Capítulo 24

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Capítulo 24


Repiro fundo e deixo a suite. Ele não impede. Não me chama. Acho que é melhor assim. Se é para sofrer que seja tudo agora. Eu estava quieta no meu canto. Queria apenas um emprego e não ficar envolvida. Agora não tenho nada. Nem emprego. Nem envolvimento.

Ando de cabeça baixa. Quando percebo que nunca mais vou voltar aqui as lágrimas descem livremente. Nunca mais vou vê-lo. Esse homem insano, louco, mas que não consigo deixar de gostar. Odeio essa Natalie. Que mulher desgraçada. Transformou Adolphe nesse bloco de gelo. Ele não sentiu ciúmes de mim com Tissou. Brigou apenas porque não aceita compartilhar.

Passo pela recepção. Ainda bem que aquela mulher não está no balcão. Imagine me ver assim com olhos vermelhos. Passo pela porta giratória. Pierre chega no mesmo instante.

- Senhorita, por favor, tenho ordens expressas para levá-la até sua residência.

Ele percebe que eu não vou aceitar.

- Por favor. Não me deixe em maus lençóis. O patrão está muito nervoso. Se eu não cumprir a ordem dele...nem sei o que será de mim.

Fiquei com pena do pobre Pierre.

- Sei bem como é a Ira de Adolphe. Está bem, vou com você.

Pela primeira vez ganho um sorriso de Pierre. Esse baixinho era tão quieto e sério.

Encosto a cabeça no banco e fecho os olhos. Pierre pigarra- hunhunh - abro os olhos e vejo que ele me observa do espelho.

- Desculpa senhorita Perry. Não fique brava com o Sr. Ele é um homem muito justo, honesto.

-Sei, resmungo.

- Nesses últimos dias notei que ele sorri mais..

Fiquei pensando nessa informação do Pierre...

- Mas ele é tão estranho. Desde quando você trabalha para ele?

- Senhorita, conheço a família Chevalier há muito tempo. Meu pai já foi motorista deles. Eu passei a acompanhar Adolphe depois que ele assumiu os negócios.

- Ah...então você conheceu a...ex-noiva dele...ela ainda mora em Paris? - Tento descobrir mais coisas, só que Pierre de fecha.

- Esse assunto é delicado.O senhor não toca nele.

Concordei. Pierre não vai me ajudar.

Quando chego em casa sinto uma solidão. Chego no quarto e observo a cama desarrumada. Pego o travesseiro que Adolphe usou e cheiro. O perfume dele cítrico estava na fronha...vou dormir agarrada nele. Tomo um banho e vou até a cozinha beber um copo de leite. Tinha comido algo antes da reunião, mas agora estava muito tarde para encher a barriga. Escovo os dentes e observo que o arranhão no meu rosto estava bem fraco. Preciso dormir. Nem sei como será o meu dia no trabalho depois dessa confusão.

O despertador toca na hora. Deixo minha cama quentinha e olho o travesseiro. Tinha mesmo dormido agarrada a ele. Não posso lavar essa fronha..preciso preservar o cheiro dele.

Chego no escritório. Está tudo calmo. Nenhum recado pedindo para eu procurar o RH. Tenho que esperar Tissou. Enquanto ele não chega digito as informações da reunião. Tenho que deixar pronto o relatório. Mesmo se for demitida não vou deixar nada atrasado. Consigo terminar. Nada do meu chefe. No fim da manhã ele chega. A aparência dele está boa. Apenas um corte no lado da boca.

- Bonjour.

- Bonjour -disse nervosa.

- Elisabeth, será que podemos conversar na minha sala? -disse ele sério.

O EncontroOnde histórias criam vida. Descubra agora