Capítulo 2

75 12 1
                                    

Eu sai tão rapidamente do estúdio de tatuagem de Jéssica que sentia mim mesma perder o ar. Aqueles olhos. Tinham me feito perder a cabeça por um instante. A lanchonete que trabalhava não era longe, e venci as três quadras mais rapidamente do que alguma vez já fiz. Entrei na lanchonete, a decoração apesar de antiga, como tudo por ali, era de bom gosto. Joguei minha bolsa em uma das mesas, e me sentei. Ainda tinha meia hora antes de começar meu expediente. Iria comer algo.

— Chegou cedo hoje. Vai almoçar? — Karina, uma jovem assustadora mente linda de aproximadamente dezoito anos que tinha acabado de entrar para a lanchonete como garçonete, perguntou.

—Vou sim, vou querer um hambúrguer, fritas e uma coca, por favor. — Pedi.

— Que inveja, não sei como pode comer tanto e não engordar.— Ela reclamou enquanto anotava meu pedido. — Já trago.

Fiz careta enquanto ela se afastava, eu tinha trabalhado duro pelo corpo que tinha, mas comida foi algo que nunca consegui abdicar. Olhei pela vitrine para a rua, observando pessoas desconhecidas levarem um dia normal de suas vidas. Os alto-falantes da lanchonete tocava o mesmo CD de músicas pré-selecionadas, que iam de pop dos anos 80 até "baby" de justin bieber.

Abri minha bolsa procurando pelo artigo que meu professor tinha devolvido corrigido. Enquanto lia suas observações esperando pelo meu almoço, escutei a porta da lanchonete se escancarar e olhei em direção a ela. Um homem vestido com uma jaqueta preta larga, entrou falando alto pelo celular. Arquei as sobrancelhas quando o vi escolher a mesa mais próxima de mim, pude facilmente sentir o cheiro de álcool que vinha dele. Bufei. Aquele era o pior tipo de cara.

— Sua vadia, espere eu chegar em casa. — Ele gritou ainda ao celular.

Já tinha escutado aquelas mesmas palavras inúmeras vezes, e sabia muito bem o que vinha após. Senti meu estômago se revirar e meus punhos se fecharem ao encarar o homem. Estava completamente furiosa.

— O que deseja senhor? — Karina perguntou a ele.

— Olhe só. Se não é a loirinha de novo. É muito gostosa tenho que falar. A gente podia dar uma voltinha, o que acha? — Ele disse rindo de forma escandalosa enquanto olhava em direção a Karina.

Vi minha colega de trabalho tentar se afastar, e então o homem agarrou em sua saia, tentando puxá-la para baixo, o que teria acontecido se não fossem os suspensórios que a seguravam. Levantei rapidamente, estralando os dedos da mão, e me aproximei deles.

— Solte. — Pedi, fazendo-o rir ainda mais.

— O que vai fazer garota?

Bufei mais uma vez, arqueando as sobrancelhas. Ele não devia ter falado isso. Não devia mesmo.

Assim que ouvi aquelas palavras saírem da boca imunda daquele homem agarrei a mão que ainda segurava a saia de Karina e a torci, fazendo com que seu corpo torcesse em um ângulo estranho, ele gritou de dor. Assim que caiu da cadeira de onde estava sentado, usei minha outra mão para empurrar seu ombro, forçando-o a ficar de joelho, de costas para mim. O fato de estar bêbado deixou o movimento ainda mais fácil para mim.

— Vai sair daqui imediatamente. Sem alarde. Ou vou fazer muito mais do que apenas te imobilizar. Ok? — Perguntei.

Eu o torci ainda mais seu braço, não o suficiente para quebrar. Mas ele gritou de dor.

— Tá. — Falou rispidamente entre gemidos.

Soltei-o devagar, vendo-o se levantar e ir tropeçando em direção a porta. Virei-me em direção a Karina que observava a cena com olhos arregalados.

— Estão bem? — Lucas, o gerente da lanchonete, se aproximou correndo. — Desculpem não ter chegado a tempo estava no depósito, e vim assim que Lourdes chamou.

No turno da tarde a lanchonete tinha poucos empregados, eram eu e Karina de garçonetes, Lourdes de cozinheira e Lucas de gerente e caixa.

Karina parecia em choque, e apenas assentiu.

— Sim. — Respondi.

— Que bom, agora precisamos conversar sobre bater em clientes dentro da lanchonete.  — Lucas respondeu mudando seu olhar preocupado para severo.

— Ah. Não estou ainda em horário expediente, e muito menos uniformizada. Então tecnicamente, ele não era um cliente para mim.

Lucas bufou.

— Não que aquele bastardo não merecesse, mas não pode ficar por ai agindo como uma vingadora, muito menos não dentro da lanchonete.

Eu abri a boca para responder, mas Lourdes se aproximou com a bandeja, e o delicioso hambúrguer fez meu estômago roncar.

— Que lição que deu naquele babaca, querida. — Lourdes falou. — Devia ter filmado para colar na internet você ia viralizar.

Lourdes tinha quase sessenta anos, e tinha aprendido a mexer em seu smartphone mais rapidamente do que eu mesma, e agora tinha perfis em quase todas as redes sociais. "É o jeito mais fácil de arrumar um namorado, querida". Tinha me falado uma vez.

— Não compactue com isso Lourdes. — Lucas falou. — Não é a primeira vez...

— Ok, ok, honorável chefe, isso não vai se repetir. — Falei encarando a bandeja que Lourdes passava para mim. — Agora, se me dá licença, eu gostaria de aproveitar os momentos finais de almoço. Parece delicioso, Lourdes.

Deixei Lucas esbravejando e reclamando ao voltar para a mesa.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Mar 25, 2018 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Ao Seu LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora