For you I was a flame

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É uma história clichê a forma como nos apaixonamos. Eu estava tão focada no meu trabalho e em mim, que ao menos notei você do outro lado da sala, com os cabelos negros balançando ao ritmo da musica, rindo alto com uma garrafa na mão, jeans apertados e aquelas blusas de banda que você tanto gosta. Irradiava energia, como sempre fez, porque você é indomável. Mas ainda bem que você me notou, porque naquele dia que você se aproximou e disse que tinha gostado do laço no meu cabelo, que acabava por me fazer parecer um presente embalado vindo dos deuses, eu me deixei viver. A risada tímida que eu soltei acendeu a chama dentro de você, e foi onde tudo começou.

Dançamos tanto aquela noite, bebemos até não termos pudor e eu era elogiada a cada vinte minutos como se fosse algo cronometrado, ficava vermelha e você ria. Até que me beijou, no meio de um bar com metade dos meus colegas de trabalho e suas amigas assoviando a nossa volta, e caralho. Que beijo. Foi assim que criamos uma rotina não combinada, as quintas eram só suas na minha semana. Nós íamos aquele mesmo bar e vivíamos o romance adolescente que eu não tive. Em uma das quintas, você veio de short, e uma meia-calça que me deixou sem folego, mas não tanto quanto o fogo nos seus olhos quando me viram.

Flashback on

Ofeguei com sua visão, os cabelos diferente do ondulado natural estavam lisos, tinha uma jaqueta que cobria uma blusa apertada, suas coxas pareciam mais fartas hoje, ela sorriu largo e se aproximou de mim, como se nada mais importasse. Tinha um pouco de maquiagem que destacava seus olhos esmeralda, que estavam brilhantes essa noite.

-Chegou cedo hoje. – sorriu e me deu um beijo calmo – o que acha de irmos para outro lugar essa noite?

- Anh, outro lugar? Eu não estou arrumada, eu.. pra onde? – apontei para meu vestido rosa claro e minhas sapatilhas. Meus cabelos soltos como sempre e um laço preto fazendo um penteado estilo princesa os seguravam no lugar. Ta, eu precisava mudar de estilo.

- É uma surpresa, e claro que está arrumada, você está sempre linda, Linda de qualquer maneira. – me pegou pela mão e arrastou para fora sem esperar resposta, ate uma moto alta, vermelha, franzi o cenho, mas já deveria adivinhar, já que você sempre amou coisas novas.

-Você tem uma moto? – olhei surpresa para a grandona estacionada.

-Ela soltou outra risada e me olhou daquele jeito, de quando queria descobrir todos os segredos de alguém. – Nós precisamos conversar mais Camz. Ande, suba – pegou dois capacetes e me entregou um, montando e ligando ela, me esperando.

Respirei fundo e subi, colocando o capacete e me segurando forte em sua cintura. Depois de alguns minutos chegamos a um lugar com muita grama, uma árvore grande, nenhuma iluminação, então as estrelas brilhavam com graça acima de nossas cabeças. Descemos e ela me levou mais a frente, o que me fez perceber ser uma colina, estávamos completamente a sós. Ela me virou e segurou minha cintura com as duas mãos, encostando a testa na minha e me encarando com aqueles olhos profundos disse:

- Eu quero te conhecer, Camila. Quero saber o que gosta de fazer, o que faz sempre, o que te faz enlouquecer e o que te deixa furiosa. Quero que seja minha garota, quero apreciar cada segundo do teu ser, porque você me encanta.

-Eu sorri e coloquei uma mão em seu rosto em uma caricia suave, a outra descansava em seu braço. – Lauren do planeta dos olhos verdes ataca você – sussurrei e ri, a puxando para um longo beijo.

Flashback off

Depois daquela noite, nada foi o mesmo. Começamos a nos encontrar sempre, trocamos números de celular, e endereços. Descobri que ela tinha um estúdio de fotografia, naquele mesmo dia ela sussurrou no meu ouvido que ela tinha visão para belas coisas, por isso eu estava na sua cama, no seu coração, e seria sua musa.

Ela me apresentou suas amigas, Dinah e Normani. Elas eram maravilhosas, animadas e surpreendentes, e eu apresentei minha amiga de infância a Ally. Elas se deram tão bem, e por um tempo éramos um grupo misturado e engraçado. Em uma quinta-feira você me chamou pra morar com você, eu estava assustada, confesso. Mas eu fui, como fiz tudo quando estava com você, sem medo. Foi tudo tão rápido como o nosso sentimento cresceu, você me fazia sentir única no mundo, e eu sempre falava o quanto você era especial e nunca teria outra igual na minha vida.

Percebi que você não gosta de acordar cedo, gosta de café forte, arruma suas roupas por cor, passa muito a mão na perna, quando ri bate palmas, ama repetir o que os outros dizem, e descobri que tem uma voz sexy quando canta, parece um anjo mexendo as mãos, com os olhos fechados, sem se importar com mais nada. Apenas a música dançando pela sua língua.

Agora eu percebo que nunca te apresentei aos meus pais, e você nunca falou sobre os seus. É um assunto que nunca tocávamos, apesar de você soltar palavras pequenas como saudades, distância e pais quando está bêbada. Eu também nunca insisti no assunto por saber que os meus não entenderiam, e era tudo um sonho para poder estragar com a realidade. Porém você não pensava assim.

Alguns meses depois você começou a sair sem falar para onde ia, e eu não questionei, porque você sempre precisou de espaço, e eu respeitei. Mas então você não apareceu no bar na quinta. E as garotas começaram a me olhar diferente, e perguntar por você, aquele dia me destroçou, pois de tão apegadas que eramos, as únicas palavras que saiam da minha boca eram "não sei".

Você deve ter visto a paixão entre nós esfriar, mas eu não notei isso, mesmo quando você recusava o meu café da manhã dizendo estar atrasada, ou quando disse que meu laço me deixava mais infantil, mesmo sendo uma mulher bem caprichosa. Você virou e disse que estava cansada quando beijei seu pescoço e apertei sua bunda, que era um claro convite para fazermos amor como loucas.

Eu também estava triste sabe? Era frustrante o quão rápido estávamos caindo. Entendi o significado do vem fácil, vai fácil. Mas achava que nos amávamos o suficiente para resolver, eu queria uma conversa séria, o que era obvio que seria difícil, pois você sempre gostou de jogos. Cartas, xadrez ou do coração, a estratégia de conquista te atraia. E no dia daquela conversa eu havia perdido o jogo, eu soube assim que ouvi suas palavras.

Flashback on

-Eu não te amo mais. – Bum. O primeiro tiro foi dado.

-Como você não...? Lauren, não faz assim. – segurei sua mão e senti meus olhos arderem.

-Olha camz, não faz isso mais difícil. Eu te amei muito, nunca foi mentira, mas eu não sinto mais aquilo. Eu, bem, Não dá mais para nós. – Eu te vi soltar minha mão e ir até a janela.

-Não foge de mim! Como assim? Não se deixa de amar alguém do nada, o que você ta dizendo? Isso não faz sentido! – Me levantei e fui até ela a virando.

- O que você quer que eu diga? Não posso dizer que amo, sem amar. Não tenho culpa dos meus sentimentos, foi ótimo o que tivemos, mas não dá mais.

-Podemos consertar, meu amor, podemos fazer isso. Não acabe conosco assim. – alisei seu rosto como naquele dia, mas hoje não tinha sorrisos, apenas lágrimas.

-Eu gosto de outra pessoa. – E pam. Minha alma estava morta.

Flashback off

Eu estava enfurecida, a olhei incrédula e peguei a mala que havia trazido meus pertences. Juntei cada coisa minha espalhada por aquela casa, cada lembrança, rasguei todas as fotos em que vi pela frente, fechei a mala e sai sem olhar para trás, batendo a porta. Mas de alguma forma eu sei que você nem ao menos tirou os olhos daquela janela.

Passou muito tempo pra eu conseguir superar aquilo, meu coração ainda dói quando lembro, já não uso mais laços e aqui com um whisky na minha mão, os olhos ardendo, te vejo saindo do mesmo bar com uma morena alta, magra e de sorriso solto. Soube que o seu nome é Lucy e faz você sair da rotina que tanto odeia. Talvez seja mesmo como li em algum lugar, o amor é um jogo perdido, e não sei se lembra depois de tantos meses querida, mas hoje é quinta-feira.

Love is a losing gameOnde histórias criam vida. Descubra agora