Capítulo 1 - O planejamento

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Desde a passagem comprada até eu estar no aeroporto, muitas coisas aconteceram.

Ao se planejar uma viagem, temos que levar muitos aspectos em conta, como o tempo de viagem e o dinheiro, por exemplo. Na época eu fazia faculdade e trabalhava como professora num curso de inglês há quase 2 anos. Eu sou impulsiva, confesso. Nenhuma pessoa em sã consciência decide, em 1 semana, que vai passar um mês fora do país. Mas eu tento racionalizar a minha impulsividade. Meus planos eram comprar a passagem com o dinheiro que estava guardado e no decorrer dos outros 10 meses, guardar mais da metade do meu salário. Era um plano bom. Eu sabia que seria um ano sem luxo e extravagancias, que seria bastante apertado.

Na faculdade, eu faltaria 1 mês de aula e no trabalho, eu tentaria ver alguém para me substituir nesse período. Também tive o cuidado de escolher uma época em que tivesse bastante feriados. Eu peguei os feriados de Nossa Senhora Aparecida, Finados e outros.

Bonita a explicação, não é? Que pessoa planejada eu sou.

Só que não.

Na verdade, a minha primeira alternativa era parcelar a passagem e levar o dinheiro que eu tinha guardado, mas não consegui nem aumentar o limite dos meus cartões e nem consegui alguém pra tirar para mim, o que foi ótimo!

A questão é que para o meu plano dar certo eu estava contando com vários fatores e um deles era o meu salário como professora de inglês. Eu não sei se vocês sabem, mas na maioria dos cursos de inglês, os instrutores ganham por hora/aula. Isso quer dizer que quanto mais turma um professor tem, mais aula ele vai dar e consequentemente, mais dinheiro vai ganhar. Não são rios de dinheiro, se acalmem, porém ganha um pouco a mais. E todos esses planos, eu estava contando que eu tivesse a mesma quantidade de turma do semestre anterior. O que não aconteceu.

Imaginem a cena: Eu, muito feliz porque tinha acabado de sair da loja da Emirates com minha passagem na mão, sabendo que em 10 meses eu estaria indo para a Coréia do Sul, que meus pais não poderiam arcar com essas despesas e que eu estava sozinha, chegando na reunião de início de semestre, onde o coordenador distribui as turmas e descobrindo que eu tinha ficado com apenas 3 turmas e que meu salário nos próximos meses iria variar entre 300 e 400 reais. Eu tinha uma viagem pra pagar e eu ia receber menos do que eu estava planejando economizar. Eu tive que dar um jeito nessa situação!

Eu já estava saturada de diversos problemas na unidade que eu estava trabalhando e com o corte de turmas, apenas juntou a fome com a vontade de comer. Comecei a distribuir currículos em todos os outros cursos de inglês na região, mas lembre-se que em 2016 estávamos em crise, quem contrataria?

Uma amiga da minha prima, era supervisora de recepção em um hotel na zona sul do Rio de Janeiro, ficou sabendo que eu estava procurando emprego e me indicou para uma vaga no mesmo hotel que ela trabalhava. Quando cheguei para a entrevista, o cara que me recebeu, mostrou o hotel e todas as atribuições que eu teria. Perguntou sobre minha experiência prévia, mas o que o clima indicava era que estava tudo certo.

Se lembra que sou impulsiva? Então. Cheguei na primeira semana de aula, já dizendo que iria começar em outro emprego e que ficaria apenas até me chamarem para assinar os papéis, o que não demoraria. Na semana seguinte, fui mandada embora do curso de inglês e a tal ligação para assinar os papéis, eu espero até hoje.

Então eu tinha uma passagem comprada, 9 meses e estava desempregada.

Nos 4 meses seguintes eu continuei nessa situação. As contas foram se acumulando, eu não conseguia um emprego e fazia o que podia para sobreviver. Meus pais me ajudaram no que podiam, pagavam as contas mais pesadas para não virar bola de neve, mas o restante continuava se acumulando. Eu sabia que eu tinha uma passagem que eu poderia vender e resolveria todos os meus problemas financeiros imediatos que eu estava tendo.  Eu poderia arranjar qualquer emprego e juntar o dinheiro? Poderia. Mas eu ainda tinha a faculdade, que era mais importante para mim. Eu tinha estipulado um final e não queria me atrasar mais e como ela é integral, um emprego que pagasse o suficiente para me manter, bateria com o horário do curso.

Foram meses difíceis, confesso. Deixei de sair com amigos por não ter dinheiro, vendia brigadeiro para ter alguma renda, mesmo que mínima e estava tudo indo de mal a pior. Com toda essa desanimação e a incerteza de que eu fosse realmente viajar, eu não planejava nada da viagem. Nenhum roteiro, nenhum hotel, mal conversava com as meninas da Coréia ou me envolvia em nada referente ao país. Primeiro porque já quase não me envolvia mesmo e segundo que eu não queria me dar esperanças. Se eu começasse a pesquisar e descobrir coisas incríveis e depois perceber que não conseguiria pagar e que teria que vender a passagem mesmo, seria um baque muito forte para mim. A passagem continuou guardada no fundo de uma gaveta como alguém guarda sua última esperança. Eu estava precisando de um milagre.

E o milagre aconteceu entre Junho e Julho. Eu consegui um emprego temporário nas Olimpíadas. Era tudo que eu tinha! Três meses de trabalho, com salário razoável. Os planos mudaram e para eu conseguir viajar, eu teria que trabalhar e não gastar nem um centavo do que eu recebesse.

Era um trabalho exaustivo. Principalmente quando a aulas voltaram e eu ia para Seropédica de manhã e a tarde tinha que estar na Barra da Tijuca. Se vocês conhecem o Rio de Janeiro, sabem que estou falando de algo com 3 horas de viagem todos os dias. Minha única folga na semana era para fazer os trabalhos e cuidar minimamente de mim. Eu sabia que não iria ser fácil, mas do que eu poderia reclamar? Eu estava fazendo o dinheiro que precisava para viajar.

No fim, tudo deu certo. Consegui juntar o suficiente para fazer uma viagem sem luxo, mas pra quem viveu um ano inteiro sem luxo, um mês a mais não faria diferença. Entre o final do trabalho e meu dia de embarque, eu tinha exatamente 2 semanas. Semanas estas, que eu tinha que montar um roteiro, comprar as coisas pré-viagem, reservar o hotel em Dubai, passagem para São Paulo, conversar com os professores como ficaria a minha situação no mês de ausência, fazer câmbio e outras milhões de coisas.

Foi um ano que se resumiu em 1 mês.

Foi um ano difícil, mas também inesquecível.

É engraçado que quando as pessoas veem as coisas prontas, elas não conseguem ver nem a ponta no iceberg de como foi para chegar lá.

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⏰ Última atualização: Dec 17, 2017 ⏰

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