Desço do ônibus pela segunda vez hoje, estou indo em direção a minha casa . Começou quando eu estava lá sentada e quieta em meu lugar. "Eu deveria morrer hoje" é o primeiro pensamento que passa pela minha cabeça durante muitos dias quando eu acordo.
Estou andando pela rua passo a passo olho pro chão , minha cabeça está tão baixa que tenho a impressão de estar procurando algo. Talvez eu realmente esteja procurando, estou procurando respostas, afinal o que eu estou fazendo com a minha vida? O que fizeram com a minha vida?
Passo a passo estou pensando em suicídio, nada muito sério! É apenas uma vaga ideia, eu ainda não corro perigo. Olho pela rua o chão, as paredes, as árvores e vejo que não pertenço a aquele lugar tem muito tempo que não pertenço a nenhum lugar na verdade. Entro em casa, tiro meus sapatos, jogo minha bolsa de lado, arranco minha calça, desabotoou minha blusa e deito na minha cama. Eu não sinto nada, nem amor, nem tristeza, nem alegria, nem raiva. Absolutamente nada. Olho pro teto e ao redor do quarto, eu estou sozinha! Ninguém em casa além de mim e de meus fantasmas. Eu poderia ligar pra alguém.
Que tal aquela amiga que me convidou pra festa? Não . Ela deve estar ocupada com os preparativos e eu não quero incomoda-lá.
Que tal a Diane? Não. Ela vai dizer que não sabe lidar com esse tipo de situação e eu também não quero incomoda-lá.
A Caroline deve estar disponível! Não. Ela já está com muitos problemas e eu não quero incomoda-lá.
Não quero incomodar ninguém! Não importa o quanto de possibilidades eu tenha, vou voltar a está estaca zero! Acho que não irei conseguir e apesar de não sentir nada eu quero chorar, então vou deixando meu corpo amolecer aos poucos e as lágrimas jorrarem pra fora.
Eu deveria morrer hoje! Não é nenhum segredo de que hoje foi igual a ontem e tem sido igual desde que me lembro, o que eu enxergo é escuro, tão escuro que não vejo de onde partiu o inicio e nem mesmo onde será o fim a não ser que eu morra agora. Levanto me as pressas e me olho no espelho, é hora de acabar com isso. Acabar de vez com a incerteza, com a tristeza, com a culpa e com o meu imenso nada também. Penso que deveria deixar um bilhete mas nem eu entendo as minhas razões, como explicaria elas a alguém? Tudo que eu tenho a dizer é desculpas, desculpas por nada do que eu fiz ter funcionado, por ter desistido do tratamento, por ter deixado isso me conter por tanto tempo que agora não consigo me separar da dor sem morrer por que a nossa relação é simbiótica ela não vivi sem mim e pronto. Por isso ela vai me matar, por que eu quero viver sem ela.
Sei que teve muitas coisas que eu deveria ter dito e não disse, muito futuro pela frente que poderia ser vivido e muita gente que eu provavelmente vou machucar. Não quero que me odeiem, mas eles vão me odiar. Não quero que se sintam infelizes ou culpados, mas eles irão se sentir. E eu estou ciente por isso não vou me despedir pois no lugar deles eu não iria querer ver a minha cara.
Visto o meu melhor vestido. Ele é azul com pedras pretas no decote dos seios, coloco uma meia-calça e um salto pretos. Deixo o cabelo liso e escorrido como ele naturalmente é. Pros olhos colírio e um delineado impecável e pra boca um batom cor de rosa.
Passo pela a cozinha e deixo um bilhete pra garota com a qual eu divido o apartamento. "Fui dar uma volta, talvez não volte hoje não se preocupe."
Refaço o mesmo caminho com a mesma sensação, a diferença é que agora parece que eu tenho uma festa ou um evento pra ir. O evento da minha liberdade, mas não é nada parecido com uma festa é apenas um evento melancólico qualquer.
Meu ônibus chegou, eu subo. Me sento ao lado de uma senhora com mais ou menos 70 anos de idade.
_Boa tarde jovem, você está muito bonita! Está indo encontrar seu namorado? - Ela puxa assunto comigo.
_Obrigada. Eu não tenho namorado. - Digo e me viro pra janela, eu não queria conversar. Não queria que nada me interrompesse ou me fizesse mudar de ideia. Um processo muito mais doloroso viria após isto.
_O meu marido... _ Ela começou um discurso mas a está altura eu já não estava mais escutando.
Alguns eternos minutos se passaram e então finalmente eu cheguei ao meu destino. A aclamada ponte, uma escolha incomum para suicidas. Afogamento. A água tão azul em baixo dela, mas sei que eu não iria morrer da água, iria morrer da queda se eu corresse e saltasse talvez aqueles 100 metros fossem o suficiente pra eu morrer ao bater na água ou pelo menos ficar inconsciente.
Escolhi este método por que depois do impulso não teria volta e seria somente eu a morte e o fim. Caminhei até a beirada e olhei meus pés sobre ela. Eu deveria correr e pular? Só fechar os olhos e pular? Ou simplesmente me deixar cair? Não importava o método tinha que ser rápido. Antes que alguém pudesse aparecer e estragar tudo, meus planos. Ninguém poderia me estragar mais do que eu mesma. Coloquei minha bolsa no chão, fechei os olhos e abri meus braços pronta para abraçar o abismo.
_ O que está fazendo moça? O que está fazendo? - Um adolescente que deveria ter seus 17 anos me fitava preocupado quando olhei pra trás.
_Vá pra lá, você não tem que ver isto. - Respondi. - Não tem que me ver morrer...
_Não sabe que aquela grade estava lá no início por um motivo?
_Estavam abertas quando eu cheguei. - E pra mim isso foi um sinal.
_Quando eu passei estavam trancadas. - Respondeu.
_Então como veio pra cá? Também que se matar? Você é muito novo pra estar aqui.
_Eu pulei ela, vim tirar fotos. - Ele levantou uma câmera velha. - Não, pra que se matar? Viver é maravilhoso.
_Não pra todos, pra mim por exemplo é um inferno. - Aquilo era um insulto.
_Olha. Se quer se matar, vá em frente. Mas... Morra amanhã. E se as coisas forem tão ruins amanhã quanto foram hoje, morra depois de amanhã. E se mesmo assim for tão ruim quanto depois de amanhã, então você pode morrer depois de depois de amanhã! Se viver seus dias assim, tenho certeza que um dia bom vai chegar. E então, desse dia em diante, tenho certeza que finalmente você finalmente vai ficar feliz por não ter morrido. Por favor...
O Pedido daquele garoto era forte demais e ao mesmo tempo não fazia sentido, me afastei da beirada, sentei e abracei meus joelhos olhando pro distante horizonte.
E Então? Eu deveria pular?
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Clemente
RandomIana Petry chega cansada do trabalho, desabotoa sua blusa social e se deita na cama. É a terceira vez que chora hoje alias quando isso vai acabar?