Julian

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A cada segundo que eu passava sentada na sala de aula eu lembrava daquelas palavras, da minha casa no Queens pegando fogo, do Julius falando dos pesadelos. Eu não sabia mais como me concentrar na aula, provavelmente já estava de dependência em física e minha cabeça não estava boa. Era como se tudo tremesse toda vez que eu lembrasse, como se eu conseguisse sentir cada vibração do chão. O mundo parecia ter parado de rodar, guardei durante minha vida inteira uma coisa, nunca escrevi sobre isso, nunca contei a nenhuma melhor amiga, nunca me aproveitei, mas Julian sabia.
Julian sabia de tudo, provavelmente em poucos segundos poderia saber melhor de mim do que minha própria mãe, poderia dizer a todos que eu era louca, sentir a dor que eu sinto e poder provocar uma muito maior.
- Não pensa assim - Julian sentou ao meu lado, e provavelmente entrou na minha cabeça.
- Fica longe de mim, por favor. Não posso deixar você entrar. - Eu disse mostrando muita preocupação.
- Calma, eu não vou te machucar.. bom, não eu. Eu juro, tem gente no mundo querendo você pro mal, usar você pra fazer coisas ruins e não posso deixar. Alias, eu não sei seu nome.
Eu nunca digo nome pra ninguém, mas não consegui evitar, eu sinto ele dentro da minha pele as vezes com aquele olhar.
- O nome é Nina. - ainda assustada perguntei - Usaram você?
- Eu fui durante muito tempo usado, me obrigaram a fazer coisas que me arrependo, e quando descobri que eles queriam outro para acabar com tudo decidi fugir, mas não é daqui, nós não somos daqui. Eles queriam mais pessoas, eu deduzi que seria você. Nina, você não tem só um dom, você é muito mais forte que pensa. Existe um grupo que foi criado muito tempo atrás para causar o caos, eu fui desenvolvido e treinado para ser a desordem, mas nunca aceitei. - ele disse com os olhos nos meus.
O que? Quer dizer que existem coisas além de nós, num plano diferente? Minha mão tremia, eu conseguia sentir minha pupila dilatada, o suor caindo sobre minha nuca.
- Julian, eu não sei do que você está falando e realmente não quero saber, minha vida já está insuportavelmente complicada e basta, por favor some da minha cabeça, finge que isso nunca aconteceu.
Ele ficou pálido. Não insistiu, apenas fez uma expressão de desespero, levantou e saiu.
Durante as duas semanas seguintes eu não o vi mais, e a cada momento eu percebia que talvez toda aquela história que ele contou faria sentido, tudo que tenho aprimorado em meus sentidos nunca foi usado para o bem ou mal, sempre fui indiferente a eles, como se fosse uma caixa trancada no canto do meu ser.
Entretando ele tinha a chave certa para soltar tudo aquilo, no pouco tempo que conversamos eu tive vontade de encostar em todos, sentir o cheiro de tudo, saber tudo. A sede daquele poder, da vantagem que aquilo poderia me dar quase me consumiu. Percebi que tinha começado a usar quando em casa consegui sentir o cheiro do perfume da minha mãe de madrugada, ouvi cada passo e pensamento dela mesmo sem estar perto e sabia que ela não voltaria antes das seis da manhã.
Tenho dormido muito pouco, e quando durmo sonho com ele, tenho pesadelos terríveis com as consequências que eu poderia sofrer por não ter escutado e acreditado o que ele dizia. Minha perna ardia, meus braços também, queria tentar me matar mas era tão grande a dúvida que eu sentia, o desconhecido que ele assoprou na minha cara me fez pensar que eu poderia ter uma vida nova.
Algo completamente diferente.
No domingo, depois de duas semanas sem contato com ele meu telefone toca as quatro da manhã. Levantei muito tonta da cama e vi que era um numero desconhecido.
- Não quero saber quem é, mas não me liga mais essa hora - eu disse com uma voz de bêbada.
- Nina, é o Julian, me ajuda.
E desligou.

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⏰ Última atualização: Apr 13, 2017 ⏰

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