Stars

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Estavam sentados. Matavam seus tempos com as cabeças direcionadas para o alto. Em silêncio observavam o céu, a lua, as estrelas. Alec tentava procurar por constelações, algum desenho que se formasse entre elas, mas não era tão simples assim, eram milhares de pontos brilhantes sob sua cabeça, elas pareciam todas iguais. Por mais que o garoto tentasse, não conseguia formular nem ao menos um desenho bobo. E o frustrava ficar ali, passar o tempo observando o céu noturno não lhe agradava da mesma forma em que agradava seu namorado.

Magnus se mantinha parado, contemplava o céu noturno como se fosse este algo novo, como se nunca estivesse lá, acima de suas cabeças noite após noite. Ele gostava de observar as estrelas, gostava delas no geral. Em seu quarto o teto era cheio delas, havia algumas desenhadas nas margéns de seus cadernos e em sua agenda a purpurina espalhada sob a capa se assemelhava a elas de forma bonita e simples.

"Por que gosta tanto delas?" Alec perguntou com a cabeça e o indicador direcionados para cima. "Digo, as estrelas. O que há de tão magnífico nelas?"

Sua pergunta era sincera, queria uma resposta, pois para ele, elas nada mais eram do que pontos brilhantes no céu, nada excepcional. Porém se lembrara do quarto do namorado, e das conversas que tiveram, nas quais Magnus citava o céu noturno com uma freqüência exagerada. Para Alec elas eram no máximo bonitas, não as compreendia da forma como Magnus fazia.

"As estrelas têm uma história." Magnus disse olhando para os olhos do namorado.

Talvez aquela fosse a primeira vez que alguém lhe perguntara o porquê de sua fascinação. Nunca havia planejado uma resposta elaborada, porém a que dera no momento não pareceu deixar Alec satisfeito. Em seus olhos banhavam a confusão, sua expressão era de quem gostaria de entender o que estava sendo dito, mas precisava de mais do que uma frase para isso. Magnus então continuou.

"Você sabia que as estrelas nascem e morrem? Elas são como a maioria das coisas existentes na Terra. Pode demorar bilhões de anos até seu falecimento, porém, assim como quase todas as coisas a nossa volta, a promessa da imortalidade não lhes pertence."

"Então o que lhe agrada é o fato delas morrerem?" Alec perguntara, sem entender direito se aquele era um motivo saudável de se gostar de algo.

"Com toda certeza não!" Magnus respondeu, rindo baixo da precipitação do namorado. "Gosto das estrelas porque as acho semelhante a nós. É uma semelhança que ninguém parece notar, mas ela existe."

Alec se encontrava com as sobrancelhas franzidas, em sua cabeça procurava semelhanças entre ele e os pontos brilhantes do céu. Nada lhe parecia igual, na verdade tudo parecia terrivelmente diferente.

"Uma estrela nasce e morre." Magnus prosseguiu. "Ela nasce e passa toda a sua existência lá, parada, como se estivesse cumprindo seu papel. Elas são exatamente iguais umas as outras. Ninguém as venera, mas costumam achá-las bonitas, e para elas isto basta. E então uma morre, e você nem ao menos sente falta dela, pois quando olhar para cima haverá outras estrelas para substituí-la. Elas são condenadas a viver um tipo de inexistência metafórica, elas estão ali, mas ninguém as nota de verdade. Nascem, vivem suas vidas cumprindo suas funções, formando constelações e sendo bonitas para quem as vê, porém quando morrem não carregam uma legião a chorar em seu nome, pois viveram uma vida normal. Completaram o ciclo que muitos temem, nasceram e morreram, como qualquer outra coisa, como as árvores por exemplo, ou até mesmo nós. Se você parar e pensar verá que estamos condenados a viver como as estrelas. Nós nascemos, vivemos cumprindo nossos deveres perante aos nossos iguais e então morremos, para que anos depois pouquíssimas pessoas ainda entendam nosso verdadeiro valor na sociedade, o que fomos de verdade, não somente mais uma pessoa que fez o que tinha que fazer em vida e sim uma pessoa que viveu a sua forma, e que deve ser lembrada por isso. Assim como o céu está repleto de estrelas iguais, a Terra também está repleta de pessoas iguais, ambas cumprem seu ciclo de vida e morte e partem rumo ao esquecimento inevitável."

Magnus fora parando de falar aos poucos, cada vez mais baixo e com tons mais ausentes, sentia que já havia dito mais do que devia, pois o silêncio de Alec já estava começando a constrangê-lo.

"Isso é tão bonito!" Alec diz olhando para o namorado, porém Magnus desvia o olhar.

"É só bobagem." Ele diz. Seus pensamentos não pareciam tão importantes, eram porcarias filosóficas criadas em sua cabeça.

"É poético." Alec diz encostando sua cabeça no ombro do namorado.

"Melancólico." Magnus diz em tom de correção.

"E é exatamente aí que se encontra a beleza das coisas poéticas. Onde elas estariam hoje sem suas melancolias?"

Magnus sorri, se vira um pouco e beija o topo da cabeça de Alec fazendo com que ele se vire e o encare por alguns segundos.

"E eu sempre vou me lembrar de você." Alec continua, sorrindo. "Você não precisa ser extraordinário para que isto aconteça, somente como é já é o suficiente. Não vou te deixar ser somente uma estrela, vou priorizá-lo assim como as pessoas fazem com o Sol. Você ainda será só mais uma pessoa, mas será especial para mim e eu espero que isto seja o suficiente."

Magnus manteve seu olhar em Alec por alguns segundos, e então se virou por completo e o beijou. Deixaram a conversa morrer aos poucos, pois naquele momento o que mais importava não eram as estrelas, nem ao menos o esquecimento inevitável que estavam destinados a enfrentar, eram eles, como individuais. Magnus e Alec importavam naquele momento, e no ar flutuava o amor, e a promessa de que sempre se amariam e nunca esqueceriam um do outro.


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Essa one shot é uma lindeza né? Eu amo ela demais, então não podia deixar ela ser esquecida porque ela é muito preciosa.

A versão original é Larry, da StylinsonGemma, muito obrigado por me deixar adaptá-la ♡

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