A Duvida do Sabio

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Conta-se que ha certo tempo, um velho sábio construíra um templo em uma montanha um pouco afastada da cidade. La naquele local ele afirmou encontrar a paz necessária pra estudar, refletir e aprender sobre a vida e seus mais complexos aspectos. 
Apesar da aparente reclusão o velho sábio não tinha por intenção cortar laços com a sociedade comum, tanto que fazia questão de convidar todos, que tivessem vontade, a visita-lo, fazerem questionamentos e compartilhar diferentes visões e ideias.  Ele assumira como missão compartilhar tudo o que aprendia com qualquer um que fosse visita-lo.

Um dia, um homem angustiado com todos os dilemas que nos são familiares, procurou o velho sábio na montanha. Ele procurava quase que desesperadamente qualquer nova visão que o ajudasse a continuar na árdua batalha do dia a dia. 

Chegando no templo, foi recebido por outras pessoas que ali compartilhavam do espaço organizado pelo velho sábio da montanha. Explicando sua motivação de visita ele foi guiado até uma área onde o velho senhor se encontrava,aparentemente observando o movimento nos jardins do templo.

 Ao se encontrar com o velho senhor, o homem tratou de se apresentar bem como o porque de o ter procurado. Inicialmente ele se mostrou muito desesperado, e exausto de tudo o que o trouxera até ali. O velho tratou logo de convidar o homem a passar o dia com ele e descansar o tempo necessário.

No dia seguinte depois de ter observado a rotina daquele lugar, bem como tudo o que o velho senhor seguia fazendo naquele lugar calmo e afastado, o homem lhe pediu por mais um momento reservado onde ele pudesse lhe fazer uma ultima pergunta.
Sentados a porta do pequeno templo, ele lhe perguntou enfim:
- qual o sentido disso tudo?
O velho o observou por um momento, ciente de que ele continuaria suas indagações.
- quero dizer, porque continuamos a viver essa vida? Qual o sentido? Porque insistimos? Qual o sentido? Qual o motivo? - ele questionava expressando muita angustia e frustração, mas mais ainda, demonstrava profunda tristeza. - eu entendo o que você fez aqui, e entendo que nem todo mundo quer isso, ou pode fazer isso, mas e então? porque eu deveria continuar com qualquer coisa? não existe certo? Qual o sentido de tudo isso?
- Essa é uma questão difícil. Gostaria de lhe pedir um tempo pra pensar a respeito. - respondeu finalmente o velho senhor, de maneira calma mas bem séria.
O homem concordou acenando com a cabeça. Apos mais algum tempo de silencio, o homem ergueu-se, esboçou um sorriso e agradeceu a receptividade do velho senhor. O homem prometeu retornar na semana seguinte para conversarem novamente e obter sua resposta.
Apos se despedir dos outros poucos habitantes do local, o homem foi embora. De certa maneira aliviado, por expressar suas angustias e obter uma certa esperança de uma resposta.

Apos uma semana, cheia de altos e baixos, o homem logo estava de volta fazendo o caminho ate o templo na montanha. La ele repetiu o mesmo da semana anterior, ocupou um quarto, e acompanhou o velho senhor junto com os outros moradores, na rotina diária. Algumas seções de meditação, atividades de manutenção do local, e rodas de conversas. Ele passou a noite no local e como na primeira vez, ele aguardou até a manhã seguinte, e pediu um tempo reservado com o velho senhor, e mais uma vez sentados a porta do templo, eles conversaram um pouco antes do homem repetir sua indagação.

E o velho lhe respondeu

- ainda acho sua questão muito complexa, e você concorda que não posso dar algo simples e geral a você. Isso não agradaria a nenhum de nós.
- é verdade.
- me de mais uma semana, me deixe estudar mais um pouco e vamos refletir juntos pra ter algo que responda suas questões.

Mesmo que levemente contrariado,  o homem agradeceu, e foi embora, com um sentimento ainda parecido com a da primeira vez.

E o mesmo se sucedeu na semana seguinte, a semana atribulada, a viagem até aquele local afastado, as atividades, as conversas, os momentos de introspecção e novamente o momento reservado para o dialogo com o velho chefe daquele lugar. E novamente ele pediu por um pouco mais de tempo, o homem brincou com o velho o acusando de o querer ali apenas pela mão de obra extra. Seu coração não estava tão pesado como na primeira vez e com a promessa de uma resposta na semana seguinte ele foi embora relativamente animado, e com um compromisso agendado.
Tal sucessão de eventos se repetiu por mais diversas vezes, em alguns encontros o homem não foi tao aberto a aceitação da ausência de respostas concretas, e ainda questionou a própria auto exclusão do velho senhor. Em outros momentos eles riram juntos em longos diálogos sobre vários absurdos cotidianos que já haviam presenciado. Houveram ainda oportunidades que eles discutiram mais seriamente questões filosóficas e conceitos relacionados a vida e morte. Algumas vezes o fizeram em coletivo, outras em conversas reservadas, onde o homem lhe apresentava questões mais intimas. 

Tudo isso se sucedeu a ponto de ja ser uma rotina eles se reunirem horas antes do homem partir para simplesmente conversarem. E então o velho um dia lhe questionou:

- Qual o sentido de tudo isso?

O homem lhe sorriu como resposta, e os dois se encararam por algum tempo, e foram interrompidos por um dos outros moradores do local acompanhado de uma moça, que pedia para conhecer o "velho sábio". Os dois logo começaram as despedidas, e antes de ir embora o velho lhe perguntou mais uma vez baixinho - você encontrou o sentido de tudo isso? qual a razão?

E o homem se despediu falando em voz alta:

- Você quer que eu termine de reformar o telhado.

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