1- O dia em que meu mundo virou de cabeça para baixo

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Algumas culturas acreditam que se encontrarmos uma joaninha, dessas de jardim,devemos contar o número de pintinhas que existem em suas asas, pois elasrepresentam o tempo que falta para que encontremos o amor.


Eu nunca consegui contar as pintinhas das asas desse pequeno besouro porque elesempre voava antes de eu terminar, mas, pelo número de sardas no meu rostosomado ao meu grande azar, imaginava que a minha pessoa não fosse aparecertão cedo. Ou, pelo menos, era isso que me parecia.


No dia em que meu mundo virou de cabeça para baixo, eu estava preocupada como futuro da minha vida de aluna do ensino médio. Eu estava no último ano e temianão conseguir terminar, ficar presa a ele para sempre devido uma matéria que era apedra no meu sapato.


— Desculpa o atraso — eu disse quando encontrei Guilherme e Bernardo na portada minha casa. Os dois sempre me esperavam porque minha casa era caminhopara a escola.


— Você sempre se atrasa — disse Bernardo.


Não pude argumentar contra aquela frase. Desde que havia colocado tranças noscabelos, o meu atraso tinha diminuído por causa da praticidade do meu novopenteado, mas, de qualquer forma, eu sempre acabava me atrasando.


— Não sei se você lembra, mas temos avaliação de História hoje. Você tem ocostume de tirar notas ruins, mas a gente não. Eu não quero correr o risco de ir malporque perdi tempo de prova te esperando — disse Guilherme.


— Desculpa, galera, desculpa — respondi cansada das reclamações e grosserias.Preferi andar alguns passos atrás, sozinha, até a escola.


História era uma matéria interessante para mim, mas era sempre uma dor decabeça memorizar todos os acontecimentos, datas e nomes. Eu achava matemáticae física muito mais simples. Minha memória era péssima e tanto Guilherme quantoBernardo estavam certos quanto a probabilidade de eu me prejudicar na avaliação.O tema envolvia mitologia greco romana e os milhões de deuses e semideusescujos nomes eu mal me recordava.


Como esperado, fiquei abaixo da média. Não me lembrar de quase nada, não tercomido antes de ir para aula e ter dormido pouco pois estava ansiosa com aavaliação não me ajudaram. Como uma tradicional canceriana com ascendente emtouro (sim, eu acreditava e ainda acredito nisso), eu estava profundamente triste esabia que só uma coisa poderia ajudar: coxinha de frango.


Naquele dia, porém, nem isso parecia funcionar. O colégio em que eu estudavatinha uma estrutura grande, cheio de salas do primeiro até o terceiro andar. Tudo oque eu precisava fazer era descer três lances de escada e ir em direção a cantina,onde a felicidade estaria me esperando. O problema foi ter cruzado o caminho comLuana.


Nós duas já havíamos saído escondidas algumas vezes, a pedido dela, para lugaresafastados onde podíamos ficar sozinhas sem dar satisfação a ninguém. Estar comela não era um problema para mim, mas era para ela. E Luana fez questão de fingirque não me conhecia quando começou a namorar um rapaz mais velho. Cada vezque eu a via nos corredores, ficava mais magoada com sua indiferença e apatia.


— Qual é a sua, Luana? — perguntei num impulso. Estávamos sozinhas entre asescadas, ela subindo e eu descendo.

Joana - Romance LésbicoOnde histórias criam vida. Descubra agora