O homem da faca e a menina grande

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– Aqui, no quarto de número três, as gêmeas Sarah e Savanah e no cinco, Tobias e os companheiros Leo e Nicholas. – "sussurrou" Fanny, abrindo os quartos que ficavam na outra ponta do corredor. Sufoquei uma risada; Ela falava de um jeito tão ridículo! Se não me enganava, as meninas tinham quatro anos e os garotos, seis. Já até sabia o que ia rolar depois. "Merda, por que eu não poderia ser menor e mais bonitinha para me quererem?" Ouvi as portas sendo trancadas. "Isso, vão embora". Se eu estava com inveja? Mas é claro que não! Só achava que seria demasiado injusto alguém que estava lá havia tão pouco tempo ir logo embora enquanto os veteranos sofriam com a espera de uma adoção que nunca viria.

Mais uma vez o som das chaves, desta vez no sétimo quarto e também no nono. Acho que ambos os meninos e meninas tinham, coincidentemente, por volta de sete anos. O barulho das portas sendo trancadas, de novo. Elas seguiram para o onze, quarto de Alan, William, Liza e Lenina, que tinham nove anos e rapidamente visitaram o décimo terceiro, onde ficavam Emily e Amber, da mesma idade que os outros. Fanny e Alexandra estavam insanamente perto de meu quarto – eu estava ansiosa.

- No quinze, dormem Jessica, Clary, Holly e Joshua – anunciou Fanny, destrancando o quarto e evitava o meu. Como eu a odiava! Contei cada segundo até ouvir o tilintar das chaves novamente. Precisamente dois minutos e treze segundos depois, lá estavam elas duas: conseguia vislumbrar a sombra de seus sapatos por debaixo da fresta da porta. Fingi estar adormecida assim que ouvi meu nome. "Rosetta dorme sozinha no dezessete" Fanny falou simplesmente. Abriu a porta e então a luz do corredor veio a vazar em meu quartículo. Não sabia se Alex tinha feito aquilo com todas as outras crianças (é bem provável que sim, para não levantar suspeitas nem queimar meu filme), mas ela se sentou em minha cama e segurou minha mão. Ela murmurava alguma coisa no fundo da garganta, mas não consegui identificar se era uma oração, uma música ou simplesmente uma frase em código. Podia ouvir a estúpida da Fanny girar a chave no dedo, como se aquilo fosse importante. Eu conhecia aquele monstro do Lago Ness enrugado assustadoramente bem, se é isso que está pensando. Depois, Alex delicadamente soltou minha mão, e, pelo que ouvi, foi passear pelo quarto. O cloc-cloc de seu salto foi ficando cada vez mais distante.

– A menina parece adorável. Qual a idade dela? – Alexandra disse, em voz baixíssima.

– Tem 12 anos e é uma peste – respondeu Fanny, seca. – Pena que nunca vão levá-la daqui... – eu previra que iria dizer.

– O que disse? – Daddario podia está-la enfrentando ou apenas pedindo para que a diretora repetisse, mas sem, você sabe, querer provocá-la.

– Nada, minha flor – mentiu a velha enrugada, voltando a fechar meu quarto. Era um saco aquela mania de Fanny de chamar a todos de "flor". Argh aquilo me irritava pacas!

– Naquela ala estão os mais velhos. – podia ouvir sua voz desaparecendo, aos pouquinhos. Vá embora, velha coroca. Podia, novamente, até prever o que ela diria. "No quarto 2" ela abriria as portas "dormem Nico, Rob, Emma e Charlotte, que têm 16, 17 anos. E no 4, Amy, Ferny e Alexis, também com 16." Eles eram os mais velhos, mas isso não significava que estivessem lá há mais tempo. Alexis e Ferny, por exemplo, até onde sei, cuidavam um do outro e viviam de beco em beco até os acharem e trazerem-nos para cá em maio do ano passado. Emma e Amy são outra boa amostra disso. Elas vieram parar neste orfanato só depois de serem chutadas de vários outros, pois sempre as achavam velhas demais. Eu morria de medo que algo parecido acontecesse comigo com o passar dos anos.

Pelos meus cálculos, elas já deviam ter visitado os Aborrecentes, porque desciam a escadaria. Eu não consegui ouvir direito, mas Alex fazia alguns comentários sobre os órfãos visitados quando passou por minha porta. Ela falava muito baixo, para não acordar as crianças. Ah, nessas horas seria mais do que útil possuir um bisbilhoscópio de bolso como o dos gêmeos Weasley.

Nem Tudo Está PerdidoWhere stories live. Discover now