Quem diabos é Marcos?

125 6 3
                                    

Você já imaginou como seria acordar em uma cama de hospital, sem parte da memória? Se tiver interessado, eu vou te contar.

Eu já tinha 25 anos quando acordei atordoado, a cabeça doendo, um Plug preso ao dedo indicador, uma agulha enfiada no braço, cânula no nariz, algumas ventosas ligadas ao meu peito e cabeça... Fiz logo questão de tirar tudo - Principalmente a agulha. Eu odeio agulhas - me levantei e a vista escureceu, cambaleei tonto, quase cai, mas segurei na cama. Aos poucos, ouvia um zunido que ia cada vez ficando mais alto à medida que minha visão ia clareado. Uma senhora entrou no quarto assustada e quando me viu de pé, um sorriso moldou seu rosto. Ela me abraçou - o que foi estranho porque eu estava usando somente um robe do hospital, ou seja, estava nú! - Quando finalmente me soltou, disse:

- Nossa, rapaz, você nos deu um susto! - Ela parecia me conhecer de verdade, por que enfermeiras não agem assim! Então, ela me entregou uma mochila junto com uma muda de roupas. - Vista-se. Eu vou ligar para sua família. Nossa, sua mãe vai ficar muito feliz em te ver!

Já vestido, eu sentei. Decidi esperar e olhar o que tinha dentro da mochila: Um Nintendo 3DS XL - eu nunca tinha visto ou ouvido falar naquele modelo de vídeo game - tinha um sketch book, um celular dourado - Provavelmente uma imitação, por que carregava uma maçã na parte traseira, mas não se parecia nada com meu iPhone 4G, a não ser pelo botão Home. - Dentre outras coisas; molho de chaves, camisinhas, etc. Aquela bolsa não era minha... Sai do quarto e procurei a enfermeira. Quando a vi, menos atordoado, eu reconheci. Ela era minha vizinha, que trabalhava no hospital de emergências da minha cidade. O que me fez perceber que talvez eu tivesse acordado de algo realmente muito grave...

- Sandra? - Eu disse. E ela me olhou sorrindo. - Acho que essa mochila não é minha... Você poderia por favor procurar o dono para devolver?

- Como assim André? Tenho certeza que essas coisas são suas. Já checou os documentos que estão aí dentro?

- Já olhei tudo. - Disse enquanto abria a mochila e pegava a carteira de dentro - Mas nada aqui me parece ser fam... - Parei no meio da sentença, por que as fotos eram mesmo minhas... de óculos, só que era eu mesmo estampado nelas... - me afastei, voltei pro quarto e fui revirar tudo que tinha na mochila.

No sketch book todos os desenhos eram assinados por mim. No vídeo game, uma versão remake de um dos jogos que joguei quando adolescente. O celular tinha uma senha que, ao tentar desbloquear, era a data do meu aniversário. Dando uma olhada no "rolo da câmera", as fotos mais recentes eram representadas por mim de óculos, usando meu crachá velho e surrado. Continuando, encontrei o documento de um carro, minha carteira com alguns reais, meus cartões de credito, habilitação, cento e trinta e oito dólares - não me perguntem porquê - e uma foto ¾ do meu irmãozinho mais novo. Tudo ali parecia ser meu... Mas o estranho, era que eu não lembrava de ter comprado nada daquilo. O celular era um modelo, ao que parecia, ser original, só que mais recente, o videogame também. O carro não era o modelo de carro que eu tinha, na verdade nunca tinha visto ou ouvido falar nele! Sem contar nos desenhos assinados por mim. Decidi ocupar o tempo jogando, esperando enquanto alguém viesse me buscar.

Depois de alguns minutos, minha mãe apareceu no quarto ofegante, cheia de olheiras, toda descabelada e me abraçou, com tanta força, que achei que precisaria ser internado novamente. Depois de cinco minutos, ela parou, olhou pra mim e com os olhos cheios de lágrimas disse:

- Eu te amo!

- Eu também! - Respondi sorrrindo.

Daí, ela me olhou estranho como se tivesse algo errado, mas me abraçou de novo e repetiu no meu ouvido.

- Eu te amo! - me olhou de novo com um sorriso diferente, como se estivesse esperando ouvir outra coisa, fez um bico, cerrou os olhos e levantou uma única sombrancelha e me fitou por dois segundos, então como que saindo de um transe, sacudiu a cabeça e falou - Bom, vamos embora. Eu não aguento mais esse hospital. Tinha acabado de chegar em casa quando a Sandra me ligou e disse pra eu voltar...

Fomos andando e mamãe me perguntando se eu tava bem, se minha cabeça doía, se eu sentia tontura, etc. Somente quando fiz um quatro com as pernas no meio do corredor do hospital, ela decidiu que eu me comportava "estupidamente bem" palavras dela.
Assinei uns papéis no hospital, agradeci a Sandra e fomos em direção ao estacionamento. Onde eu achei que teria alguém nos esperando em um táxi, ou algum familiar que servira de carona. Então minha mãe puxa a chave e destrava um carro novinho.

- Oi? - Eu-não-entendia-mais-nada... - Mãe, quem veio dirigindo esse carro? Aliás, melhor pergunta. De quem é esse carro?

- Que perguntas mais bobas André! Eu hein... Ainda não se acostumou com o fato de eu dirigir o carro do Marcos?

- Gente, é serio isso!? Só pode ser uma pegadinha.

- O que foi menino?

- JÁ PODEM SAIR PESSOAL! - Eu comecei a gritar - HA-HA-HA, MUITO ENGRAÇADO!

-André meu filho para, você está me envergonhando! - Ela entrava no carro enquanto falava e fazia gesto pra eu entrar também, porque já tinha algumas pessoas nos olhando.

- Tá bom mãe... - Eu entrei no carro, no banco do carona - Liga o carro aí, vamos embora - Eu sorri pra ela aguardando ela se confundir com os pedais, provando que era mesmo só uma brincadeira e que eu não estava ficando louco...

Mamãe botou o cinto de segurança, ligou o carro, puxou o retrovisor, retocou o batom, arrumou o retrovisor, baixou o freio de mão, passou a primeira marcha, ligou a seta dando sinal que ia sair, acelerou e foi saindo aos poucos, suavemente, olhando nos outros retrovisores para ver se não vinha algum carro. Muito cuidadosa e responsável. E, quando dei por mim, estávamos ouvindo Zezé de Camargo e Luciano a caminho de casa...

- Mãe...?

- Oi meu filho, está sentindo alguma coisa?

- Posso te perguntar uma coisa sem te assustar?

- Sim... - Ela respondeu, mas já parecia meio assustada. Deu sinal pra estacionar... Parou, puxou o freio de mão e continuou - O que você quer saber?

- Mãe, quanto tempo eu fiquei naquele hospital?

- Três dias...

- Três dias? - Eu falei comigo mesmo, repeti no mesmo tom umas duas vezes, e depois afirmei mais uma vez baixinho, tentando de convencer, então falei num tom normal - E que dia é hoje, digo, de que ano?

- 05 de Dezembro de 2014...

- 05 de Dezembro de 2014. - Peguei o celular no bolso e olhei a data, pra me certificar de que não era uma pegadinha. Ela estava certa. - Então, por que eu acordei com a sensação de que eu passei mais de três anos nesse hospital...? - Pensei tão alto que ela ouviu.

- Do que você está falando, André?

- Mãe, eu preciso saber exatamente tudo o que aconteceu... Como eu fui parar naquele quarto de hospital?

- Para de brincadeiras, André, agora você quem está me assustando...

- É serio, mãe, desde que eu abri a mochila no hospital que eu acho que está tudo errado, nada aqui parece familiar para mim, sabe... Eu acho que eu perdi parte da memoria. Ou isso, ou então eu tô preso em um universo paralelo. Ou pior... talvez eu fui abduzido, vítima de experimentos alienígenas, fizeram lavagem cerebral em mim e me jogaram em uma vala qualquer por aí...

- Hahaha... Ai ai, André, só você mesmo pra fazer graça em uma situação dessas! - Ela ligou o carro e deu sinal pra sair

- Mãe eu sei que eu viajei com essas paradas de ficção científica, mas eu realmente não me lembro de muita coisa... Como o fato da senhora dirigir, aliás, dirigir muito bem por sinal. - Ela virou a direção e eu vi... - Que aliança é essa? A propósito... Quem diabos é Marcos?

O Último CapítuloOnde histórias criam vida. Descubra agora