O Festival de Aldarignis finalmente está para começar. É o maior feriado cíclico do país, que celebra a unificação de Aldebrán Norte e Sul após a vitória na Grande Guerra contra Dênador e as hordas caóticas do demônio Felial. O Festival representa um período de alegria, onde as diferenças sociais pouco importam e o espírito de união do nosso povo se inflama. E o melhor de tudo: são 18 dias de festa – com todos os exageros que ela proporciona. Toda edição do festival presenteia as pessoas com memórias inesquecíveis. Para mim não é diferente: tenho certeza que essa edição será a melhor de todas. Desta vez, porém, eu terei a honra de inaugurar o evento aqui em Calacás.
Isso nem parece real.
O nervosismo me inquieta. Em menos de uma hora vou me dirigir a centenas de pessoas. Duas vezes centenas de olhos me encarando. A essa altura, o frio na barriga já é quase atordoante. Contemplo as estantes repletas de livros nas paredes do meu quarto, e decido mergulhar na leitura para me aquietar. Os livros foram meus companheiros desde criança, e encontro conforto em revisitar as páginas daqueles que já li. Ao me aproximar de uma das estantes, antes mesmo de me decidir sobre o tema da leitura, minhas mãos instintivamente alcançam um livro desgastado, com verniz descascando e páginas amareladas: "Fisiologia voltada para Magia Unívoca".
Foi uma das minhas primeiras leituras, presente do meu tio após sua longa viagem para o Oeste. Essas páginas foram o suficiente para que eu me decidisse sobre meu futuro. Seria um Sacerdote, custe o que custasse.
Corro os olhos sobre o primeiro parágrafo do capítulo de introdução:
Esta obra é um estudo sobre magia unívoca, no que se refere à identificação e análise dos sistemas fisiológicos humanos que podem compor cada um dos três pilares da magia: a energia, o receptáculo e o canalizador.
Esse parágrafo reaviva minha memória. Devo ter me prendido por vários minutos sobre essa única sentença, divagando sobre minha jornada para me tornar o que sou hoje, mas só o percebo ao me assustar com o barulho da porta batendo num banquinho com vários livros empilhados, próximo à entrada do quarto. Levo alguns segundos para organizar meus pensamentos e me dar conta de que o homem que acabara de escancarar a porta, e que agora está ajoelhado ajuntando os livros que caíram da pilha, é Milo, o encarregado do setor de informação dos faróis-sentinela, e meu fiel companheiro.
– Pode deixar os livros aí, Milo, eu mesmo os organizo depois.
Sem fazer menção de parar o que estava fazendo, ele responde:
– Organiza?! Seus livros já dominam todas as paredes e agora o chão do seu quarto. Já está mais do que na hora de doá-los. – Após uma pequena pausa, ele continua – Mudando de assunto, temos uma ocasião séria dessa vez. Um grupamento numeroso que parece estar indo direto para Cruzabordo, com um padrão de deslocamento semelhante ao de dêmonas!
– Quantos?
– Pelo menos vinte. Viajam muito próximos uns dos outros, é difícil ter certeza.
Vinte dêmonas... se estiverem preparados, podem ser uma séria ameaça à guarnição esparsa de Cruzabordo.
– Qual a estimativa de chegada?
– Se o ritmo for mantido, eles devem ser capazes de cobrir a distância da Floresta Undra até a cidade em menos de uma novena.
A previsão me soa absurda no início. Um homem em plenas condições, com equipamento leve e poucas horas diárias de descanso, levaria ao menos doze dias para cruzar essa distância. Se isso for verdade, dêmonas realmente são mais temíveis do que eu imaginava.
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Batalha do Fim
Fantasy"Batalha do Fim" é um livro de fantasia medieval com pitadas de sci-fi: uma combinação empolgante, planejada para entregar uma leitura bem fundamentada e cativante! O livro é dividido em duas narrativas: cada uma conta a história vista por persona...