A Gata e o seu Menino {meanie}

Capítulo Único

Aya era uma gata belíssima.

Tinha uma pelagem incrível (de um cinza cor de céu chuvoso, riscado por majestosas rajadas negras), longos bigodes e garras de dar inveja. Estava um pouco gordinha pois comia muito e era preguiçosa, mas acreditava que o sobrepeso só acrescentava mais a sua beleza. Ela podia parecer um pouco esnobe a primeira vista — tanto quanto desconfiada, já que não se enroscava nos pés de qualquer um — mas na realidade era muito meiga. Gostava de quem lhe tratava bem, assim como gostava de fazer o que lhe desse na telha. Mas não era fácil ganhar sua confiança.

Geralmente, Aya se sentia mais a vontade apenas na companhia de seu humano de estimação, Jeon Wonwoo. Tinha o menino desde que se entendia por bicho e acreditava firmemente que ele fosse uma espécie de herança de família, já que Wonwoo fora de sua mãe e agora pertencia a ela. Quando ficou órfã, Aya sentiu que era uma responsabilidade enorme o fardo de ter que passar a cuidar do humano sozinha, mas no fim das contas se descobriu equivocada — já que, aparentemente, quanto mais velho, mais independente ele se tornou. De um jeito ou de outro, contudo, ela não estava só. No próprio prédio onde vivia, muitos outros gatos também tinham humanos.

Ah, e como ela gostava de ter Wonwoo por perto. Em troca de sua incrível companhia, o menino lhe dava comida, água e carinho entre as orelhinhas, e isso era mais do que Aya podia querer. Wonwoo também quase não levava estranhos pra dentro de casa, era muito estudioso e responsável, e aos olhos dela muito bonito também. "Será que todos são assim?", às vezes ela se flagrava matutando. De fato, se todos fossem mesmo daquela forma, não negaria seu desejo de adotar mais um humano. Quem sabe assim ganhasse comida e carinho em dobro.

Mas a vida não era um mar de rosas. A bichana ficava irritada com Wonwoo às vezes, pois nem sempre ele entendia o que Aya falava. Agora a gatinha já era até mais acostumada, mas quando filhote a barreira da comunicação a tirou do sério.

"Por que eu entendo tudo o que você diz, mas você não entende nada que eu falo?" Aya certa vez perguntou, nervosa, mas Wonwoo não parecia ouvir nada além de um miado, e isso era demais pra ela. Sentiu seus pelos das costas eriçarem, acabou perdendo a paciência e arranhando todo o braço pálido do menino, uma briga realmente feia. Isso aconteceu na primeira semana depois da morte de sua mãe, estava estressada e perdeu o controle. Aya se arrependeu e nunca mais agiu de tal forma, passando a se limitar apenas a miados irritantes.

Todavia, Wonwoo era deveras um bom garoto. Tanto que no dia do quarto aniversário de Aya, lhe trouxe um presente! Um outro menino: mais alto que ele, de pele morena, sorriso bonito e olhos que lembravam um pouco os que ela via quando se olhava no espelho. Aparentou ser muitíssimo simpático. Seu nome era Mingyu.

Logo que entraram em casa, retiraram seus sapatos e encostaram suas mochilas num canto. Ao mais alto Wonwoo ofereceu uma bebida, que foi aceita de bom grado. Eles se sentaram no sofá e iniciaram um longo papo.

Aya observou-os de longe, deitada preguiçosamente. Humanos eram estranhos. Wonwoo contava piadas péssimas para Mingyu, e a gata se espantou ao ver que ele realmente achava graça. Ela viu Wonwoo se avermelhar sempre que o outro se aproximava, viu como ele pareceu nervoso e feliz ao mesmo tempo, e realmente achou aquilo curioso. Eles ficaram em silêncio, se encarando por um tempo, pareciam em transe. Quando a felina viu que estavam quase batendo as cabeças um no outro, correu para impedir.

Era realmente a mais inteligente daquela sala?

Wonwoo se afastou surpreso, Mingyu riu e Aya se sentiu aliviada por ter impedido o acidente. "Sou mesmo uma heroína", foi o que disse para si mesma, mas Wonwoo não a agradeceu — pareceu foi irritado —, e Aya o achou muito mal agradecido, jurando até que da próxima vez o deixaria se machucar. Mingyu, pelo contrário, a pegou no colo e começou a acaricia-la, tecendo inúmeros elogios sobre como era bonita e tinha pelos macios. A gata certamente estimou o mais alto.