Depois de tanto tempo sem gostar de alguém, confiar de novo seria um novo desafio para mim, mas se ele era o que eu queria, era um risco que eu tinha que correr, ele me dizia que me amava e eu acreditava, claro que com um pé atrás, a insegurança sempre foi minha maior aliada e isso tornava as coisas um pouco mais difíceis para mim. Com o decorrer dos dias, antes mesmo de nós darmos nosso primeiro beijo, surgiu um pedido de namoro, claro, da parte dele, o que me deixou bem feliz, geralmente as pessoas ficam durante muito tempo para depois pensar em relacionamento, o que desgasta bastante mas ajuda você a ter tempo de conhecer a pessoa, mas como a gente já é fora do padrão mesmo, pulamos etapas ou simplesmente voltamos para época mais civilizada em que o pedido de namoro vinha primeiro que o beijo.
O que eu não conhecia nele era a popularidade, sempre fui uma pessoa de poucos amigos e talvez muitos conhecidos, mas como essa era uma cidade nova para mim, eu podia contar nos dedos quem eu conhecia ali. No início achei normal ele ser assim, tinha uma boa aparência, não era muito alto, cabelos castanho escuro, um par de olhos que nossa, um castanho que na minha opinião superava até os mais belos olhos azuis, ele tinha cara de neném e todos reconheciam isso, fora as diversas qualidades que só ele tinha, era aceitável que chamasse a atenção por onde passasse e que sendo assim teria bastante conhecidos, apesar de eu saber que entre tantas pessoas ele escolheu a mim para participar dá sua vida diariamente, confesso que sentia bastante ciúmes e insegurança mas ele sempre tentava me passar segurança.
Como ninguém é perfeito, ele também não era, as vezes tinha umas brincadeiras bobas com alguns amigos e eu não curtia muito, ele era mais novo que eu então era aceitável que algumas atitudes não fossem do meu agrado, mas como sabia que isso era fase como eu também tive a minha, eu relevava. Algo que ele considerava um defeito era não saber exatamente se ele era realmente um menino trans ou só uma menina confusa, talvez pela pouca idade ainda não soubesse o que era certo para si, e para que não houvesse futuros arrependimentos, ele preferia ter apenas uma aparência masculina mas não se rotulava nada, na verdade, se confundia bastante ao falar sobre isso, o que realmente importa para mim é que ficarei com ele independente se for "ele" ou "ela" e já deixei isso bem claro diversas vezes.
O namoro ia bem, se víamos algumas vezes, e conversávamos sempre, nunca tivemos nenhum desentendimento, nosso modo de pensar era praticamente igual e sendo assim brigas desnecessárias foram evitadas diversas vezes. Certo dia íamos nos encontrar, mas ele me disse que uma amiga e o irmão dele me buscariam, gelei, conhecer meu cunhado tão rápido assim? Passou um turbilhão de coisas em minha cabeça, mas seria uma experiência nova e sempre estive disposta a novas experiências. Quando encontrei o irmão dele não vi muitas semelhanças entre os dois, pareciam mais dois amigos, fomos para o condomínio deles, e bom, acabei descobrindo que ele na verdade nunca assumiu o que era na real, apesar de ter assumido uma aparência masculina, dizia que era apenas estilo próprio, não pudemos ficar juntos ali, o que me intrigou bastante pois nunca tinha passado por isso, apesar de eu também não ser assumida para minha mãe, foi algo bem diferente, confesso, fingir que eu era amiga quando na verdade eu era namorada.
Nosso primeiro beijo foi em um banheiro, sim cara, um banheiro, mas tudo bem, foi bom mesmo assim, mesmo algumas vezes ele me dizendo que parecia que eu sentia nojo de beijar ele, na verdade era receio do irmão dele dar por nossa falta. Passamos mais alguns minutos com as amigas dele e logo após isso, ele e o irmão dele me deixou no meu trabalho, todas minhas amigas viram e ficaram eufóricas perguntando quem é e ficaram surpresas ao saber que eu estava namorando, logo eu, tão desapegada, ali, apaixonada, domada. Ficaram felizes por mim, outras nem tanto, até porque ali também tinha pessoas com quem eu havia tentado algo e havia falhado no meu conceito de ser alguém amável, mas pouco me importava, eu estava feliz e cada vez mais segura, pelo simples fato de alguns amigos dele que eu conheci me dizer que ele era uma pessoa difícil de lidar pra relacionamento e que por isso preferia ficar solteiro e eu estava ali, firme e forte com ele, aquilo me dava a certeza de que não era só algo em vão, perca de tempo.
Descobri que se ele jurava pelo teatro, então era verdade, aquilo é uma das coisas que ele mais amava na vida, era um menino sonhador, adorava atuar, o que o tornava um pouco sínico as vezes, e confesso que algumas vezes achei que ele estava só atuando na minha vida, como em uma peça de teatro, e quando as cortinas fechassem, todo aquele sonho acabaria, como num teatro quando a peça que você está curtindo muito, acaba. Consegui superar meus medos e me apaixonar novamente, o que me tornou mais confiante em relação a mim mesma, apesar da pouca idade que ele tem, a cada dia que passa eu aprendo algo novo com ele, e passo para ele tudo que eu aprendi, para que não cometa os mesmos erros, apesar de eu falar bastante, as vezes ele não me dá ouvidos, quer ter suas próprias experiências e isso não o torna uma pessoa rebelde por não me ouvir, isso torna ele a pessoa que eu mais admiro, depois da minha mãe, claro.
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O garoto do teatro
Non-Fiction"Eu não amo você, eu amo a sensação que você causa em mim." Estaria mesmo certo esse modo de ver um romance? Como algo supérfluo, sem utilidade e até sem valor moral.. Acompanhe essa história e de fato veja como até as nossas maiores certezas podem...