Papillon Blanc
Eu realmente achava que esse dia não iria chegar, mesmo sabendo, eu sempre implorava para qualquer divindade que não me deixasse ir.
Foi em um dia de primavera, a luz já partia e as trevas logo se apresavam em vir, trazendo consigo melancolia e a brisa fria que fazia todo meu corpo se arrepiar, não como ele se arrepiava quando tinha seu toque, leve, porém, intenso. Você vestia uma camisa branca grande demais para si, na verdade eu gostava dessas suas roupas largas, elas mostravam o quão pequeno você era, apesar de ter um coração tão grande. Mas foi neste fim de tarde em que eu reparei o quão bom você é para mim, como aquela frase clichê se adapta tão bem agora, ''Os opostos se atraem''. Realmente, nós éramos tão diferentes.
— Você tem medo de partir? — Sua voz preencheu aquele local, cortando o silêncio tedioso, mas confortante. Pensei em uma resposta que explicasse o meu sentimento de medo sem ti machucar.
— Talvez eu não tenha medo se já estiver comprido com minha promessa.
— A promessa de me fazer feliz? — Você ainda lembrava dela. — Você já cumpriu.
— Sério? — Perguntei mordaz e vi você assentir. — E você? Tem medo de partir? .
— Você cumpriu a sua promessa, não posso dizer o mesmo. — Apesar de estarmos falando sobre a morte eu não queria que ele chegasse nesse assunto tão desagradável. — Então eu não posso partir.
— Eu nunca concordei com essa promessa.
—Eu não preciso da sua concordância. — A resposta foi no mesmo tom de outras conversas similares, casmurra.
— Tente me entender, eu posso sentir sua aura me preencher em cheio, e é tão horrível sentir isso. — Minha voz aos poucos se tornava mais baixa e chorosa.
— É HORRÍVEL SENTIR QUE EU QUERO TI SALVAR? — Seu tom era gritante e grave. Estremeci. — Entenda que eu não posso ti deixar partir, eu tenho que ti ter para sempre.
Apesar de querer dizer ou relembrar algo que ele sabia melhor que ninguém, que meu caso se tratava de uma doença mortal, mantive meu pensamento dentro da cabeça.
—Vamos subir, está começando a esfriar. — Sua voz agora calma se fez presente no local silencioso em que estávamos. Eu sempre gostei da noite, mas ele nunca me deixava ficar.
Naquele mesmo dia, quase beirando a meia noite, eu implorei para você ir para casa, fazia dias que você não ia até lá alegando gostar de estar sempre presente ao meu lado. Mas eu sabia que além de gostar estar comigo você também gostava de sentar em uma das cadeiras na varanda da nossa casa e tomar um chá caseiro e ler um livro qualquer, gostava também de deitarem nossa cama, sempre dizendo sobre ela ser macia como o toque de minhas mãos, ainda que dizia ser desconfortável sem a minha presença nela.
Você se despediu de mim com um beijo terno de boa noite, dizendo que voltaria na manhã seguinte. Eu ti vi partir e um misto de angústia e saudade invadiu meu peito, como se fosse nosso último momento.
E foi.
Eu parti depois da duas daquela madrugada, simplesmente como uma borboleta parti de uma flor para outra, leve e silenciosa.
Sempre pensei ser uma borboleta preta, que simboliza a morte. Você era o oposto, uma borboleta branca, assim como suas vestes, sempre transmitindo a serenidade, a calma, a paz. Foi nos meus últimos suspiros que para me desconcentrar da dor que comecei a pensar em seu sorriso, a dor chegou ao ápice final, e eu voei.
'' Carta do Paciente, Quarto 47
Dr. Jeon,
Não importa se foram momentos bons ou ruins, foram ao seu lado, então cada segundo valeu a pena.
Papillon Noir ''.