Capítulo Bônus

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Algo estava errado, ele sentia isso no ar. Quando Harry e Malfoy voaram na direção do salgueiro e não voltaram ele teve um mal pressentimento.
- Não, não, não pode ser. – Ele repetia como um mantra enquanto corria em direção a árvore, logo os outros professores, principalmente Severus, começariam a se preocupar com a demora dos meninos e se de alguma forma Sirius estivesse envolvido ele jamais teria a chance de falar com o homem.
As marcas de sangue pelo chão não eram um bom presságio e muito pior era o cheiro de morte impregnado naquele lugar. Como ele odiava aquele lugar, tão cheio de lembranças dolorosas e prometendo acrescentar mais uma.
- ... tenho algumas contas para acertar. – A voz era quebradiça, mas Remus a reconheceria em qualquer lugar.
Quando ele entrou no quarto a cena era aterradora, um homem esquelético e maltrapilho apontava a varinha na direção de Rony Weasley, o rapaz estava sangrando e seu rosto parecia meio verde.
- Expelliarmus. – Bradou Remus sem pensar, a varinha na mão do homem voando para sua mão no mesmo momento em que os olhos acinzentados de Sirius se prendiam nos seus. – Sabia que usaria esta passagem eventualmente.
- Não pude deixar de me sentir nostálgico. – Seu sorriso era doente, seus dentes estavam sujos assim como todo o resto dele, mas seus olhos ainda brilhavam jovialmente como da última vez que os viu. É claro que havia um novo tipo de dor nadando na superfície cinzenta, mas o brilho maroto ainda estava ali.
- Você não vai machucar o Harry, Sirius, eu não vou permitir. Mesmo que eu precise matá-lo.
- Vai me matar Remus?! Você? Acho que não poderia. – O homem estava certo, se há uma pessoa no mundo que ele não conseguiria matar era Sirius Black.
- Me tente e verá. – Mentiu o professor, tentando com todas as forças não parecer assustado ou preocupado.
- Professor, prenda eles, enfeitice os três! – Gritou Rony de seu canto esquecido no chão sujo. – Estão mancomunados para matar Dumbledore.
A risada de Sirius só o deixou ainda mais confuso, e ao olhar ao redor ele percebeu que Harry e Malfoy encaravam o ruivo com a mesma confusão em seus rostos.
- E quem te disse isso, pirralho? Por acaso foi esse rato imundo que está no seu colo?
Só então o professor enxergou a criatura suja que Rony apertava nervosamente em suas mãos, seu coração parou, aquilo não poderia ser verdade. Algo estava completamente errado ali.
- Não pode ser. Ele está morto, você o matou. – O professor de Defesa encarou Rony abismado, certo de que tudo aquilo não passava de algum tipo maldoso de alucinação.
- Não matei. O desgraçado armou para mim quando viu que seu plano tinha dado errado.
- Mas, a explosão... todos aqueles trouxas... eles acharam um dedo dele no meio dos outros corpos... – Disse Lupin como se houvesse esquecido completamente da presença dos outros naquele quarto.
- Foi ele. O maldito cortou o próprio dedo para simular sua morte e tem vivido nesta forma por todos esses anos.
Remus sabia que os outros estavam dizendo algo, ouvia suas vozes como sussurros distantes, mas não conseguia compreender nenhuma delas, eles poderiam estar falando em um dialeto totalmente diferente e ele sequer perceberia.
Aquele rato imundo nas mãos de Rony era Peter. Ele estava ali, ele estava vivo, talvez houvesse uma explicação para os atos de Black, talvez estivessem todos errados, talvez ele pudesse ter o amigo de volta.
- Me mostre. Me mostre o rosto do maldito que traiu meus pais. – A voz de Harry o trouxe de volta à consciência, ele ficou confuso por meio segundo até entender que o rapaz queria que ele forçasse Peter a sua verdadeira forma, e usando um feitiço silencioso foi o que ele fez.
O rato foi pego no meio de sua fuga desesperado e um homem apareceu em seu lugar, ele estava nojento, sujo, e definitivamente muito mais velho, mas ainda assim Lupin não tinha qualquer dúvida, aquele era Peter Pettigrew, ele não estava morto afinal.
- Remus, não acredite nele. Você sabe como eu amava James e Lily, nunca os trairia. – Lamentou-se o asqueroso homem focando os olhos nos do professor – Foi Sirius, ele sempre teve inveja do James, sempre desejou a Lilian... tive que me esconder Remus, eles teriam me matado.
Era mentira, Remus sabia que era mentira, ele sempre soube que Sirius não poderia ter feito aquilo, que precisava haver outra explicação e de alguma forma ali estava ela, seja lá qual fosse a verdade Pettigrew sabia e logo ele saberia também.
- Eu vou te matar seu rato traiçoeiro e desgraçado.
Por reflexo Remus ergueu a varinha na direção de Sirius, vendo pelo canto do olho o outro se posicionar para atacar o homem menor.
- Black diz a verdade. – A voz de Harry lhe tirou a concentração, assim como suas palavras.
Remus pensou, pensou no quanto desejava acreditar naquilo, mas então lembrou-se de Severus, o homem tinha visto Black se postar diante de Lorde Voldemort e revelar onde Lilian e James estavam, como poderiam ambas as coisas ser verdade? Como ele poderia acreditar em Severus e em Sirius ao mesmo tempo? Ele estava confuso, mais confuso do que ficou em anos.
- Harry, alguém em quem tenho imensa confiança viu ele dizer a Voldemort onde você estava naquela noite.
- E essa pessoa está certa. Black foi até Voldemort, para avisá-lo do que iria acontecer, da armação da qual Pettigrew participou. Foi até Voldemort para que ele pudesse impedir que acontecesse o que aconteceu.
- Harry, o que você está... – Um impulso em seu braço o interrompeu e antes do homem expressar qualquer reação percebeu a varinha de Sirius ser roubada de sua mão e apontada para seu rosto.
- Vocês vão me deixar sair agora. – Grasnou Peter, Remus apontava a varinha para o homem, poderia abatê-lo com facilidade, mas não sem arriscar os outros naquele aposento, pelo que ele tinha percebido era o único ali que tinha uma varinha. - Esse menino perdeu muito sangue e se vocês não pararem de falar agora e me deixarem ir, ele vai morrer.
Rony gritou quando Peter pisou maldosamente em sua perna ferida. Remus ficou sem reação, não poderia deixar o homem escapar, ele tinha as respostas que precisava tão desesperadamente, mas também não podia ficar ali por muito tempo. O ruivo parecia cada vez mais pálido e doentio e ele podia ver que dessa vez Pettigrew falava a verdade, o garoto poderia morrer.
- Você não sai daqui vivo seu rato imundo. – Cuspiu Sirius.
- Então você vai ser culpado pela morte do garoto Weasley... e a família já perdeu tanto.
- Mesmo que deixemos você sair, não conseguirá sair dos terrenos da escola, há dementadores ao redor de todo o terreno. – Disse Harry, o menino na verdade parecia muito pouco preocupado o que surpreendeu Remus, mas ele não tinha tempo no momento para analisar aquele fato.
O homem rato riu com gosto e então encarou o moreno sem desviar a varinha de Remus.
- Já estamos fora da escola seu pirralho inútil. Querido Remus nunca contou ao filhinho de James, as coisas interessantes que fazíamos na Casa dos Gritos?!
A tensão no ar era quase sólida, Harry e Malfoy sussurravam algo no canto, Sirius arreganhou os dentes na direção de Peter, como se qualquer movimento brusco do homem fosse fazê-lo atacar como um cão raivoso.
Um tremor na casa o distraiu, a magia do lugar ondulou levemente e ele percebeu que alguém mais havia simplesmente aparatado ali. Ele torceu para que Severus de alguma forma o tivesse localizado, ou talvez o diretor, mas ele sem dúvida não estava preparado para quem apareceu.
- Que reunião interessante temos aqui. – Lorde Voldemort acabava de irromper pela porta.
Remus o encarou de olhos arregalados. Aquele homem estava morto, ele sabia disso, mas até poucos minutos ele também sabia que Sirius tinha matado Peter, e então ele percebeu que ele simplesmente não sabia mais em quê acreditar.
- Meu senhor. – Lamuriou Peter, jogando-se no chão e se arrastando submissamente em direção ao Lorde, mas esse sequer lhe dispensava um olhar, seus olhos cor de rubi estava presos em Harry, e um arrepio de medo correu o corpo de Remus quando a criatura sibilou para o moreno, como uma cobra.
Mas o que mais lhe confundiu e assustou foi o fato de que Harry simplesmente respondeu na mesma língua. Os dois ofidioglotas pareceram conversar calmamente, e Harry até mesmo parecia conter um sorriso divertido, de repente Voldemort tirou algo como um cordão de dentro de seu manto negro e arremessou para Harry que rapidamente o apanhou, os dois ainda falaram mais alguma coisa, mas então o rapaz se abaixou segurando o ombro de Rony, que àquela altura já estava desacordado e com a outra mão segurando a de Draco Malfoy os dois adolescentes desapareceram.
- Acho que podemos conversar como adultos agora. – Disse Voldemort como se eles fossem conhecidos casuais que acabavam de se reencontrar.
- Você deveria estar morto. – Bradou Remus dando um passo à frente sem se importar com o perigo. – Harry matou você.
- De fato ele o fez e eu ainda espero um pedido de desculpas por isso. – Ironizou o homem com sua voz sibilada e então com um sorriso de escárnio ele encarou o homem ainda de joelho a seus pés. – Rabicho.
Remus e Sirius encararam o bruxo enquanto ele se levantava, o medo estampado em seu rosto.
- Meu Senhor. Como estou feliz de vê-lo vivo. – Mentiu o homem e Voldemort sorriu com sua boca sem lábios.
- Posso dizer o mesmo. Mas tenho certeza de que há alguém aqui muito mais interessado em sua vida do que eu nesse momento. Você vai ter muito o que explicar a seus amigos, Rabicho.
- Eles não são meus amigos meus Senhor. São um traidor de sangue e um lobisomem nojento.
- Ora, seu... – Disse Black se aproximando raivosamente de Peter, mas Voldemort ergueu a mão indicando que ele deveria parar.
- Você terá seu tempo Black. Ele será todo seu quando sairmos daqui, mas não temos muito tempo agora, talvez você queira explicar a Remus Lupin o que está acontecendo antes que ele saia daqui direto para o escritório de Dumbledore.
- Aquele velho...- Cuspiu Sirius antes de olhar para Remus. – Ele é um traidor Remus, um maldito traidor de duas caras...
- Estou vendo. – Respondeu o professor encarando Peter raivosamente.
- Não ele. Dumbledore. Tudo isso é culpa de Dumbledore.
- O que você está dizendo Sirius? O que é culpa de Dumbledore?
- Tudo. Minha prisão, a morte de Lilian e James, a quase morte de Harry.
- O que você fez com a cabeça dele? – Perguntou Remus olhando para a figura aterrorizante de Voldemort que agora estava se concentrando em rodar um rato dentro de uma bola de magia, o professor sequer tinha percebido aquilo acontecer.
- A única coisa que fiz com Black foi libertá-lo de Azkaban, todo o resto não tem nada a ver comigo...
- Não foi este bastardo que destruiu minha vida e me mandou para prisão Remus. Foi Dumbledore, aquele velho desgraçado, mentiroso e manipulador. Nós erramos em confiar nele Remus, esse erro custou a vida de Lilian e James.
Remus então se lembrou de todas as vezes que Severus disse a ele para não confiar em Dumbledore. A verdade é que Severus dizia que ele não deveria confiar em ninguém, mas ele parecia ter mais do que um pé atrás com o diretor, embora ele escondesse suas emoções e desconfianças perfeitamente diante do mesmo.
- Remus acredite em mim, você me conhece. Eu nunca machucaria nossos amigos. James era meu irmão, era minha verdadeira família...
- Como eu posso acreditar em você?! – Disse o homem quase em um sussurro.
- Apenas pense: onde Black estava na noite em que ele me procurou, onde ele tinha ido? – Perguntou Voldemort, eles não tinham tempo, ele precisava consertar as coisas, logo os outros professores começariam a procurar pelos adolescentes.
- Ele tinha vindo a Hogwarts. – Lembrou-se Remus. – Tinha recebido uma informação sobre seus planos e queria contar a Dumbledore...
- Ele descobriu que eu não atacaria os Potter.
- Nada disso faz sentido. – Disse Lupin sentindo sua cabeça doer.
- Pense, como Rabicho poderia acabar nas mãos da família Weasley?! – Perguntou Sirius se aproximando do amigo. – Voldemort não poderia colocá-lo lá, ele já estava morto...
- Ele pode ter ido até lá sozinho.
- E como Dumbledore nunca o reconheceu em todos esses anos?! Dumbledore que sempre sabia de tudo? Como ele nunca percebeu? Pergunte a um Weasley, qualquer um deles? Pergunte onde eles conseguiram esse rato? – Insistiu Sirius.
- Se você quer saber a verdade Lupin, toda a verdade, eu posso mostrá-la a você, mas para isso você precisará voltar à escola agora e fingir que nada aconteceu. Saia com os outros em busca de Harry...
- Onde o Harry está, o que você fez com ele? – Perguntou o professor outra vez mergulhado em preocupação.
- Ele estará de volta em menos de uma hora, assim como Malfoy e Weasley. Encontre-os na Floresta Proibida, eles estarão lá. – Disse Voldemort. – Essas são suas opções... volte ao castelo e finja que nada aconteceu até que eu possa lhe mostrar toda a verdade ou morra aqui esta noite...
- Você não vai matá-lo. – Disse Sirius se colocando À frente do homem, Voldemort revirou os olhos.
- Só estou perdendo todo esse tempo com você porque você tem informações que eu quero e Lupin só continua vivo porque Harry pediu, mas não force tanto assim minha paciência...
- Harry pediu a você?! – Perguntou Remus confuso, não só pelo uso do primeiro nome do menino, mas também pela consideração na voz sibilada do homem enquanto falava.
- Sim, pediu. Então não me faça desapontá-lo, aceite minha oferta. Você só tem a ganhar...
- Eu aceito. – Disse o homem surpreendendo até a si mesmo, ele não conseguiria viver com aquela dúvida e aparentemente essa era sua única chance de realmente sobreviver àquele encontro.
- Você entende é claro, que eu preciso de um juramento bruxo. Não posso me dar ao luxo de simplesmente confiar em suas palavras.
O juramento foi feito e alguns minutos depois Remus se encontrava sozinho e confuso dentro da Casa dos Gritos. Ele respirou fundo, tentando se convencer de que aquela tinha sido a escolha mais inteligente, que ele finalmente teria as respostas que tanto quis, e quem sabe teria o amigo de volta.

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