O Despertar

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Ela dormia. Depois de uma noite repleta de muito prazer, amor, álcool e alguns cigarros de procedência duvidosa, ela dormia. Ao seu lado, o homem que mais amava. Ele não era belo. Nem ela. Mas o amor e o desejo eram mais fortes que qualquer laço material e superficial. Ela podia até chamar aquilo de amor.

A melhor parte após uma noite daquelas era poder virar-se e abraçar o homem que dorme ao seu lado. Mesmo nessa noite quente de verão, abraça-lo à noite era uma necessidade que ignorava o fato deles transpirarem cada vez mais.

O conforto e calor da cama era muito confortável. Entretanto, quando o sono se tornou mais leve perto de acordar-se pela manhã, Clarissa sentiu frio. Bastante incomum. Percebeu que estava no centro da cama e virou-se de lado procurando o amado. Nada. Virou-se para o outro lado. Nada. Ele não estava. "Filho da puta... Foi embora". Abriu os olhos.

— Mas que porra é essa?

O teto era branco. As paredes. Estava claro e o ar era leve e cheirava a grama. Os pássaros cantavam. Mas, apesar da paz, ela não estava em casa. Como foi parar ali? Ela não sabia. Mas aquilo parecia ser uma brincadeira de muito mal gosto.

Tirou o lençol de cima de si e descobriu que estava vestida em trajes brancos de seda. Mas como, se Clarissa nunca teve dinheiro para comprar sequer uma cafeteira? Quem dirá um pijama de seda!

—Eu fumei demais... Aahh — ela assustou-se com a dor que sentiu nas pernas ao movê-las. Tirou as vestes de cima das pernas e viu que estavam repletas de marcas roxeadas e pretas, como se tivesse sido espancada.

De repente, entra uma pessoa no quarto. Ela era alta e sem expressões faciais. Vestia-se de branco como ela e trazia uma cesta branca nas mãos

— Olá, Clarissa. Está pronta para sua purificação?

— E por acaso posso saber como foi que você descobriu meu nome? Aliás, você me sequestrou, seu filho da puta!! Eu não tenho dinheiro e nem nada que lhe interesse...

— Não queremos seu dinheiro, criança. De onde venho ele não tem valor. Queremos sua alma. Você foi escolhida pelo senhor e deve alegrar-se. Mesmo vivendo uma vida de pecados, Deus sabe o que se passa em sua alma e te perdoa — disse o estranho.

— Eu não quero nada com você nem seu Deus. Me poupe. Eu quero ir embora agora!

— Creio que você não entendeu, criança. Você não tem escolha. Você foi ESCOLHIDA. Agora venha aqui — disse ele aproximando-se — vamos desintoxicar seu corpo do pecado e sua alma do rastro da fruta do conhecimento...

Nesse momento, Robson, o namorado de Clarissa, entrou no quarto e golpeou com um pedaço de madeira o homem na cabeça. Ele desmaiou na hora. Robson também se vestia de branco. Sem demora, segurou a mão de Clarissa e a levantou da cama.

Mesmo com a dor nas pernas, eles correram o mais rápido que podiam. A casa era pequena, feita de madeira e poucos móveis. Foi rápido encontrar a saída. Entretanto, a localização parecia ser num lugar quase inacessível e muito arborizado. Eles precisariam desbravar aquela vegetação até chegar em algum lugar familiar. Clarissa olhou para trás enquanto corria, para se certificar que ninguém os seguiam. Descobriu que a casa na qual estavam há pouco, simplesmente sumiu. Não estava mais ali.

— Olha, Robson! A casa sumiu! Que porra é essa?

— Caralho! Que loucura! Mas não para de correr!

De repente uma voz começou a falar. Eles não sabiam se a voz estava fora ou dentro de suas cabeças, mas, para os dois, ela disse a mesma coisa...

— Vocês não podem fugir de Deus. Ele tudo vê e tudo sabe. Em breve vocês estarão conosco e servirão ao senhor com alegria...

Correram e correram, como se pudessem fugir daquela voz. Correram aos tropeços até encontrarem uma pequena casa muito velha, também feita de madeira, com muito lodo e fungos. Eles estavam exaustos e não suportavam mais correr. Aquilo poderia muito bem ser um sonho, mas as vestes, os hematomas e o matagal continuavam ali para provar que tudo era real.

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