Capítulo 4 - Quarta-Feira

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"Fazia uma semana que eu frequentava aquele parque. Mamãe no momento estava trabalhando e me deixava aqui com a desculpa de que eu deveria interagir mais com novas crianças. Mas eu sabia que na verdade era porque ela não podia me deixar sozinho em casa até o horário da escola. Eu estudava durante a tarde, e mamãe trabalhava na padaria de manhã, então para não me deixar sozinho ela me levava para o trabalho. Mas agora me deixava em um parque, pelo visto. 

Eu estava sentado em um balanço vermelho que parecia ter sido acabado de ser pintado. Me balançava para frente e para trás observando as crianças brincarem. Tinha diferentes idades ali, diferentes tipos de pessoas, diferentes sorrisos, diferentes gargalhadas. Mas eu tinha um pouco de receio do diferente. 

Nunca interagi com nenhum deles, e nunca pretendia. Por mim, passava a eternidade apenas os observando, eu achava até mais legal.

Alguns minutos se passaram, eu estava observando dois garotos brigarem por um escorrega, quando senti uma presença próxima a mim. Virei o rosto curioso e vi uma garotinha sentada ao meu lado no balanço. Franzi o cenho para ela e seu enorme sorriso, e apenas virei o rosto para voltar a observar a discussão do escorrega. Não esperava que ela fosse tentar puxar assunto.

- Qual é o seu nome? - ela perguntou. Tinha uma voz fina, mas que não chegava a ser estridente. Não era alta, era apenas fina. Voltei a encará-la e meu corpo entrou meio que em defensiva. 

- Martin. - murmurei desviando meu olhar para meus pés logo em seguida.

- Legal! Meu primeira amigo com esse nome! - ela disse soltando uma risada no final da frase. Bateu palmas animadas e eu revirei os olhos.

- Não sou seu amigo. - respondi sem olhá-la, mas depois de alguns segundos sem ela ter pronunciado palavra alguma, resolvi levantar a cabeça para observá-la. Ela me encara sem expressão e eu ergui uma sobrancelha. 

- Mas podemos ser... Né? - ela perguntou e tombou levemente a cabeça para o lado.

- Eu não sei. - fui sincero. Ainda mais que ela era uma garota, piorava mil vezes a situação. Só aquele pequeno diálogo entre nós dois e eu já estava surrando por dentro.

- Meu nome é Alexia. - ela disse ignorando minha resposta. - Vamos brincar! - ela fez um movimento brusco pegando em minha mão. 

Aquilo me assustou, e eu recuei de maneira agressiva como se ela tivesse me machucado.

- Eu to bem aqui. - murmurei voltando a encarar meus sapatos. A garota bufou ao meu lado e começou a se balançar no brinquedo.

- Tudo bem, se não quer brincar, vamos conversar! - ela disse voltando a ficar animada imediatamente.

Virei meu rosto para ela, e de alguma forma meu olhar bateu direto em seus olhos, e eu não consegui me esquivar dessa vez. Ela me prendeu com o olhar como se dissesse "Para de fugir".

- Quantos anos você tem, Martin? - ela perguntou e eu me mantive quieto, apenas olhando em seus olhos. - Nove? Dez? - insistiu me fazendo soltar uma leve risada. - Tudo bem... Não vai responder? - resolvi implicar com ela e apenas fiz um movimento negativo com a cabeça. - Então não quer brincar, não quer conversar... Quer fazer o que?

Aquela garota insistia demais. Ela não via que não iria conseguir o que queria? Eu não era tão fácil de me relacionar assim, sinto muito, Alexia, mas não será dessa vez.

De repente os olhos dela começaram a ficar bem intimidantes, e eu resolvi desviar meu olhar de volta para meus sapatos. Ela pareceu entender o que eu queria afinal. Porque o resto da manhã ela se manteve ali ao meu lado, calada, apenas observando os outros, sentada ao meu lado. Ela era a mais diferente de todos ali. Naquele momento eu percebi que por mais que eu não admitisse, tudo que eu queria era a presença dela.

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