Tinha de ir aqui e ali, buscar aquilo e mais uma mão-cheia de não sei o quê (tudo isto porque entretanto me esquecia de tudo o que tinha a fazer).
Após ter feito tudo o que a minha mãe me mandara, decidi, pela primeira vez, ir pelo caminho mais longo. Senti que não perdia nada em arriscar, afinal de contas era apenas um passeio, não era nada de mais, e além disso ainda poderia observar e talvez poder melhorar o meu dia.
Parei no parque do jardim para observar o lago, na esperança que talvez me trouxesse um pouco de serenidade e alegria. Sentei-me no banco mais próximo e aí fiquei, até que um rapaz se veio sentar ao meu lado. Devia ter os seu dezassete anos, um ano a mais que eu. Se o ar estava pesado, ainda mais pesado ficou, até que ele quebrou o gelo.
-Sabes, sou novo aqui, ainda não conheço ninguém, e vir para aqui faz-me sentir mais descansado, sabe bem.
-Eu ja vivo aqui à algum tempo, mas confesso que nunca vim a este parque, nunca tenho tempo para cá parar, mas sim, é bonito ver o pôr-de-sol aqui.- Respondi, meio intimidada.- E como é que vieste parar a esta terra tão pequenina?
-Os meus pais acharam esta terra um lugar pacato. Eu vim da cidade, e portanto está a ser um grande choque para mim..- Suspirou. - Mas bem, sou o João, e tu ?
Fiquei meio em choque, quer dizer nunca nenhum rapaz tinha metido conversa comigo, ainda por cima um rapaz como ele, alto, moreno, com um ar meio pálido, mas com a sua graça.
-Sou a Ema, mas tenho que ir. Foi boa esta pequena conversa.
-Espero ver-te amanhã por aqui. Gostava de continuar a falar contigo, pareces ser uma rapariga simpática.
Engoli em seco e vim embora. Durante o caminho não consegui pensar em mais nada senão nele e no seu sorriso tão belo ao ver que tinha conhecido alguém. "Mas como?" Perguntei-me.
Passei a tarde inteira confusa, não conseguia eliminar da minha mente o que se passara à tarde. Tirou-me o apetite e o sono.
Mal o dia apareceu, veio com ele o sol, coisa quase inédita naquela vila. E eu continuava na mesma, ainda incrédula com o que se passara no dia anterior. "E agora, vou hoje ter com ele? Não vou?". Estava num impasse, mas acabei por decidir ir, afinal de contas, o que perdia?
Sentei-me, como quem não quer a coisa no tal banco e pouco tempo depois chegou ele.
-Eu sabia que vinhas.
-Então? conheces-me assim à tanto tempo? Eu consigo ser bastante imprevisível.
Ele riu-se.
- Não é nada disso. Apenas tive um felling, foi isso.
Ambos ficámos em silêncio, um silêncio constragedor, até que, por fim, decidi ganhar coragem e romper aquele tão indesejado silêncio."De onde vens?", "Quais são as tuas bandas preferidas?", uma pergunta muito simples.
- Queres ir comer algo?
"Possas", pensei eu. "Bolas Ema, com tanta coisa para perguntares, tinha de ser logo isso. És mesmo parva, tão parva, tão parva".
-Sim, adorava. Aproveitas e mostras-me o resto de Góis!
Os dias passaram e a nossa amizade evoluiu. Entretanto, tínhamos trocado números de telemóvel, tudo. A nossa amizade cada vez se intensificou mais, ele gostava cada vez mais de mim, e eu gostava cada vez mais de estar com ele. Se os dias nesta pacata vila eram tão enublados, então agora eram bastante solarengos. O que aconteceu a seguir, só eu sei.
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O caminho mais curto nem sempre é o melhor
Teen FictionUm rapaz novo na vila. Uma rapariga insegura, Hábitos que nunca se perdem e lugares que são marcantes.