Capítulo 7

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CAPÍTULO SETE

Emilio observou, mais tarde naquela noite, Gisele descendo a escada em direção a ele. Ela estava usando um vestido cor-de-rosa simples, porém elegante, com um xale combinando. Tinha penteado os cabelos de um jeito que lhe davam um ar régio. Ele nunca a vira tão linda como quando ela lhe sorriu. Apesar de breve, o sorriso foi como o sol saindo de trás das nuvens. Emilio esquecera como ver aquele sorriso o fazia se sentir bem, parecendo preencher um lugar vazio em seu interior.

Era um grande passo levá-la ao evento daquela noi­te. Ele pensara em ir sozinho, como geralmente fazia. Poucas pessoas fora da instituição de caridade sabiam quão profundamente ele estava envolvido e por quê. Durante o último ano, Emilio tinha sentido a necessi­dade de parar de ignorar suas origens e fazer alguma coisa para ajudar outros a escaparem do inferno que ele escapara. Fizera isso com garra e determinação, mas percebera que outros nem sempre possuíam a confian­ça ou força de vontade para realizar o mesmo.

Oferecer um vislumbre de toda sua vida passada a Gisele seria desconfortável, mas esse era o preço que precisava pagar por querer fazer uma diferença. Sem­pre saía de tais eventos sentindo-se desconcertado, como se aquelas sombras do passado quisessem arras­tá-lo de volta para a sarjeta, deixando-o lá, com frio, tremendo e sozinho.

Emilio pegou a mão de Gisele quando ela desceu o último degrau e ergueu-a até encostar-se a sua boca, pressionando os lábios contra a pele suave.

— Você está deslumbrante — elogiou-o. — Cor-de-rosa combina com você.

Ela lhe deu outro sorriso breve.

— Obrigada.

Emilio pegou a caixa de jóia que deixara sobre a mesa do hall.

— Eu tenho alguma coisa para combinar com seu anel.

Gisele olhou para a caixa, então para ele.

— Você não deveria estar gastando tanto dinheiro.

— Eu tenho direito de mimar minha noiva, não tenho?

Ele abriu a caixa, e ela tocou um dedo no colar de diamantes e safiras sobre a cama de veludo.

— Eu não sou sua noiva de verdade — apontou ela. — Isso é só uma farsa para a imprensa.

— Nós poderíamos tornar o noivado real — disse Emilio.

Alguma coisa brilhou nos olhos azul-acinzentados, antes que ela se virasse, de modo que ele pudesse pôr o colar ao redor de seu pescoço.

— Você quer a velha Gisele de volta, mas ela não existe mais, Emilio. Não pode recuperá-la, por mais dinheiro que gaste.

Emilio tocou-lhe os ombros delgados depois que fe­chou o colar, inalando a fragrância de verão do perfume dela até que se sentisse inebriado. Sentiu a pele sedosa tremer sob seus dedos, como costumava acontecer no passado. Gostava de ainda ter esse efeito sobre Gisele. Gostava do jeito que aquele corpo deleitoso ainda rea­gia a ele, mesmo ela falando o contrário.

— A questão do dinheiro a preocupa? — Ele virou-a para que ela o encarasse. — O fato de que eu paguei para ter você de volta em minha vida?

Ela o fitou, a expressão pensativa.

— Não se trata de dinheiro, na verdade...

— Então, do que se trata?

Gisele baixou o olhar para a gravata dele.

— Você quer que tudo seja como era — murmurou ela. — Mas não tenho certeza de que a vida vem com um botão de "reiniciar". Você não pode querer retomar de onde paramos e esperar que as coisas sejam exatamente como eram antes. Situações mudam. Pessoas mudam... Eu mudei.

EscandaloOnde histórias criam vida. Descubra agora