A Visita

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Volta e meia, ela está em minha porta

Eu a expulso, mas ela sempre volta

Digo-lhe 'Vá embora, não a quero agora'

Mas volta e meia ela está em minha porta

Eu, sádica, atrevo-me a espiá-la pelo vão da fechadura

Sua tez cintilava na calada da noite escura

Sim, à noite. É quando ela vem.

Assombra-me quando estou sozinha, sem ninguém

Outrora, quando eu, fraca, supliquei

'Leve-me contigo, por favor' implorei com avidez

Desdenhou de meu pedido, negou-me seu abrigo

E o que a faz voltar agora? Juro, eu não sei

Está aqui, novamente, pronta para me tentar

Alimenta minh'alma com as promessas que me dá

Onze e meia em minha porta querendo adentrar

'Não a quero, vá embora, não a deixarei entrar'

Na rude tentativa de permanecer sã

Fito as brechas da janela esperando o amanhã

Este que talvez nunca chegue outra vez para mim

Com a Morte em minha porta, me espreitando assim

Sim, eis ela! Eis minha lúgubre visita

Visita voraz, que acolhe, que abriga

Aquela a qual, para outrem, a chegada irrita

Para mim, a Morte, é como uma velha amiga

'Em breve, eu sei, iremos nos encontrar

Pelo acaso, pela doença, pelos pulsos que hei de cortar

No entanto, entenda, ponha-se no meu lugar

Pela primeira vez na vida estou disposta a tentar

Mas a Morte é instigante, ela sabe provocar

É o mistério mais sabido que ninguém ousa desvendar

Seus sussuros solenes assemelham-se à canções de ninar

'Você está cansada e devastada, não precisa mais tentar'

Ao prelúdio da madrugada, minha força se esvai

A cálida usura da Morte me perscruta e me atrai

Toco a gélida maçaneta, abro a porta devagar

Estou cansada e devastada, não preciso mais tentar.

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⏰ Última atualização: Mar 21, 2017 ⏰

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