Capítulo 00

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Os Humanos são tolos. Sempre achei engraçado, ainda quando pequena, a popularidade da terminologia "Fada" quando pretendiam se referir a nós. Fada vem de "Fatum", que significa destino nas línguas antigas. Tal termo evoca um simbolismo imaginário e nada verificado com a realidade de  mulheres transcendentais com poderes místicos capazes de mudar os destinos dos homens. Não temos nenhum poder sobre o Destino além da Casa de Heguel, um ramo infeliz do Clã do Outono. Estes eram sacerdotes oráculos, cujos dons dos integrantes daquela família nunca foram capazes de alterar destino de ninguém, sequer de si mesmos, ainda que pudessem prever os liames do futuro. Eram infelizes porque todos da família estavam fadados ao gradual silêncio dos defuntos – que os deuses os guardem –, possuindo hoje uma única herdeira viva de seu legado. Infelizes porque todos eles previram suas próprias mortes décadas antes do acontecimento e porque não podiam, nem o mais determinado, nem o mais saudável, como um cavalo altivo e vigoroso, escapar ou alterar seus destinos fatais. É por isso que digo que a concepção humana do meu povo é, no mínimo, abstrata,  fetichista ou demasiadamente fantasiada.

Eu sou uma Elfa Alada, descendente dos Asas. Não dou presentes a princesas, não ajudo heróis em necessidade e não faço parte de contos, teatros ou óperas, a não ser se esteja como expectadora deles. Não obstante, os Humanos costumam dizer, embora jamais tenha escutado muito do que esse povo diz... costumam dizer que as Fadas são seres particulares, capazes de diminuir seu tamanho até o de um inseto e, nesse caso, seu corpo lhes é tão pequeno que não conseguem lidar com a grandeza das emoções normalmente. Uma fada só consegue sentir uma emoção por vez, sendo dominada pelo sentimento. Se imprudente, tomam ações e decisões  apenas segundo este. É estranho para mim pensar que as outras raças não sejam assim, mas parabenizo os Humanos na felicidade dessa afirmação popular. Seu único engano nesse caso é que tenham restringido tal condição aos nossos feitiços de encolhimento. Uma breve observação da realidade mostra que esse é o nosso costume e nossa identidade de ser do momento em que nascemos até a nossa morte. Portanto, a nomenclatura pode até ser condizente em termos relativamente impróprios.

Eu sou Emma Schneehertz, mas se quiser deixar claro que és uma criatura tola, chamai-me de Fada.

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