Capítulo 1

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Amanda

— Amanda! — Eu o escutei me chamar aos berros enquanto me afastava rapidamente.

Minha cabeça latejava e ainda estava um pouco anuviada pela ressaca causada pela noite anterior. Um mês seguido com o mesmo cara, realmente tinha sido um recorde, e acordar naquela manhã enrolada nos braços de David tinham sido o que precisava para correr o mais rápido possível do que começava a se parecer com um relacionamento. Eu não namorava, não ia a encontros e isso era uma coisa que definitivamente não mudaria.

Eu sempre evitei tudo o que tem a ver com sentimentos. Quando sai de casa naquele dia, jurei a mim mesma que nunca iria ser magoada de novo, nunca seria mais indefesa ou vítima novamente. Consegui uma bolsa de estudos em uma cidade grande e distante, arrumei um trabalho como garçonete e me matriculei em aulas de defesa pessoal.

Assim que meus pés viraram a esquina eu percebi que David, já não vinha mais atrás de mim. Era o melhor. Com sorte chegaria da universidade a tempo para a aula de Filosofia, olhei no relógio. Oito e meia. Meus pés se apressaram ao descer a escada do metro, enquanto minhas mãos lutavam para encontrar meu celular na bolsa, e conectar o fone de ouvido. Assim que cheguei a plataforma o grande painel sinalizava que ainda faltavam cinco minutos para chegada do próximo trem, sentei no banco mais próximo ouvindo ACDC back to black, alto o suficiente para fazer todos os meus pensamentos sumirem da minha cabeça.

Tinha saído tão rápido da casa de David, que nem sequer olhar no espelho para saber o estado que estava minha aparência, por isso procurei um elástico na bolsa e prendi meus cabelos castanhos em um rabo de cavalo alto. O barulho inconfundível do metro se aproximando, me fez soltar um suspiro entediado, eu nunca fui uma fã de manhãs. Entrei no trem assim que as portas abriram, não estava lotado, mas teria que passar a viagem entre as seis estações de pé, pelo simples fato de uma senhora achar que sua bolsa tinha mais direito a um assento do que o resto das pessoas, que ainda sorriu ao me ver encarando a bolsa que tinha uma bunda mais importante do que a minha.

Não me considero uma pessoa legal ou simpática, na faculdade tinha fama de violenta e punk. Não que eu seja nenhuma dessas coisas, mas nunca tinha feito nenhum esforço para me enturmar.

Finalmente o metro chegou ate a estação que eu procurava, sai rapidamente da estação e me apressei em direção ao campus, não era longe, mas era grande o suficiente para que eu perdesse alguns preciosos minutos tentando chegar na minha sala de aula. Olhei no relógio. Nove horas e cinco minutos. Eu já estava atrasada, como sempre.

Assim que passei a porta da sala, o professor chamou por meu nome, enquanto lia a lista de chamada.

— Olha só, quem nos deu a honra de sua ilustre presença. — Sr. Marquez falou me encarando por cima de seus óculos.

Nem me dei ao trabalho de responder, apenas lancei um olhar pouco amigável e continuei andando até o fim da sala.

Sempre fui bem nos estudos, apesar de tudo conspirar para que não fosse, consegui a bolsa de estudos na universidade que queria com facilidade, e nunca precisei estudar muito para ir bem nas provas. Tinha escolhido o curso de Direito por uma razão, e eu pretendia terminá-lo com honras.

A aula passou extremamente devagar, e quando finalmente acabou, me levantei apressada, e já estava quase passando pela porta quando o professor me chamou até sua mesa.

— Sabe Amanda, gostei muito de seu ultimo trabalho sobre Habermas, acho que é bom o suficiente para ser apresentado no Congresso internacional de Direito e Filosofia esse ano. Vai ser muito bom para conhecer algumas pessoas importantes da área.

— Ficaria muito feliz de poder comparecer professor. — Respondi.

— Bom. Mas é claro que antes temos que fazer muitas mudanças no seu texto, já fiz algumas observações, me entregue corrigido para próxima aula.

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