Eu não sabia o que tinha acontecido comigo hoje. Estava sentado em minha cama à meia hora depois de acordar, não mexi um músculo desde então. O ar condicionado estava desligado, mas eu só faltava congelar, as cortinas abertas podiam mostrar o tempo cinza lá fora. Alguma coisa estava estranha. Essa situação toda me lembrou o dia que minha mãe me contou a verdade sobre meu pai. Depois de anos perguntando a razão de o meu pai nunca ter ido me conhecer, depois de anos chorando sozinho em casa para minha mãe não ver minha dor, depois de anos mentindo para os que perguntavam onde ele estava. Eu não entendia, até que passei a insistir cada vez mais. Era um dia como este, cinza, frio, sem vontade alguma de me mover ou falar com alguém. Apenas escutar. Minha mãe me disse que meu pai era um homem da paz, um homem que atraía olhares de inveja, por ter um espírito tão bom. Inclusive ela disse que eu me pareço com ele em quase todos os aspectos. Bom, voltando ao assunto... Meu pai faleceu três meses antes de eu nascer. Ele era um homem trabalhador e decidido, corria atrás do que queria até conseguir. Minha mãe disse que ele estava a semanas em busca de um berço ideal para mim, ele queria o "berço perfeito". E naquela noite ele encontrou. Dirigia apressado para casa doido para presentear sua mulher, quando de um segundo para o outro ele nunca mais poderia olhar em seus olhos, nunca mais poderia beijar seus lábios, nunca mais poderia dizer que a amava, e nunca veria seu filho que estava prestes a nascer. Minha mãe disse que naquela época ela teve que ser muito guerreira para não me perder, muitas vezes ela quase não aguentou e deixou a dor tomar conta de si, mas ela teve ajuda de algumas pessoas para conseguir se reerguer. A vida é a coisa mais complexa que existe, linda, porém, traiçoeira. Você pode estar seguindo um caminho, tendo pensamentos, vivendo lembranças... E de um segundo para o outro você perde tudo. É por isso que devemos viver cada dia como se fosse o último, você nunca sabe o que pode acontecer quando acordar no outro dia de manhã. Ou simplesmente não acordar jamais.
Minha mãe então passou a fazer trabalho duplo, ou melhor, triplo. Papel de mãe, papel de pai e ainda trabalhar fora de casa. Margareth Reed com certeza é uma pessoa para se admirar e servir de exemplo, eu tenho muito orgulho dela. Gostaria que os outros também pudessem ter. Ela trabalha todo dia o dia todo em uma padaria a umas quatro quadras de distância daqui. Então, eu quase não a vejo. Mas acho que de certa forma isso serviu para me dar maturidade e independência. Sou uma pessoa que poderia ser considerada rara nos dias de hoje. Palavras da minha mãe. Apesar de ter meus defeitos, como ser tímido demais e não causar uma boa impressão na maioria das vezes por conta do meu jeito reservado, eu tenho um bom coração. Eu larguei os estudos aos dezesseis anos para ajudar minha mãe a trazer dinheiro para dentro de casa. Porque teve uma época que eu percebi que ela chegava em casa a noite exausta demais, ela tentava disfarçar, mas eu percebia. Eu tomei a iniciativa, não agradou muito à ela no inicio, mas a fiz entender. Eu tenho sonhos, claro, como todo mundo, mas a vida me deu caminhos, e eu segui o caminho que julgo certo. Pelo menos por agora. Se eu puder ir atrás dos meus sonhos no futuro seria maravilhoso. Eu trabalho em um orfanato, e me sinto bem lá. Eu ajudo a cuidar e interagir com as crianças, a energia lá é sempre muito positiva e eu sempre vou embora me sentindo completo. Gosto de fazer o bem e ver no olhar de todas aquelas crianças a felicidade. Com o passar dos anos trabalhando lá eu comecei a me aprofundar no assunto, procurar outros orfanatos para visitar e coisas do tipo. Acabei encontrando não um orfanato, mas um lar para idosos. Eu quis experimentar uma forma diferente de amor lá, então fui sem nem pensar duas vezes. Eu dava amor para crianças, seria interessante dar amor àqueles que tem mais experiência de vida do que eu. No final acabou que eu amei a idéia. As pessoas de lá não têm somente a energia positiva e a felicidade, mas têm também histórias fantásticas que deveriam virar livros. Os únicos dias que eu não trabalho no orfanato são Segunda e Quarta. Então aproveitei a oportunidade e comecei a frequentar o lar para idosos todas as Segundas. E às Quartas eu frequento um hospital para crianças com câncer, onde levo meu nariz de palhaço e doces. As crianças de lá são um pouco diferentes das crianças do orfanato. Nem todas mostram felicidade, nem todas estão dispostas a conversar e rir. A maioria na verdade, não quer interagir de forma alguma, o que dificulta bastante. Nas primeiras semanas eu voltava acabado para casa, sem esperanças. Mas no dia seguinte eu voltava para o orfanato e pensava que as crianças do hospital só tinham levado uma vida diferente. Apesar das crianças do orfanato não terem pais, existem outras pessoas ao seu redor lhes dando amor, carinho e atenção, muitos eram pequenos demais para se importarem com o amor materno e paterno. Mas as criança do hospital já tinham esse amor, e não é ele que os preocupa. Mas sim a chance de perdê-lo para sempre em um estalar de dedos. Eu tenho apenas dezoito anos e já tive tantas experiências na vida, espero compartilha-las no futuro para meus filhos. Se ao menos alguém soubesse sobre a minha verdadeira vida...
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Red Swing
RomanceLembra quando você era criança? A única preocupação era descobrir onde o amigo se escondeu no esconde-esconde, ou quando faltava uma peça do seu quebra cabeça favorito. Mas um dia você cresce, e agora você tem responsabilidades. A vida adulta pode s...