A primeira morte ?

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  • Dedicado a Binho Cultura
                                    

Sinto seu coração pulsar devagar . As veias entupidas de gordura e sangue , a flecha alojada no peito . E os gritos agudos de dor ainda emaranhados em meio à voz . Mestre Cinzento ainda tinha os queixos múltiplos empapados de sangue enquanto o rosto era apalpado pelos leves ventos úmidos de verão .A coluna contorcida e a boca rachada variava em tons de roxo .Os olhos eram negros e submersos caídos em meio ao dia . Minhas mãos fracas praguejam e se enterram nos meus cabelos prateados e negros . A espada ainda cintilava com os leves fios de luz do salão , meus olhos se reviram e fitam Jen enquanto os urros do Mestre ressoam e arranham as paredes . Devagar e dolorosamente ergo meu corpo perfurado por algumas flechas . Minhas veias latejam devagar e meus ombros se comprimem até uma pontada severa me atingir e algumas feridas se abrirem novamente . O sangue jorra por entre elas , agora abertas e um grito sufocante é cuspido de minha garganta . Ainda me lembro das flechas caindo .As centelhas prateadas e brilhantes fazendo os outros se sufocarem no próprio sangue . Minha respiração soa pesada . Me ergo aos pedaços do chão frio e pressiono as pilastras com as mãos rígidas e pesadas . As faixas enroladas no meu corpo estão suadas e pesadas , o breu escorrega pelos meus olhos e os pinta da própria escuridão . A ponta cintilante da flecha está em minhas mãos , brilhando e enfeitada de sangue . Minha testa suada e quente esbarra em algo duro e meus pés vagueiam em pleno oceano frio e sólido , o chão , minhas mãos passeiam pelos braços marcados . Sinto uma ruga se formar em meio as sobrancelhas e meus músculos murcharem e se desfazerem . Um baque surdo até que uma inundação de luz invade as estreitas portas de madeira velha e podre . Recosto-me sobre ela e sinto os leves ventos rodopiarem entre as botas de couro . Seus braços me envolvem , finos braços brancos e leves que se agarram entre as feridas e a carne . Os cabelos louros caem em meu manto e nas faixas e seus olhos triste me fitam de perto . Mantenho-a perto de mim , quando entrelaço seus dedos nos meus um riso brota de meus lábios e logo se transforma em uma careta . Ela me ajuda a andar e empurra a porta até fazer um som estéril e vazio .

Um criada negra faz uma reverência audaz e para diante mim . Não queria ouvir , mas já sabia .

-Meu senhor . - disse a criada - Mestre Cinzento está com os deuses agora . 

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