Capítulo único

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Já pensou se um dia você encontrasse uma bruxa no meio da floresta, ou um lobisomem, quem sabe até mesmo um monstro de baixo da cama?

Já imaginou se tudo o que nos contam quando crianças fosse verdade, e se desrespeitasse, sinto muito, mas não teria uma noite agradável de sono, ou se quer uma noite agradável.

Meu nome é João, e eu vou contar uma história para vocês, e espero que depois de lerem isso, possam ter a certeza de que há algo lá no canto do quarto, te observando no escuro.

Sou de um vilarejo chamado Halkbargue, que fica próximo a Salem. Aqui as coisas são bem chatas, e não muda muita coisa quando você tenta ser diferente, porque ninguém está nem aí para você. Os bêbados da cidade morrem largados nos cantos dos bares no inverno, porque ninguém liga, os corações das pessoas aqui são mais frios que o próprio inverno.

Eu trabalho na igreja, eu não tenho uma religião, mas é o que tem para fazer, então não tenho escolha. O Padre Pheuri é legal, mas fica muito chato quando começa a tentar me fazer ser católico. Acho engraçado, aquele senhor velho de 80 anos, careca e magrelo tentando me fazer acreditar em algo. Eu tenho 30 anos, já sei discernir bem as coisas, e tenho meu livre arbítrio.

Já disse que moro nos fundos da igreja? Então, é um saco! Mas não posso reclamar muito, o Padre foi muito bom me acolhendo. Eu até ia à missa quando era mais novo, mas depois que vi minha mãe morrer, sendo acusada de bruxaria, eu desisti.

Uma das piores coisas em morar próximo a Salem é porque todos adotaram as mesmas medidas contra as bruxas, o pior é que não existe nenhuma, eles são loucos.

A igreja fica no centro do vilarejo. Ela é pequena, mas não precisaria ser maior, já que os habitantes são poucos, já tem seus lugares marcados nas cadeiras. Ela é feita de madeira e tem uma pequena torre com um sino velho, e acho que pode cair a qualquer momento. Dentro ela é simples. Tem algumas imagens de cristo em pequenos quadros, traçando seu trajeto até o monte onde foi crucificado. O altar é pequeno, mas o Padre se vira muito bem ali.

No meu quarto eu não tenho luxo, mas também não preciso de muita coisa, a cama e a escrivaninha que tem aqui já são o suficiente. Eu escrevo no meu diário de vez em quando então gosto de ficar lembrando do que fiz e ficar refletindo sobre algo que não deveria ter feito ou repetir no dia seguinte algo que eu tivesse gostado, mas nunca repeti nada.

Todo domingo de manhã, antes da missa, eu lavo o chão da igreja. Saio bem cedo e vou até um dos três poços de água. Eles ficam separados, cada um numa beira do vilarejo, e eu sempre vou num em especial, vou no poço de frente para a floresta, desde o dia em que eu a vi lá. Uma moça bela, de cabelos ruivos e olhos castanho claro, era linda. Depois daquele dia em que a vi eu nunca mais vi de novo, mas eu sempre vou lá para tentar encontrá-la de novo. Apesar do vilarejo ser pequeno, e conhecer praticamente todos, eu não conhecia ela, e também não a via na igreja ou no mercado vendendo maças ou alguma outra coisa, pois no vilarejo, todos trabalhamos a favor de nós mesmos, fazemos trocas de serviço e assim seguimos. Nunca tivemos problemas e acho isso incrível.

Hoje é dia 20 de novembro, faz 20 anos que a minha mãe foi queimada viva, e para completar, o dia está nublado, mas quase sempre está, deve ser por isso que somos conhecidos como sombrios. Ela se chamava Perola, e sempre me amou e me deu muito carinho, até hoje eu não consigo entender o porquê de acusarem ela de bruxaria, eu estava quase todo o tempo com ela, e nunca a vi fazendo mal a ninguém. Foi injusto, nunca perdoei o Padre que a acusou, ele se chamava Padre Melon, e foi embora depois da morte da minha mãe. Eu sempre quis encontrá-lo e perguntar o porquê, mas nunca tive a chance.

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⏰ Last updated: Mar 26, 2017 ⏰

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João: O Caçador de DemôniosWhere stories live. Discover now