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Lá estava eu, quase dormindo na aula. Meu olhos não aguentavam mais ficarem abertos. Estava exausta.
O sinal tocou, e com ele trouxe o fim da aula. Meus olhos agradeceram. Amém! Assim quando todos estavam saindo, o professor chamou-me no canto e perguntou:

- O que está havendo? Posso ajudar? - ele realmente parecia preocupado.

- Nada. - olhei fixamente para ele.

- Tudo bem... - ele rodeou sua mesa e voltou a falar - Se não quer falar, eu respeito.

- Professor, meu pai piorou e ultimamente tenho passado a noite acordada, com ele.

- Eu sinto muito.

- Eu sei! Todos sentimos. - abaxei a cabeça. Aquilo era muito doloroso.

- Eu realmente quero que ele melhore. - Mateus passou sua mão aveludada no meu rosto. Ele era tão atencioso comigo.

- Mateus, acho melhor ir. Meus irmãos precisam de mim. - tirei seu mão do meu rosto e dei-lhe um beijo no rosto. Ele sorriu.

- Espero vê-la revigorada, amanhã. - ele sorriu.

Sai da sala e fui em direção a parada de ônibus. Estava nublado e o cheiro de café entrava pelas minhas narinas e me deixava alucinada. Aquele cheiro era bom, muito bom. Estava distraída quando um carro passou e me sujou de lama. Droga! Sabe o que é pior? O desgraçado ainda abaixou o vidro e disse:

- Desculpa, é que eu não te vi. - ele gargalhou e arrancou o carro com tudo.

Por que isso tem que acontecer comigo? Pensei.

Subi no ônibus, sentei na janela e fui o caminho inteiro observando as ruas vazias e alagadas. Estava chovendo, com direito a raios e trovões. Eu gostava do barulho e da luz que o raio produzia. Sou um pouco estranha. O ônibus parou em frente à minha casa. Desci e abri a porta. João, meu irmão estava assistindo TV.

- Boa tarde! Olha só, assistindo porcaria de novo? - parei em frente à TV e fitei-o.

- Sai da frente, Amy! Eu quero assistir. - João protestou.

- Ah, não! O que adianta eu comprar vários livros e ficar jogado na estante? Hein? Nada! Em falar em livro, olha o que eu comprei. - peguei o "Pequeno príncipe" da minha mochila. - O que você acha de trocar a TV por esse livro majestoso?

- Sai da frente, Ártemis!

O filho da mãe preferiu a tv. Eu tento aducá-lo, alimentando sua mente com coisas produtivas, mas ele insiste em trocá-las por porcarias.
Estava arrumando a sala rústica de minha casa, quando papai chamou-me. Fui ao seu encontro.

- Está sentindo algo? - sentei na velha cama de madeira.

- Meu amor... - papai passou sua mão no meu rosto, acariciando. -, um dia, eu não lembrarei quem é você, e quando este dia chegar, eu quero que me mate.

- Você está louco? Nunca! - lágrimas rolaram. Deitei minha cabeça sobre seu peito e ali, chorei.

- Ártemis, eu a amo tanto. - ele estava chorando. - Você foi a melhor coisa que me aconteceu. Quando você nasceu...

- Papai, pare! Eu não quero que você fique triste. Isso não faz bem a você. Olha o que o médico aconselhou...

- Tudo bem. Acho que vou tirar um cochilo. - ele sorriu.

- Durma bem. - dei-lhe um beijo na testa.

Eu odiava tudo aquilo. A dor e o sofrimento que a vida me proporcionou. Por quê?

- Ártemis? Você está chorando? João abraçou-me.

- É claro que não, meu amor. - limpei minhas lágrimas e sorri. - Está com fome? O que você acha que ir ao supermercado comigo?

- Só se você comprar açaí, chocolate e sorveteeee. - João gritou eufórico.

- Vamos! Deixa eu pegar minha bolsa.

Fui pegar minha bolsa e percebi que o dinheiro estava acabando. Não dava para fazer as compras. E agora? Como eu vou comprar tudo só com 50 reais? Eu não sabia o que fazer. Resolvi tentar a sorte. Estava caminhando com João rumo ao supermercado, quando Mateus parou seu carro. Confesso que fiquei assustada, não estava esperando.

- Quer uma carona? - ele sorriu.

Confesso que Mateus era atraente. Era forte, alto, tinha cabelos negros e um sorriso encantador. Qualquer uma ficaria louca por ele
Estávamos no supermercado. Percebi que ele estava me observando. Estava incomodada com aquela situação. Será que ele estava a fim de mim ou era paranóia da minha cabeça? Não consegui alcançar um cereal, então ele segurou na minha cintura e pegou o cereal. Ficamos frente à frente. Ele sorriu.

- Mateus! - afastei-o e voltei para o carrinho.

- O que houve? - senti seu cinismo.

Droga! O que estava fazendo? Insinuando que meu professor de física queria me pegar? Eu realmente não sabia o que falar. Travei.

- Vou pegar o açaí. - sai rapidamente daquela situação embaraçosa.

Aquilo estava me matando e eu precisava ter certeza de que era algo da minha cabeça. Ali não era a hora e nem o lugar certo.

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Amanheceu. Acordei atrasada para a aula. Aquele era meu último ano e precisava fazer história naquela escola. Tomei um banho e fui "correndo" até a escola. Assim que cheguei, percebi que a sala estava vazia. Bem, não estava surpresa. É só chover que todo mundo resolve que a o futuro não é importante. Sentei na última cadeira e aguardei de cabeça baixa a aula começar. Mateus chegou, e com ele, o cheiro de café da esquina. A aula correu bem, tirando a ausência de 20 pessoas e só eu na sala... Estava distraída quando Mateus chamou minha atenção.

- Vai dizer que passou a noite acordada? - ele sentou na cadeira ao lado.

- Dessa vez não. - sorri e coloquei uma mecha de cabelo que estava no meu rosto atrás da orelha.

- Pensando na magnífica aula de física? - perguntou Mateus aproximou-se.

- Também não. Na verdade, passei a noite dormindo mesmo. Já você...

- Eu não tive a mesma sorte. Passei a noite formulando as questões da prova.

- Professor, estou com uma certa dificuldade no conteúdo anterior. Será que poderia explicar?

- Tudo bem. Passa na minha casa, no finalzinho da tarde. Vou adorar sua visita. - piscou Mateus.

Não pensa besteira, Ártemis. E não tem como? Preciso me concentrar nos estudos e deixar essas besteiras de lado.
Sai da sala e fui até a quadra. Sentei na arquibancada, lá no fundo. Peguei meu celular que estava no bolso do casaco e olhei as notícias. Estava distraída, quando Letícia abraçou-me. Ela era minha amiga.

- Amy, o que está acontecendo? Está cansada? - ela segurou meu rosto com as mãos, analisado cada detalhe.

- Exausta. Papai teve uma crise. Eu realmente não sei o que fazer. - afundei meu rosto em minhas mãos.

- Olha, se você quiser, eu posso passar alguns dias lá. - ela sorriu.

Enquanto conversei com Letícia, os assentos foram sendo ocupados e um homem chamou minha atenção. Ele era alto, atlético, estiloso e tinha um belo maxilar.

- Multiplica senhor! - Letícia gritou e ele virou e sorriu. - Como alguém nasce um vez e é lindo desse jeito. Imagina aí, eu puxando aquele cabelo castanho claro e beijando aquela boca rosada. Imaginou? Eu sim. - Letícia gargalhou.

Realmente ele era tudo isso. Despertei na hora.

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