4. "Voltei dos mortos"

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   Conversar com minha mãe foi como se eu tivesse crescido sete anos sentado no sofá, descobri que ela tinha uma coleção de gatos que morava no celeiro e que um tinha meu nome, ela cuidava de algumas galinhas e ressaltou que havia uma em especial,...

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   Conversar com minha mãe foi como se eu tivesse crescido sete anos sentado no sofá, descobri que ela tinha uma coleção de gatos que morava no celeiro e que um tinha meu nome, ela cuidava de algumas galinhas e ressaltou que havia uma em especial, a galinha premiada chamada "Kun".
    Me preocupei muito com a saúde dela no começo, mas aparentemente ela estava mil vezes mais disposta que eu, me ofereceu muitos pedaços de bolo que Youngjae tinha feito. Me certifiquei que não estavam envenenados.

-Seu pai não veio?- foi uma das perguntas que ela mais me fez, e embora eu dissesse que não ela insistia em perguntar novamente.

-Não, ele tem muito trabalho na empresa, mas lamenta não ter vindo- eu bebi um pouco de café, encarando Youngjae na outra ponta do sofá que segurava um cachorrinho branco e ambos me encaravam com olhares mortíferos.

-Ah, certo então- minha mãe parecia um pouco triste com a notícia, mas não deixou de sorrir nenhuma vez- o que importa é que pude te ver de novo, com quantos anos está mesmo?

- Dezenove- sorri.

-Youngjae tem dezoito- ela olhou para o cidadão de cara fechada no canto- tenho certeza que vão voltar a serem muito amigos como eram antes.

-Ata- Youngjae colocou o cachorro no chão.

   A bola fofa de pelos rodeou minhas pernas, julgando cada parte das minhas "calças da cidade", eu poderia ver a hora em que os dentes atravessariam minha pele.
     Por sorte, Nora miou na gaiola de viagem e toda a atenção foi desviada para ela.

-Eu acho que preciso soltar ela um pouco- me levantei sem graça- tudo bem?

-Não, sou alergico- Youngjae se virou para minha mãe- vou pegar algumas cobertas e colocar no sofá pra ele, Sra.Lim.

-Posso dormir no meu quarto antigo.

   Ele virou o pescoço tão rápido que consegui ouvir um osso saindo do lugar.

-O que disse?

-Que posso dormir no meu quarto antigo- me levantei com a gaiola na mão- vou ficar feliz em rever ele.

-Youngjae está dormindo lá agora que está aqui- minha mãe dizia tomando café- mas vocês dividiram o mesmo colchão muitas vezes quando eram crianças, não vejo problema se dividirem de novo.

     Senti minha nuca sendo queimada pelo ódio de Youngjae, se eu me virasse seria pior, tinha a sensação de que ele me faria engolir a colher de pau a qualquer momento.

~

    Eu realmente não me lembrava de nada sobre minha infância, não lembrava dos desenhos de galinha que eu havia feito na parede do meu quarto (e que mais pareciam cachorros mutantes), também não me era muito claro quando eu abri um buraco no chão porque, segundo Youngjae, nós estávamos acampando dentro da casa e seria legal fazer uma fogueira.
   Mas mesmo tendo a memória bastante fraca eu reconheci que àquele era mesmo meu quarto e estava sendo muito bom reve-lo de novo. Ao menos os móveis não me jogaram colheres e grampeadores, como um certo alguém.

-Não está pensando que vamos dormir na mesma cama, não é?- perguntei a Youngjae que me levou até o quarto e se sentou na cama.

-Ah, com certeza não- ele pegou uma almofada xadrez e jogou no chão- vou preparar uma cama pra você no chão.

-Não se preocupe, eu vou dormir na MINHA cama.

    Enquanto eu abria a gaiola de Nora e a deixava andar por aí, senti que Youngjae estava prestes a me jogar alguma outra coisa por trás, quando olhei novamente para ele, se encontrava numa pose bastante peculiar, como se fosse um filósofo refletindo sobre o proprietário da cama, depois sobre Nora, e então sobre mim.

-Ah! Eu lembro disso- apontei para ele- faz essa cara quando alguma coisa não te agrada não é?… ou talvez esteja com dor de barriga.

-Não venha puxar saco, seu falso!- ele respondeu recolhendo a almofada do chão- faço essa cara quando estou bravo. Eu-vou-dormir-na-cama.

    Me contive para não estrangula-lo.

-Eu-tambem-vou-dormir-na-cama- disse, seguido de um mugido lá de fora.

   Nós nos olhamos querendo matar um o outro, mas a tentação de olhar pela janela me fez desviar o olhar. Acabei levando uma almofada na cara.
    Lá embaixo havia uma coisa esquisita, parecia um boi, mas ao mesmo tempo parecia um cachorro grande demais. Ao lado do boi (cachorro?) um garoto escovava o possível pelo dele.
    Youngjae olhou pela janela também.

-Aquilo é um boi?- perguntei, relevando meu nariz dolorido por causa da almofada.

-Não, é o Jackson.

    Ele acenou para o garoto loiro lá no quintal dos fundos e gritou:

-VOCÊ NÃO VAI ACREDITAR QUEM VOLTOU DOS MORTOS!

   Ouvimos outro mugido e o garoto respondeu.

-ESPERO QUE NÃO SEJA A DONA KANG! EU NÃO GOSTAVA DELA.

    Youngjae sorriu e berrou dizendo que desceria em breve.

-Voce devia ir arrumando suas coisas todas aqui no quarto- disse à mim depois da conversa, se dirigindo a porta- mas toma cuidado com a Coco, ela não gosta de gente nova e se deixar a porta aberta ela vai amar morder seus sapatos.

   Enquanto Youngjae ia embora, deu para ouvir minha mãe no andar de baixo dizendo para "Jackson tirar a Mimosa do quintal dela antes que a vaca comece as cenouras, então ela iria soltar os gatos para correr atrás dos dois".
    Olhei para Nora deitada na cama e, por um momento, nós pensamos igual.

⚪Windmill  - ♦2Jae♦Onde histórias criam vida. Descubra agora